O meu pai era um homem extraordinário! Não suportava o Carnaval e nos tempos de solteiro fazia retiro fechado com os jesuítas, mas nunca descuidou de levar os filhos aos bailes infantis do Clube Português. Era sócio de honra da agremiação e sendo assim, recebia um convite especial, familiar. Enquanto fui menino usava essa entrada apenas numa das tardes do tríduo de Momo, mas depois, ia às festas noturnas, com a namorada a tiracolo já. Numa das vezes, estava em mesa recuada e mais adiante umas moças, quase nossas vizinhas, dançavam alegremente, pulando o frevo e rebolando com o samba. Pois de hora pra outra, salta do vestido de uma delas o seio direito. Claro que imediatamente a penitente fez o recolhimento do órgão lácteo que expusera, mas eu, que ando sempre numa situação de observador do cotidiano, não perdi tempo: olhei. O namorado me fitou com cara de bicho, mas não havia mais jeito, eu tinha visto do busto de sua amada e talvez idolatrada namorada.
Na minha rua havia uma troça dos meninos, com o estandarte vermelho: Os Brotinhos. Passavam cantando e dançando lá por casa, faziam uma parada estratégica em cada porta para uma dose de cachaça ou um gole de whisky, o que viesse valia. Minha mãe se perturbava, porque o meu pai não bebia e por isso ela não sabia lidar com esses líquidos que passarinho não toma. Aguardava a hora da bateria improvisada parar e ia buscar o que dispunha: Conhaque Macieira, cinco estrelas. Servia em pequenos cálices, que aprendi depois não se prestam à bebida, a qual deve ser tomada em taça apropriada, esquentada antes da ingestão. Certa vez até, em viagem que fiz a São Paulo, tremia de frio e atendi à recomendação de um amigo: “Toma um conhaque!”. Lembrei dos presentes que o meu pai recebia e pedi o Macieira na hora em que o garçom indagou sobre a preferência. O calor voltou num instante. Hoje, sou mais uma cerveja bem gelada ou um vinho bem cuidado, tudo sob o luar de Aldeia.
Mas, houve um ano em que a família estava de luto. Passava-se uns seis meses vestindo preto – o luto fechado –, depois abrandava-se um pouco e usava-se cores discretas, sempre com o fumo preto no braço ou pendente de um dos bolsos. Brincar o Carnaval, nem pensar! Foi ai que a vaca torceu o rabo, porque eu não queria deixar de batucar na folia e não tinha espírito para ficar enfurnado em casa, curtindo o luto. A minha avó tinha morrido, realmente, eu sentira a sua falta, mas aquilo passou e os acordes do frevo já estavam se aproximando de meu juízo. Apelei para a minha argumentação de adolescente e nada. Entrou em cena minha mãe e a sua interveniência fez com que o meu genitor liberasse. Eu queria ir a uma gafieira e no final das contas ele disse: “Vá a essa gafieira pelo amor de Deus, que eu não aguento mais!”. E eu fui! Lá encontrei Gercina, empregada de casa, dancei com ela agarradinho e o fiscal de salão advertiu: “Se continuar vai pra fora!”.
Mas, perto de casa havia uma moça linda, de corpo quase perfeito, que se vestia de marinheiro ou marinheira a cada período de folia. Era uma figura admirada e sobretudo desejada por todos, mas ninguém passava a mão, porque o namorado se dizia presente a noite inteirinha e pela manhã, logo cedo, mal raiara o dia, ia deixá-la em casa, não sem antes quebrá-la no muro de sua residência. Eu, que sempre acordei com o galo, gostava de apreciar o rala e rola, babando de vontade. Ai meu Deus do céu: deixa eu me aproximar de Dolores. E a graça divina nunca me chegou!
(*) - Uma crônica sobre o Carnaval.Outros carnavais e outras vivências, por certo outras convivências também. Dizem que Lampião gostava do Macieira cinco estrelas! Não sei se é verdade ou se não é! Disso sabem melhor o Papa da questão Frederico Pernambucano e o Bispo da problemática, Roberto Pedrosa, Bob por apelido, Ccsado com Valéria, a sua perpétua domadora, como ele mesmo destaca. Comente no espaço do Blog, agora com moderador, para evitar intrusos com jeito de espírito de porco ou para os e-mails: pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com Quem disser o verdadeiro nome de Dolores ganha uma lança-perfume Rodouro de presente. Viva!
(*) - Uma crônica sobre o Carnaval.Outros carnavais e outras vivências, por certo outras convivências também. Dizem que Lampião gostava do Macieira cinco estrelas! Não sei se é verdade ou se não é! Disso sabem melhor o Papa da questão Frederico Pernambucano e o Bispo da problemática, Roberto Pedrosa, Bob por apelido, Ccsado com Valéria, a sua perpétua domadora, como ele mesmo destaca. Comente no espaço do Blog, agora com moderador, para evitar intrusos com jeito de espírito de porco ou para os e-mails: pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com Quem disser o verdadeiro nome de Dolores ganha uma lança-perfume Rodouro de presente. Viva!
Geraldo: o tempo é de carnaval e voce, mais uma vez, nos diverte com as suas recordações lapidadas pelo seu intelecto superior. Mto bom!!
ResponderExcluirEliana