quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O dia do meu aniversário

 
Enquanto no Velho Mundo estouravam bombas cada vez mais destruidoras, na então pacata cidade do Recife nascia um menino de bons hábitos, de boa família e de bons antecedentes, pelo menos no que toca ao rudimentar pré-natal que fizera a genitora. O Dr. Djair Brindeiro fora o parteiro, como se costumava dizer e a Maternidade Freitas Lins foi o lugar no qual se deu o procedimento médico. Corria o ano da graça de 1944 e o mês era o de outubro, sendo o dia justamente aquele em que se comemora a data de São Francisco de Assis, data também dos bichos e da ecologia: 4 de outubro. A 10 do mesmo mês e ano, na matriz da Soledade, o menino fora levado à pia batismal, sendo celebrante do ato de iniciação do catecúmeno no culto católico o Monsenhor Francisco Apolônio Jorge Sales e padrinhos do menino o seu avós maternos Bartolomeu Marques e Laurinda Rosa Marques.

O pai da criança orgulhava-se muito de sua mãe no dia do parto, dizendo que ela vestiu-se com um avental branco e esperou pelo nascimento, tendo a oportunidade de pegar nos braços o neto que aportava nesse mundo de Deus. E com essa avó o menino conviveu muitos anos de sua vida. Tinha 16 anos de idade quando ela se foi. A criança costumava dizer que fora criado com vó e que dessa criação, complementava, só pode dar um menino abestalhado ou um doido e que ele optara pela segunda condição e assim foi o resto da vida. Diziam os mais velhos que o menino fora amamentado no blackout, isto é na escuridão do tempo, porque para que o Recife não fosse bombardeado apagavam-se as luzes todas da cidade. Daí, complementam alguns a admiração do menino pelos seios femininos, pingentes do amor, como ainda hoje chama.

O genitor trabalhava no bairro portuário, em jornal que circulava ao tempo, com o nome de Folha da Manhã, só chegando em casa altas horas da noite. Aliás era comum que os jornalistas de batente voltassem assim tarde da noite, numa época sem Internet e sem outros recursos da modernidade. Era um homem de boa conversa e contava e recontava os fatos do dia. Um desses repito agora. Dizia que era mais de meia-noite e a zona do baixo meretrício fervilhava de gente, quando um padre passou, com sua batina preta, devidamente paramentado para atender a uma mulher que se ultimava numa pensão alegre. Passou, viu o amigo que caminhava de volta à casa e nada disse, simplesmente cumpriu o seu dever.

E o menino era eu. Hoje é o meu aniversário!