Um doido é um doido, nada mais que isso, não se pode confiar. Pois é, já vi o mestre Ariano Suassuna dizer – já disse também por aqui – que em todo lugar que se preze há um doidinho de plantão. É verdade! Na rua em que morei havia um com o cognome de “Por quê?”. É que passou a vida inteirinha – nem sei dele agora – indagando das pessoas as razões e os motivos de tudo. Até que certa vez, encontrando um pintor que caiava as paredes da velha fábrica TSAP, perguntou: “Estás fazendo o quê?”. Ao que o trabalhador solícito respondeu: “Estou pintando a parede!”. Mas, o nosso protagonista de agora insistiu: “Por que estás pintando a parede?”. O homem do pincel de forma paciente acedeu em responder: “Porque o dono mandou!”. Ouviu, todavia, nova indagação: “Por que o dono mandou?”. O pintor não teve dúvidas, desceu da escada tesoura em que estava e deu uma mãozada no figurante dessa história, pelo que ficou o dito pelo não dito. O menino – era um menino! – voltou para casa chorando.
Pior do que isso foi o chamado que recebi para atender um doente em hospital de psiquiatria. Tinha chegado com um distúrbio do comportamento – urinou na sala de casa –, sendo internado por isso. Mas, não acordava de jeito nenhum! Entrei no quarto e dei o diagnóstico pelo cheiro do ambiente. Parecia que tinham impregnado o lugar com vidros e vidros de amônia. Era como se aquilo lá fosse um banheiro, no qual a higiene era precária ou nula. Tratava-se de um coma hepático, o paciente fora operado e tinha feito uma anastomose – ligar um vaso a outro – da veia porta à veia cava. Essa anastomose porto/cava era também conhecida por porto/cova, porque os doentes morriam com elevada frequência. Tirei a aliança para lavar as mãos e a esqueci na pia do hospital. Veio um doente qualquer e levou a argolinha de ouro. Era noite alta e quando cheguei em casa contei a história. Não precisa dizer que ninguém acreditou na minha versão. Lembrei de um médico que flagrei no Parque 13 de Maio, no interior de um carro da marca Skoda fazendo um esforço enorme para tirar a sua aliança da mão esquerda, enquanto fiava conversa com uma normalista. Quase ajudo!
Noutro hospital, assim que entrei e comecei a falar, uma mulher que estava tomando banho gritou: “Doutor! Case comigo!”. Respondi com uma evasiva qualquer e continuei o que precisava fazer. Fui surpreendido depois com um abraço dessa criatura, a qual completamente nua me agarrou e me molhou dos pés à cabeça. “Case comigo! Case comigo!”. Era só o que dizia. Calma, minha senhora, expliquei, preciso juntar as minhas coisas, para seguirmos juntos e casarmos na primeira igreja do caminho. Desse jeito me livrei do momentâneo assédio. Veja só o leitor! Essa história de querer casar a todo custo vi e ouvi muitas vezes, quando ia a um desses hospitais, sobretudo no Hospital da Tamarineira, onde havia um recreio, um pátio no qual as internas se juntavam e perambulavam, algumas nuas em pelo e outras quase assim, mas gritando muito: “Case comigo! Case comigo!”. Que psicose era essa, não sei!
Mas, eu estava no 5º ano de medicina e apareceu na sala de aulas, no chamado “teatrinho” um camarada estranho à turma, doido varrido. Nesses momentos, da forma mais natural possível, um grupo se acercou do novato e passou a puxar conversa. “Quem era? De onde viera? O que queria? O que fazia?”. Do primeiro ao sexto ano, dizia, com toda ênfase, sabia de tudo. E ia demonstrar a sabedoria dele: “Atenção colegas! Atenção colegas! Dois mais um é igual da três e três menos um igual a dois, pelo que se obtém o primeiro número!”. Ou seja 2+1=3 e 3-1=2 Há quem possa com uma coisa dessa! Era um matemático a postos, então!
Pior do que isso foi o chamado que recebi para atender um doente em hospital de psiquiatria. Tinha chegado com um distúrbio do comportamento – urinou na sala de casa –, sendo internado por isso. Mas, não acordava de jeito nenhum! Entrei no quarto e dei o diagnóstico pelo cheiro do ambiente. Parecia que tinham impregnado o lugar com vidros e vidros de amônia. Era como se aquilo lá fosse um banheiro, no qual a higiene era precária ou nula. Tratava-se de um coma hepático, o paciente fora operado e tinha feito uma anastomose – ligar um vaso a outro – da veia porta à veia cava. Essa anastomose porto/cava era também conhecida por porto/cova, porque os doentes morriam com elevada frequência. Tirei a aliança para lavar as mãos e a esqueci na pia do hospital. Veio um doente qualquer e levou a argolinha de ouro. Era noite alta e quando cheguei em casa contei a história. Não precisa dizer que ninguém acreditou na minha versão. Lembrei de um médico que flagrei no Parque 13 de Maio, no interior de um carro da marca Skoda fazendo um esforço enorme para tirar a sua aliança da mão esquerda, enquanto fiava conversa com uma normalista. Quase ajudo!
Noutro hospital, assim que entrei e comecei a falar, uma mulher que estava tomando banho gritou: “Doutor! Case comigo!”. Respondi com uma evasiva qualquer e continuei o que precisava fazer. Fui surpreendido depois com um abraço dessa criatura, a qual completamente nua me agarrou e me molhou dos pés à cabeça. “Case comigo! Case comigo!”. Era só o que dizia. Calma, minha senhora, expliquei, preciso juntar as minhas coisas, para seguirmos juntos e casarmos na primeira igreja do caminho. Desse jeito me livrei do momentâneo assédio. Veja só o leitor! Essa história de querer casar a todo custo vi e ouvi muitas vezes, quando ia a um desses hospitais, sobretudo no Hospital da Tamarineira, onde havia um recreio, um pátio no qual as internas se juntavam e perambulavam, algumas nuas em pelo e outras quase assim, mas gritando muito: “Case comigo! Case comigo!”. Que psicose era essa, não sei!
Mas, eu estava no 5º ano de medicina e apareceu na sala de aulas, no chamado “teatrinho” um camarada estranho à turma, doido varrido. Nesses momentos, da forma mais natural possível, um grupo se acercou do novato e passou a puxar conversa. “Quem era? De onde viera? O que queria? O que fazia?”. Do primeiro ao sexto ano, dizia, com toda ênfase, sabia de tudo. E ia demonstrar a sabedoria dele: “Atenção colegas! Atenção colegas! Dois mais um é igual da três e três menos um igual a dois, pelo que se obtém o primeiro número!”. Ou seja 2+1=3 e 3-1=2 Há quem possa com uma coisa dessa! Era um matemático a postos, então!
Uma crônica de algumas vivências e de outras convivências. Comente no espaço mesmo do Blog ou o faça para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com
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