Há
muitos anos, quando estive em Palmares, fazendo uma pesquisa epidemiológica
sobre Esquistossomose, parei em determinada moradia, na qual a família estava
reunida à mesa para a refeição do meio-dia. Comiam rolete de cana com arroz! Um
horror! Indaguei do chefe da família em que trabalhava e se tinha carteira
assinada? Estava pensando em fazer um cálculo sobre o salário mensal e o
cardápio do pobre homem e de sua constelação parental. Foi ai que ouvi: “Não! Não
tenho carteira assinada! Trabalho alugado!”. Alugados trabalhavam muitos, à
época; corriam os anos setenta. Eram homens que faziam as vezes de outros.
Esses sim, efetivamente contratados.
Francamente,
não sei como andam as coisas na Mata Sul, se essa forma de se contratar o
trabalho mudou ou se continua a imperar no eito. Mas me surpreendi muito com os
médicos cubanos que o Brasil está importando, cujo efetivo exercício não difere
muito dos camponeses pernambucanos, pelo menos ao tempo. Gente que vem da ilha
e que aqui é contratada por R$ 10.000,00, mas que não vê sequer metade dessa
quantia. Resume-se a R$ 900,00, ao que se diz. Profissionais que estão dando
muito trabalho às lideranças brasileiras. Não conhecem os medicamentos usados
por aqui e quando conhecem os prescrevem de uma forma esquisita, parecendo
recomendá-los em alta dosagem.
São
facultativos preparados para o atendimento primário, para uma medicina menos
sofisticada, sem a experiência necessária a uma atenção mais elaborada. De mais
a mais, já começam a tentar a permanência no Brasil, seja porque têm pedido
asilo político, seja por engravidarem de pais brasileiros. Esses profissionais
de Cuba há muito que passam pelo País, mas nunca com essa peculiaridade de
serem alugados. Quando eu exerci o cargo de Vice-Reitor, atendi alguns,
interessados na revalidação do diploma, exigência dispensada pelo governo
agora. Era um processo demorado, com a exigência de estágio em algumas
disciplinas e provas em todas. Vi muitos levarem pau.
Ninguém
pense que os médicos brasileiros não querem ir para o interior. Os juízes, os
promotores, os delegados e outros atores do Direito vão, habitualmente, mas têm
carreira de Estado. Os médicos, se assim fossem tratados, com toda certeza,
iriam também. Os verdadeiros culpados pelo caos da saúde são outros.
(*) - Publicado no Jornal do Commercio (Recife), em 29 de abril de 2014