Brincadeiras entre médicos, nascidas da criatividade de colegas, é comum nos ambientes de trabalho. É natural entender que se vive no dia a dia das coisas as dificuldades próprias e os impasses alheios, não apenas as doenças, mas as mazelas todas do ser humano, daí a graça, a pilheria. No velho Hospital Pedro II, havia um Diretor da Santa Casa com um nome diferente. Digamos que fosse Aprígio (nome fictício), mas era muito pior e o nosso personagem tinha horror a seu prenome, pelo que era mais conhecido pelo sobrenome: Dr. Alheiros (fictício também). Ele gostava de sua condição de médico e sobretudo orgulhava-se de sua situação de Diretor. Ora a estudantada não perdoava e diante de uma indagação qualquer, feita por um doente interiorano, matuto, como se diz aqui no Nordeste ou caipira, como se costuma falar no Sul do Brasil, a explicação era única: “Olhe! O senhor pergunta ali ao enfermeiro, seu Alheiros!”. E seu Alheiros só não batia nos perguntadores de plantão por que não podia e não era de seu feitio. À época, enfermeiro era um prático que fazia as vezes de um auxiliar. Havia um sino no Hospital; sino que tocava para convocar os empregados ao almoço ou a outros momentos, os quais, confesso, nunca soube de verdade. A molecada mexia no badalo e o sino tocava. Era um desespero, o Diretor Geral correndo para pegar o incauto e o moleque desaparecendo na carreira.
No Sindicato dos Comerciários, onde trabalhei uma década, se pouco, havia um colega ortopedista que não suportava nada ligado a militar. Por isso, quando um certo dentista me indagou se sabia as razões pelas quais a Polícia mudara de farda, passando de um amarelo quase marrom, aproximando-se do mel, para um cinzento. Não podia perder tempo e recomendei que consultasse Walter Bradley, exímio em casos assim, envolvendo corporações militares e ele fez a consulta de logo, na minha frente. Foi uma gargalhada geral. Ocorreu assim: “Walter: por que a polícia trocou de farda?”. E ele: “Eu sei lá! Sei nada de polícia! Não quero saber disso e não gosto de quem sabe!”. E o camarada ficou com a cara no chão! Embasbacado!
Eu era Diretor do Centro de Ciências da Saúde, quando a minha dileta secretária bate na porta e entra. Diz da forma mais pausada possível: “Quem está ai para falar com o senhor é Deus!”. Deus, indaguei? Sim, exatamente, respondeu! Fui taxativo quando lhe disse: “Veja, Mariza, Deus tem prioridade em qualquer parte, aqui sobretudo! De formas que faça como Camões: ‘Cessa tudo que a antiga musa canta // Que outro valor mais alto se alevanta.”. Mande entrar o nosso Deus! E realmente entrou a Divindade em forma de homem, de gente simples, de médico que estava interessado, apenas, em obter autorização para plantar uma palmeira no jardim da faculdade, a velha Casa de Octávio de Freitas. Daí por diante, ao encontrar com ele, ria às bandeiras despregadas: “Como vai passando o nosso Deus?”. Era João de Deus, somente, tão humano quanto todos os outros deuses do mundo.
Essa coisa dos Lusíadas, obra prima de Luis de Camões, é interessante, porque no Recife há um médico que sabe o poema épico todo, de cor. Como sabe, também, outras passagens da literatura, notadamente passagens bíblicas, literárias, de igual forma, como o Sermão da Montanha. Chama-se Ruben Franca e tem sido muito atuante nas reuniões da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, apresentando com frequência comunicações relevantes. Mas, Franca trabalhava numa emergência médica do Recife e os colegas – médicos todos – sabendo dessa peculiaridade, da prodigiosa memória de que é portador, costumavam dizer no quarto escuro, quando boa parte da equipe de plantão dormia: “Por mares nunca dantes navegados/....”. E Ruben nunca hesitou em dar continuidade, o que despertava, obviamente, todos que dormiam aproveitando uma folga no plantão. E o palavreado daí por diante, já se imagina o que era!
Como participante deste episodio, gostaria de contribuir para explicar o final desse, quase tragico, lava-pes.
ResponderExcluir1. O episodio do lava-pes aconteceu em frnte a Igreja da Soledade, ao lado da fabrica de refrigerantes fratteli-vita, onde tombou Nunes Machado, martir da revoluçao libertaria (Revoluçao Praieira). Por muito pouco nao foi deflagrada uma guerra santa,pois os apostolos do Pombal que foram substituidos pelos apostolos da Boa Vista, tentaram tomar os brindes ofertados pela igreja. Graças a inteerferencia dos fieis que participavam da cerimonia religiosa que lotavam a igreja evitando assim o citado conflito.
2. Participantes deste episodio:
2.1. Apostolos do Pombal: Ze Moraes, Ricardo Jeronimo, Toinho e Fernando Valadares, Mozar e Moises Diniz e Cezar Machado;
2.2. Apostolos da Boa Vista: Josue Mussalen, Romeu da Fonte (sobrinho do padre Romeu), Gustavo (sobrinho do Padre Barbalho, Evandro, Domingos Montenegro e outros.
Aproveito o ensejo para renovar votos de saude e bem-estar pessoal, com o costumeiro voto de Feliz Pascoa, extensivo a toda a familia.
Moises Diniz