Acabo de chegar do banco, fui pagar as contas
atrasadas, depois que a empresa encarregada das entregas (os correios) fez uma
greve de arrepiar. O rapaz que me atendeu queixava-se de uma dor lombar forte e
disse que iria ao médico, depois que o alertei o quanto era jovem para estar
assim, penso de uma banda. O seu comentário de que alguns consideravam o
serviço que desempenhava moleza, mas não era forma alguma. Já foi pior, quase
digo, querendo lembrar os bancos que frequentei no passado. Um desses, na avenida
Conde da Boa Vista, quando de minhas visitas às sextas tinha uma fila no caixa
que superava qualquer expectativa dos circunstantes.
Ia, pelo geral, fazer uma retirada; retirada que
suprisse o final de semana, incluindo ai dinheiro para o supermercado e para o
lazer, o meu e o da família. Em outro banco, no velho Bairro do Recife, certa
vez, passei um cheque no valor de quarenta e cinco cruzeiros ou coisa parecida
e a moça do caixa me deu quarenta e cinco mil cruzeiros. Quando recebi, fiquei tão
abestalhado que devolvi sem grandes explicações, ao que ela justificou: “Já
contei e está certo!”. Eu, confesso ao leitor, que não sabia bem o que fazer,
quando se aproxima um psiquiatra e eu: “Colega! Por favor me oriente o que devo
fazer?” E contei a história. Indaguei: “Veja se estou ficando doido?”. E ele,
depois de contar a maçaroca de dinheiro, fez a devolução!”. A moça quase cai de
costas e daí por diante, passou a me atender com toda a prioridade possível.
Caixa eletrônico só chegou muito tempo depois e eu
lembro de um no Derby, onde passei a fazer os saques e com isso me abastecer de
dinheiro em espécie. Se assim não fosse, era preciso pedir ao atendente do
posto de gasolina para trocar um cheque ou contar com a disponibilidade da família.
Minha mãe estava sempre à disposição e eu a chamava, por vezes, de banco da família.
Quando fui a São Paulo, para um curso de 4 meses, fiquei apavorado
porque o dinheiro acabou e a bolsa não chegava. Fiquei doido, ligando
diariamente, quase, para minha mãe fazer um depósito em meu banco. Afinal, o
dinheiro chegou e eu passei a contar com ele.
Tenho dito e repito: sou do tempo do antes. Se o
leitor também se considera assim, pode se expressar no espaço reservado aos
comentários. No tempo do antes tudo era bem diferente, desde os costumes e os
hábitos ao dia a dia das coisas. Até as doenças eram outras ou são outras no
hoje dos anos. Andava-se a pé, pra lá e pra cá, sem perigo de assalto. Eu mesmo
vinha do Clube Português para a minha casa, nos limites de Santo Amaro das
Salinas e a Boa Vista, sem problemas. Ia e voltava ao comércio, à época chamado
apenas de “cidade”, com a maior facilidade. Quando se desejava, tomava-se o ônibus
com o destino de “Cidade”, e se fazia uma viagem circular, indo e voltando à
rua da Imperatriz ou à rua Nova.
Na rua da Aurora, de um lado e de outro, uma
mureta, ainda hoje existente, acomodava casais enamorados na parte do São Luis
e as chamadas mulheres de vida fácil – tão difícil – do outro. Eu era habitué
desses recantos. Certa vez, abordado por uma dessas suplicantes do lado de lá,
diante do Liceu, ouvi dela a confissão, por certo que incluída no reino das
potocas, que tinha sido casada, mas deixara o marido levada pela sua exacerbada
sexualidade. Verdadeira ninfomaníaca! Confesso que fiquei apavorado e embora
tenha ido com ela até a rua da Concórdia, onde havia o que se chamava de “recurso”,
terminei dizendo que a minha mãe não deixava, ainda, eu ter esses amores
marginais. Mas, nunca esqueci da figura e da conversa.
E entrou por uma perna de pinto, saiu por uma de pato, senhor rei mandou dizer que contasse cinco.
Desejando o leitor se associar ao autor, não hesite, comente no espaço para tanto destinado.