Vamos e venhamos, amigo leitor, quando escrevo sobre superstições e crenças e acrescento alguns costumes, tenho sempre em minha caixa de entrada vários e-mails, que me trazem alguns acréscimos. Isso para mim é ótimo, porque me dá panos pras mangas, de cuja frase eu sei o sentido, mas não a origem e numa volta rápida pela Internet não a encontro. O que me facilita o ato de escrever, de juntar palavras, formar frases e habilitar o texto, dando-o como pronto. Lembrei até de um certo restaurante em hospital judaico, com a inscrição: “Não junte a carne ao leite”. Por sem-vergonhice, pedi um filé a parmegiana. Ao que a jovem e simpática garçonete disse: “Não se fala nisso aqui!”.
Uma professora ilustre, de sangue judaico em suas veias e em suas convicções religiosas e filosóficas, envia algumas coisas interessantes. Mas cita outro professor, seu colega, como autor do texto. Explica que num impasse diplomático entre Portugal e Espanha, provocado pelo temível e ao mesmo tempo terrível Torquemada, o feroz inquisidor espanhol, o Rei decidiu convidar os judeus ao caís, com a promessa de uma viagem à Terra Santa. Ao mesmo tempo, convocou frades portugueses e seus vasos de água benta. Resultado, os judeus não embarcaram e foram todos batizados. Ficaram a ver navios, como hoje ficam os que se frustram em seus desejos. Esse foi o Batismo de Pé, que a tantos e contra a vontade de tantos, também, produziu cristãos e mais cristãos.
Fala, de igual forma, do grande pão-durismo mineiro – talvez de outras partes do Brasil. É que sendo os judeus, agora postos na condição de cristão-novos, obrigados a se abster de iguarias próprias de suas práticas ou de seus cardápios, costumava a família sentar-se à mesa com um detalhe. A mesa tinha gavetas em cada um dos lugares e quando se aproximavam penitentes de outros credos, trocava-se o prato rapidamente. Os pratos escondidos eram “pra inglês ver”. Isso para o povo ficou caracterizado como um terrível pão-durismo dos abastados, que cuidavam em esconder a comida do proletariado.
Com o intuito de enganar os inquisidores e outros bisbilhoteiros de ocasião, a proibição de carne de porco e seus derivados, acepipes todos proibidos aos seguidores das regras e das normas de Moisés. Para os portugueses e depois para os brasileiros, o porco era festejado, assim como o salame, o presunto e as lingüiças. Adotaram os cristãos-novos imitar o costume dos católicos, isto é, simulando esses alimentos com carne de gado, disfarçando o toucinho, de cor branca, com o pão. Dando, no entanto especial cheiro com folhas de alheira, que possuía odor forte e penetrante. Daí o Festival de Alheira, ainda hoje presente no cotidiano dessa gente que tanto preza os ancestrais.
Vestir a carapuça, toda gente sabe, que é justamente assumir a culpa, declarar-se culpado pelo erro ou pela falha. Mas, remonta o tempo da Inquisição, no qual os indiciados eram levados ao julgamento com uma túnica e mais uma enorme carapuça, semelhante, não fosse a cor preta, à dos nossos palhaços. Finalmente, médico amigo meu escreve interessante e-mail confirmando a precisão do resguardo depois de se tomar leite ou seus derivados.