domingo, 10 de abril de 2011

Biu dos olhos verdes

Eu estava assistindo o ensaio da peça “Tem bububu no bobobó”, de Walter Pinto, o mesmo autor de “Tem xique-xique no pixoxó”, quando o meu vizinho da esquerda interrompeu minha atenção. Queixava-se ele de um tarado que passou a mão – mão boba – na região glútea de sua irmã. Não respeitou sequer a irmã do tarado, de seu parceiro nessas perversões do sexo. Eu ouvi aquilo sem muito gosto, porque o que me interessava eram as vedetes dançando no palco do teatro, cujo acesso para mim só podia ser por ali. Era menor de idade! Hoje assisto na Internet um vídeo da época, as meninas rebolando e vejo a inocência da apresentação, com censura estabelecida até os 18 anos de idade. Mas, afinal, indaguei de meu interlocutor de ocasião, a aludida região valia a pena ou não valia? E resposta não tive!
Mas, há diferentes tipos de tarados. O primeiro, aquele que apenas se exibe e se a mulher demonstrar qualquer interesse, o penitente apaga na hora. Isto é, faz de conta que é macho, virado no cão, sem ter capacidade para nada. É um fraco, penso eu! Faz uns cinco anos, seis ou sete no máximo, apareceu na esquina aqui de casa um maluco assim. Ele parava o carro e fazia xixi na calota do veículo. Ninguém olhava! Era uma decepção! Mas, camarada pra ter uma reserva urinária invejável a qualquer mortal maior de sessenta anos!
O segundo, aquele que observa de longe, apenas, olha e não ameaça. Vi,certa vez, um camarada, de paletó e gravata, parar na rua para assistir as meninas se trocando na casa de esquina. Ainda notei que uma delas estava de calcinha e sutiã, o que levou o aristocrático senhor aos píncaros da glória. Ora, imagine só o leitor, quem se entusiasma mais com essas duas peças? Hoje em dia se tem disponível a um clique qualquer na Internet, centenas de cenas muito mais picantes que o comportado lingerie daquela suplicante de ocasião.  Alguns acidentes, com perda do olho direito, são relatados nos habituais observadores do buraco da fechadura.
Em minha rua havia uma poça d’água histórica. Houve tempo em que mesmo no verão estava ali, alimentada pela molecada, nas imediações do portão de acesso do velho caminhão Ford. À tarde, quando iam para o colégio as interessantes vizinhas, era impossível não acompanhar a passagem pelo local. No máximo eram as pernas que se refletiam na água; pernas considere-se em seu terço inferior. Besteira besta, teria dito meu pai, se disso soubesse.
Os meus amigos do trabalho – o trabalho hoje é melhor que ontem! – lembraram, de uma hora pra outra, de “Biu dos Olhos Verdes”, o mais importante tarado de Olinda. O personagem das ladeiras da Cidade Alta foi figurante presente nas portas dos colégios mais importantes do lugar, sobretudo diante das janelas da Academia Santa Gertrudes. Meninas, quase impúberes, hoje matronas avós, o viram na década de sessenta e mães cuidadosas diziam: “Cuidado, minha filha, com o tarado da Sé!”. E houve quem rezasse assim: “Senhor! Fazei que o tarado me veja!”. E não há relatos se o Senhor atendeu alguém em suas preces! Dizem os entendidos no assunto que ele pontificava no Monte, exibindo-se para casais enamorados e há quem conte que uma das monjas o comparava ao cão, jogando água fervente nos documentos expostos do rapaz. Ai que dor!