O meu dia-a-dia, nos tempos de menino e nos anos de adolescente, era pachorrento, os fatos e os gestos se sucediam com a lentidão própria da época – nas décadas de cinqüenta e de sessenta – sem a pressa de hoje. Tinha hora pra tudo. Para acordar e tomar café, para chegar em casa e almoçar, para cear e jantar. Na atualidade as pessoas não têm hora mais para nada, sentam-se à mesa em momentos diferentes, servem-se e saem às carreiras. Dormem pouco e se atormentam com os compromissos, aqueles que foram cumpridos e os demais, não inteiramente superados. O comprimido que fecha a pálpebra é o mesmo que dificulta o raciocínio e atrapalha os negócios. A meninada só ia pra cama depois de ouvir Jerônimo–O Herói do Sertão e de comentar os diálogos de Aninha com o Moleque Sacy. Que beleza! Tudo tão inocente! Tudo tão puro!
Na saleta, onde os meninos faziam as refeições, ficava a petisqueira, na qual costumava-se guardar os alimentos, sobretudo as frutas, quase que diariamente compradas na porta de casa. Os talheres, também, incluindo as colheres de pau e a louça; a louça boa, nova e a louça velha, usada de anos. Aqueles pratos e aquelas terrinas com o nome de meu bisavô tinham uma origem respeitosa, vieram da Inglaterra, disso ninguém se apercebeu melhor e muita coisa quebrou-se. Havia uma posição à mesa que recebia uma rajada de vento nos meses de inverno. Minha mãe não descuidava: “Menino! Cuidado com o vento encanado!” E esse vento encanado ainda hoje assusta gente! Descansado o almoço, era facultada a qualquer das crianças tomar um banho, desde que com todas as portas dos quartos fechadas para evitar o maldito do vento.
E o tempo passou, maltratando a gente!
(*) Uma homenagem do autor ao mês de julho, o mês dos ventos.