segunda-feira, 17 de setembro de 2012

NETITE

O vocábulo talvez tenha sido criado pelo meu pai, o qual diante do nascimento de tantos e tantos netos considerava-se tomado pela síndrome da Netite. Procurei nos dicionários todos a que tenho acesso o sentido da palavra e nada encontrei de positivo. O mais próximo que cheguei do vocábulo foi: netita. E a explicação era vaga. Dizia respeito apenas a neto ou neta. Mas, a verdade é que vou ingressando nessa legião dos que têm o acometimento afetivo. Só os avós (o avô e a avó) podem ser tocados pela síndrome. E é o que sentimos nessa hora de todas as transformações.  Vem por ai mais uma para se juntar à legião parental.
Este é um sentimento único: o de ser avô ou o de ser avó. Pai e mãe cumprem a missão de educar e criar, precisam estar sempre atentos aos rebentos, os quais dependem em tudo desses ancestrais próximos. É a alimentação, a higiene, a roupa e os demais afazeres: levar à escola e de lá trazer, de providenciar as vacinas e os médicos. E por ai vai! Os avós não estão disponíveis para receberem os netos em casa e apenas brincam com esses pequeninos. Riem e fazem rir, jogam e aceitam as barbeiragens dos meninos e das meninas. E não têm compromisso com nada mais nesse mundo de meu Deus! Se ficam em casa, para que os pais saiam e cumpram também seus compromissos, há sempre uma babá por perto! E os avós de hoje são diferentes, sobretudo as avós, porque jovens e bonitas.
Que coisa boa ter avós. Eu me lembro muito dos meus. Do avô materno e da avó paterna. Aquele era uma figura ótima e eu seu afilhado. No dia de meu aniversário, esquecendo a data em função das inúmeras atribulações de sua vida, era lembrado por um amigo da rua e ai, pode crer o leitor, eu ficava abonado com o dinheiro que tirava de sua carteira. Foi ele que me fez conhecer o mar. E eu meio tonto com o movimento das ondas, ouvi dele a explicação de que aquilo passaria. E, é claro, passou! A minha avó, também, era uma personagem que nunca poderia dispensar em minhas lembranças. Foi ela que disse a meu pai, diante de uma namorada que pintava os olhos: “Geraldo está namorando com uma moleca de rua! Imagine que pinta os olhos!”. Veja só! Tratava-me por Geraldinho, no comum dos dias e não admitia que batessem em mim.
Pois é, amigo leitor, está chegando uma neta, a filha de minha filha Patrícia e de seu marido Cláudio, a segunda na linhagem parental. Tem quase três meses na barriga, mas é de uma movimentação tão grande, que parece com o avô aqui, sem parar o dia inteirinho, procurando o que fazer. Não sei bem o que faz naquele ambiente hídrico, vivendo assim como se fora um peixe – é quase isso! – se alimentando do que lhe chega pelo cordão umbilical e de restos celulares que circulam por lá, na intimidade uterina. E os recursos da modernidade já mostram o quanto esse bebê que vai surgindo tem de bom e saudável. Vale conferir.
Nome não tem ainda, porque como sempre acontece, há uma série de prenomes que as pessoas buscam em diversos lugares, na Internet hoje, para nomear o ser que vai chegando. É um movimento grande de gente que liga e propõe, de outras que sendo tias do rebento que vai emergindo têm uma proposta a mais. Assim foi com a minha primogênita, que tem o nome de Fabiana, mas que nasceu Adriana e assim saiu nas páginas. Depois se trocou o prenome. Nem sei de qual gostava mais! Eu tive um irmão que morreu muito cedo e nome não chegou a ter. E a minha mulher, a mesma em quatro longas décadas, perdeu quatro – um horror! –, mas no fim pariu três belíssimas moças.
(*) - Homenagem que faço à neta que vai chegando. Não lhe tenho ainda o nome, mas já a tenho no coração de meus afetos. O texto é reproduzido no Jornal A Besta Fubana. Desejando o leitor, comente a crônica no espaço mesmo do Blog ou o faça para os e-mails pereira@elogica.com.br e pereira.gj@gmail.com