domingo, 17 de abril de 2011

A Ressurreição

O mundo mudou e o meu entorno também! Tudo é bem diferente no hoje dos dias! Mas as datas e as festas vão se repetindo, confirmando que o calendário é imutável na largueza séculos. Hoje é o Domingo de Ramos e por coincidência a lua aparece cheia no alto dos céus. Nas igrejas do mundo inteiro repete-se o ritual próprio: são entregues ramos aos fieis. Na realidade, se está repetindo também o que se passou em Jerusalém, há dois milênios atrás, quando Jesus entrou triunfante na cidade, recebendo do povo essa recepção carinhosa, de mantos e ramos expostos em sua homenagem.

É tempo para reflexão e tempo de paz, de simbolismo explicito, no jejum e na abstinência. Mas é de Nilzardo Carneiro Leão, advogado ilustre, criminalista de porte, a lembrança de que é preciso fomentar a ressurreição da amizade. É verdade! Quantos foram os amigos que desapareceram dos convívios nos últimos tempos? Os irmãos que se afastaram? Por que o amigo doente ou o irmão agonizante não foi visitado? A desculpa de querer guardar a imagem de antes, não faz menor o egoísmo humano! Antes atenta contra a caridade e a fraternidade! O semblante de sofrimento e dor que nos inibe a hora, é o mesmo que carregou Jesus na Paixão. Façamos o nosso exame de consciência, sem contemplar a pequenez da carne, mas calcando as culpas na grandeza do bem.

A fisionomia daquele primo no derradeiro momento dava bem a dimensão do ponto a que chega a paixão do homem. Depois a crucificação humana, num gesto derradeiro do sofrer quase infinito. Era tanto o padecer, que ele próprio pediu para ser posto na UTI e decidiu pela entubação, mesmo sabendo que seria sedado e que corria o risco de não despertar, como aconteceu. E minha mãe, que vive uma prolongada via cucis, praticamente vegetando num hospital, sem esperanças mais de nada? Não vale a pena tamanho sacrifício. Dizia o Papa Pio XII que prolongar a vida do agonizante, em nada contribui para sua salvação. Deus do céu: que coisa!

A vida é muito curta pra tanto sofrer! O aqui e agora de Carl Rogers talvez justifique o viver intensamente a existência, aproveitando de todos os lados o convívio e as convivências. O almoço que pretendo na quinta-feira santa, dia da criação do sacramento da comunhão, servirá para que possa juntar, em torno da mesa, a minha família, a esposa e as filhas; as filhas e o genro. O peixe da tradição, o bredo e o coco das receitas regionais hão de oferecer o tempero de que se precisa no cotidiano parental.

Que venha a paixão e chegue a morte, mas ninguém esqueça da ressurreição.

(*) Um texto criado numa manhã, quase diria, chuvosa, no alpendre de casa, em Aldeia, síntese de todo o resto das origens brasileiras e do que sobrou da natureza pernambucana das coisas, do vegetal e do animal, do falar e do contar, das lendas também. Boa páscoa a todos! Se desejarem comentar, não hesitem, usem o espaço mesmo do Blog ou o façam para pereira@elogica.com.br ou ainda pereira.gj@gmail.com