Eu tive a sorte – eu e a minha geração de médicos – de contar com um corpo docente do mais alto nível, gente conhecida aqui e alhures, professores que exerciam o mister da transferência do conhecimento e eram pesquisadores, na grande maioria das vezes. Mestres que ensinavam pelo exemplo, também, pelo comportamento irrepreensível que tinham no dia-a-dia da vida; éticos e por isso mesmo humanistas na verdadeira acepção do termo ou no largo entendimento da palavra. Mesmo assim, foram protagonistas de cenas pitorescas que marcaram, de forma indelével, a turma de 1968, na emergência agora dos 40 anos já de formada. O momento das provas era mais que propício aos gestos e os fatos que ficaram na memória desses médicos hoje sexagenários todos.
Impossível esquecer a prova oral de determinado colega na Cadeira de Fisiologia, na qual pontificava o professor Nelson Chaves, estudioso da nutrição em Pernambuco. Pois bem, senta-se o ainda calouro diante desse ícone da ciência e quase nada responde. Nelson Chaves, então, desejoso de mais uma chance para o jovem acadêmico, indaga: “Meu filho! Cite um hormônio importante?” E ele, o estudante que não abriu o livro: “Professor! Os hormônios são tão importantes, mas tão importantes que se eu destacar um desses, ele perde a importância!”. E o mestre insistindo diz: “Você não sabe nada de Fisiologia. Vou lhe fazer uma pergunta de Anatomia. Como se chama aquela artéria que nasce no coração, sobe, faz uma volta desce pelo tórax e entra pelo abdômen e se divide em duas?”. Era muito claro que se tratava da aorta, mas o aluno tropeça e responde: “Coronárias!”. Nota zero!
O mesmo aluno foi examinado pelo titular de Parasitologia. Como não sabia de nada, o catedrático indagou: “Diga-me lá o nome de um verme que cresce, cresce e chega a atingir 10 metros?”. O reincidente acadêmico, então, levanta a cabeça e olha para os ares da sala, pensa ou faz que pensa, reflete ou faz que reflete e responde: “Ascaris lumbricoides!”. Nem um leigo deixaria de acertar, pois um helminto assim, tão grande, não poderia ser outro senão a solitária. O estudante foi tropeçando assim e terminou sendo meu aluno no último ano do curso, no internato. Meu aluno, também, foi outro, que tendo chegado para o estágio no mês de fevereiro, depois de receber as atribuições, só voltou em junho, para obter o conceito e se formar. Disse-lhe que lhe daria a nota 4 e ele deveria retornar no outro semestre para a recuperação devida. Era tempo de regime militar, sendo esse figurante filho de um amigo do general - Valha-me Deus! - pelo que a minha nota, ao que sei, foi transformada em 9. Não fala comigo desde então! Graças a Deus!
Quando eu fui para o exame oral de biofísica, o meu colega Mozart, Jia por apelido, sentou-se no outro lado da mesa para responder às questões do principal assistente do Prof. Arnaldo Carneiro Leão, o seu filho Moacir, duro nas argüições e durão nas notas. O pobre do Jia quase não disse nada, porque precisou explicar como se faz uma bomba atômica. Quem sabia disso? E para que serviria isso? E eu com o catedrático da disciplina enfrentava um inusitado diálogo. É que sentando para ser, devidamente, examinado, sou surpreendido com a pergunta:
- O senhor vai ser padre ou maestro?
Ora, não tinha a ver com o curso que fazia, eu pretendia mesmo ser médico, mas não podia desapontar o mestre e respondi de pronto:
- Professor! Penso em abraçar as duas profissões! O senhor que acha?
- Sendo assim, diga-me lá como responder o Introibo ad altare Dei do começo da Missa.Impossível esquecer a prova oral de determinado colega na Cadeira de Fisiologia, na qual pontificava o professor Nelson Chaves, estudioso da nutrição em Pernambuco. Pois bem, senta-se o ainda calouro diante desse ícone da ciência e quase nada responde. Nelson Chaves, então, desejoso de mais uma chance para o jovem acadêmico, indaga: “Meu filho! Cite um hormônio importante?” E ele, o estudante que não abriu o livro: “Professor! Os hormônios são tão importantes, mas tão importantes que se eu destacar um desses, ele perde a importância!”. E o mestre insistindo diz: “Você não sabe nada de Fisiologia. Vou lhe fazer uma pergunta de Anatomia. Como se chama aquela artéria que nasce no coração, sobe, faz uma volta desce pelo tórax e entra pelo abdômen e se divide em duas?”. Era muito claro que se tratava da aorta, mas o aluno tropeça e responde: “Coronárias!”. Nota zero!
O mesmo aluno foi examinado pelo titular de Parasitologia. Como não sabia de nada, o catedrático indagou: “Diga-me lá o nome de um verme que cresce, cresce e chega a atingir 10 metros?”. O reincidente acadêmico, então, levanta a cabeça e olha para os ares da sala, pensa ou faz que pensa, reflete ou faz que reflete e responde: “Ascaris lumbricoides!”. Nem um leigo deixaria de acertar, pois um helminto assim, tão grande, não poderia ser outro senão a solitária. O estudante foi tropeçando assim e terminou sendo meu aluno no último ano do curso, no internato. Meu aluno, também, foi outro, que tendo chegado para o estágio no mês de fevereiro, depois de receber as atribuições, só voltou em junho, para obter o conceito e se formar. Disse-lhe que lhe daria a nota 4 e ele deveria retornar no outro semestre para a recuperação devida. Era tempo de regime militar, sendo esse figurante filho de um amigo do general - Valha-me Deus! - pelo que a minha nota, ao que sei, foi transformada em 9. Não fala comigo desde então! Graças a Deus!
Quando eu fui para o exame oral de biofísica, o meu colega Mozart, Jia por apelido, sentou-se no outro lado da mesa para responder às questões do principal assistente do Prof. Arnaldo Carneiro Leão, o seu filho Moacir, duro nas argüições e durão nas notas. O pobre do Jia quase não disse nada, porque precisou explicar como se faz uma bomba atômica. Quem sabia disso? E para que serviria isso? E eu com o catedrático da disciplina enfrentava um inusitado diálogo. É que sentando para ser, devidamente, examinado, sou surpreendido com a pergunta:
- O senhor vai ser padre ou maestro?
Ora, não tinha a ver com o curso que fazia, eu pretendia mesmo ser médico, mas não podia desapontar o mestre e respondi de pronto:
- Professor! Penso em abraçar as duas profissões! O senhor que acha?
Eu era macaco velho, pois fora coroinha nos tempos do Colégio Nóbrega e sabia o ritual de cor e salteado, ao que contestei:
- Ad Deum qui lætificat juventutem meam
E ele:
- Quais são as notas da clave de sol?
Eu tinha aprendido piano na adolescência, de onde, aliás, fui convidado a sair, por absoluta incompetência musical. Não fiquei em dificuldades:
- Mi, sol, si, ré, fá nas linhas e fá, lá,do, mi nos espaços!
- Quais são as notas da clave de sol?
Eu tinha aprendido piano na adolescência, de onde, aliás, fui convidado a sair, por absoluta incompetência musical. Não fiquei em dificuldades:
- Mi, sol, si, ré, fá nas linhas e fá, lá,do, mi nos espaços!
- Bicho do bom! (um ditado da época)
- Seu Mané! (a resposta ao ditado)
- Nota dez!
- Seu Mané! (a resposta ao ditado)
- Nota dez!
Eu fui aprovado! E o grande Jia ficou para a 2ª época. Decorou a bomba atômica, aprendeu tudo sobre a bomba de hidrogênio e passou bala em toda gente na fantasia de seus sonhos, vingando-se do mundo e dos professores do curso médico. Fez muito bem!
(*) - Uma crônica que homenageia os meus colegas de turma; a turma inteira com a qual me formei em 1968. Um relato nascido de meus afetos e de minhas lembranças. Quem desejar comentar, escreva para pereira@elogica.com.br ou para pereira.gj@gmail.com Quem não desejar, não escreva ou não comente.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirComo dizem os jovens - de hoje - na sua escrita internética: BLZ.
ResponderExcluirKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Ótimas histórias.
Abç.
Adorei o texto. Um abraço da Espanha. Rodigo Lima
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