Quando era menino acompanhava
meu pai, com muita frequência, às solenidades, inaugurações, conferências e
reuniões em geral. Dizia que eu me entrosaria no meio, sobretudo entre os
intelectuais e por isso me estendia o convite. Tenho, ainda hoje,
fotografias daqueles anos, como a dos inícios da moagem de uma fábrica de café,
de cujo empreendimento o meu avô materno era sócio, a Sociedade de Moagens do
Recife Ltda., cuja maquinaria fora acionada por ele, momento, aliás, bem fixado
no papel encorpado de um retrato em preto e branco.
Na verdade, achava tudo uma
baboseira e ficava perplexo com a sua devoção aos compromissos para os quais
era convidado, mas ia. Numa das vezes fui advertido por Mário Melo, Secretário
Perpétuo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
Comparecia, também, à cerimônia do chamado “Beija-Mão” do Governador, nas
proximidades do fim do ano, para desejar as boas entradas, como se costumava
dizer. E numa dessas visitas, a última do período de mandato, advertiu-me que
sendo o derradeiro Natal do gestor a frequência das presenças, por certo, seria
menor. E lá, em Palácio, no Salão das Bandeiras, quase não havia filas, cumprimentando-se
o homem com toda a facilidade. É a perda do poder, cuidou em explicar meu pai.
Não entendi bem, mas guardei a expressão.
Na manhã de seu encantamento leu
a crônica que havia escrito no dia anterior, falando de um determinado
Ministro, mais que folclórico, o Magri, na qual escreveu: O poder seduz,
melhor não experimentar! Referia-se ao episódio do transporte em veículo
oficial dos cães doentes, pertencentes à autoridade constituída e a sua
resposta às críticas da Imprensa: Cachorro também é ser humano!
Em
realidade, tenho ido às cerimônias de posse de algumas pessoas, ocasião na qual
se despede dos presentes o ocupante anterior do cargo. E fico perplexo, ainda,
com a desatenção coletiva dos convivas. Poucos os que se aproximam e com um
aperto de mão ou um abraço atencioso firma e confirma o adeus ao poder,
agradecendo, se merecer o antigo titular. Todos se voltam ao estreante e fazem
as aproximações, às vezes, bajulatórias, assegurando o porvir. Um desses
gerentes públicos confessou, ao final do mandato, que ninguém mais lhe
acompanhava para o almoço, quando no começo da gestão tinha dificuldades em
selecionar um, aplicando, então, o ensinamento bíblico: “Muitos são os chamados
e poucos os escolhidos!”. Coitado! Foi tão difícil enfrentar os dias que se
seguiram à queda, que isso contribuiu para que a doença lhe tomasse o organismo
e ele morreu.