domingo, 3 de julho de 2011

Os rios e as pontes.

Eu vi muitas vezes gente pescando nas pontes do Recife. Alguns de meus amigos da rua iam até à ponte Limoeiro e se muniam de um jereré, no qual arrastavam crustáceos e pequenos peixes. Mas, a ponte era a primitiva, a do trem, diziam que ali passava a composição férrea vinda de Limoeiro, a qual já não existia e no pontilhão uma sequência de tábuas justapostas garantia a passagem dos pedestres. Eu ia muito raramente, porque a minha mãe cuidava em proibir, com medo do que poderia acontecer. Um de meus amigos - lembro bem disso - costumava pular da ponte e tomar um banho de rio pra ninguém botar defeito.
Antes da curva do rio, ali onde hoje estão os hospitais Hope e Esperança, Zé Pequeno, servente do velho Hospital Pedro II, pegava camorim na preamar. Usava isca viva, como é comum e recolhia diversas espécimes do peixe de primeira. Eu tinha muito vontade de ir, mas eu era médico na enfermaria que Pequeno trabalhava e não podia acompanhá-lo nesse mister de seu lazer. Muitos anos depois, em Pau Amarelo, entrei mar a dentro com o caniço e o samburá. Pescava somente coró, um bicho vagabundo, mas vez ou outra fisgava uma ciobinha e era uma festa frita com uma cerveja bem gelada.
Eu não sou velho, já disse de outra vez, mas lembro muito bem das barcaças ancoradas diante do antigo Grande Hotel. Não tenho certeza do nome, mas vem a lembrança que era o Cais de Santa Rita, onde ancoravam embarcações vindas do interior do Estado trazendo açúcar para o porto. Era o tempo da hidrovia! Nesses anos a ponte do Pina era especialíssima, porque permitia a passagem de um carro, apenas, sendo de um inspetor de veículos quem modulava o tráfego. Não sei como era à noite! Era costume de minha avó materna, Laurinda de prenome, ir aos domingos passear em Boa Viagem e não perdia isso de forma alguma. Foi lá que vi pela vez primeira o mar, levado pelas mãos do meu avô materno. Coisa boa ter avô!
Já havia poluição, mas não era tanta, como hoje! Certa vez meu pai foi convidado para um passeio de lancha e o ponto combinado para se ter acesso ao barco era diante da Assembleia Legislativa. Lembro-me bem do embarque, embora não recorde da viagem e depois do desembarque. O diabo é que o meu pai já se encantou no infinito das coisas e a minha mãe está em estado, quase se pode dizer, vegetativo. É isso! É a vida! Era ali, naquele mesmo cais da Aurora, que eu ia aos sábados com meu pai assistir o rio ninando o Recife, para repetir Mauro Mota nesse ano de seu centenário. E o meu barquinho de papel ganhava as águas para chegar, como eu pensava, ao oceano enorme. Ali, dizia Bandeira, era onde se ia pescar escondido.
(*) - A crônica lembra o rio e as pescarias de outrora. As pontes também. A crônica é publicada também no Jorna A Besta Fubana.

2 comentários:

  1. Geraldo,

    Acabo de ler a sua crônica. Acordo cedo para a labuta.
    É uma vasta recordação que você faz, lapidando com carinho os tempos que ficaram no baú da memória.Amei!!!
    Bom será termos , sempre, textos como estes, para o nosso enriquecimento intelectual e emocional.
    Leio a sua crônica em pleno café da manhã, que começa de madrugada. Assim fica mais apetitoso...
    Abços,

    Eliana Pereira

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