E o
menino pediu ao pai para passar as férias com o tio. O tio não era propriamente
um parente, era o marido de uma tia, irmã do genitor do menino. Tio postiço,
era o que se dizia! Eurípedes era o seu nome e Carpina a cidade em que morava.
Decidira isso, porque depois de aposentado queria sombra e água fresca. Assim, alugara
uma casa na Praça São José e ali costumava jogar gamão com o padre, mesmo sendo
espírita por convicção. Acertaram que não conversariam sobre religião, falariam
somente a propósito das peças e do tablado, nada mais. Até no dia em que a família do menino
mandou celebrar uma Missa na intenção da alma de seu avô, Eurípedes absteve-se
de qualquer comentário.
Pai e
filho viajaram de automóvel desde o Recife, levando pouco mais de uma hora para
estacionarem o veículo na casa simples, de porta e janela, daquelas que o longo
corredor vai compondo o ambiente no qual desembocam os quartos, até que chega a
sala de jantar e depois a cozinha. Banheiro em casa é luxo de cidade grande,
dizia dona Clotilde, batendo com as mãos espalmadas na saia, costume que
trouxera lá dos confins do Rio Grande do Norte, onde nascera. Pedinho, era como
chamava o marido, cuida em acomodar André, guardando a mala dele e dando-lhe o
quarto pra dormir. E o menino abriu a mala de lona azul e foi arrumando as suas
coisas.
O
movimento ali era do agrado do menino, o trem chegando pela manhã, depois das
oito, o pão fresquinho da padaria de seu Jorge, as esmolas das sextas-feiras e
a conversa fiada com as empregadas de casa. Verdadeiras filósofas da existência,
dizia pilheriando. Eram duas morenas rechonchudas, de ancas largas e carnosas.
De seios empinados, como se fossem dois pingentes que balançavam ao sabor dos
movimentos do corpo. Valei-me Senhor! Era o que o menino repetia, lembrando que
tinha ido pra lá, justamente, com a finalidade de refletir quanto ao seminário.
Se entrava e renunciava aos apelos da carne ou se não entrava e assumia a
vocação devassa de que não se orgulhava.
E elas
gostavam do papo, faziam perguntas e mais perguntas. Assim: “André! Você já
teve namorada?”. Tive, respondia o menino, se assanhando todo para o lado
delas. E tinha tido mesmo, tinha gostado de uma vizinha, com nome e cognome, a
quem tratava por Zizi e com quem quase não tivera aproximações maiores. Era
desse jeito nos começos dos sessenta, do século XX. Esse foi um amor
interesseiro, comentava, porque funcionava apenas quando a bicicleta dela
quebrava e precisava de reparo. Era pneu furado, jante empenada e corrente fora
da coroa, sem puxar a catraca a contento. Não passava disso e de mais a mais os
colegas da rua diziam que ela usava peitex. E o menino se perturbava muito com
isso!
Mas,
ali não, ali era diferente. As duas tinham seios que fazia gosto e não se
utilizavam de adereços nascentes. Na hora do banho ele ficava do lado de fora,
vendo a espuma do sabonete escorrer mundo a fora, sem poder ver aquelas duas
nuas em pelo. E o menino pediu e rogou: nada. Até que numa tarde qualquer, uma
delas disse: “Olhe! A gente sabe que você está com dinheiro. A gente pode
mostrar a tela, se você nos pagar Cr$ 500,00". Dos parcos recursos, ainda
sobravam seiscentos cruzeiros e o negócio foi fechado. Antes de sair de volta
ao Recife, Sandra e Camila levantaram a saia e mostraram a tela.
É IMPOSSÍVEL ATUALIZAR O BLOG, PORQUE A HOTLINK NÃO ME ATENDE E EU ESTOU SEM INTERNET HÁ 3 MESES