sábado, 17 de setembro de 2011

O Vassoureiro

Meu caro e distinto leitor, em tudo muito paciente comigo, vivi na quinta-feira, dia 15, uma noite magnífica, quando estive na Academia Pernambucana de Letras e conferi a exposição de quadros pintados em homenagem aos acadêmicos. Um pintor para cada uma das imagens e a obra de cada um dos confrades considerada no processo de criação. Ao entrar, me deparei com um quadro que identifiquei, de logo, ter sido pintado com base em crônica que produzi e publiquei, em jornal e em livro. Publiquei também nesse espaço do Blog. Uma beleza de quadro!

A autora, que já tinha me enviado um e-mail sobre a missão a que vinha se dedicando, a de identificar uma crônica que lhe tocasse a capacidade de captar e expressar sentimentos e a permitisse dedicar-se à criação pictórica, tem de uma sensibilidade à flor da pele, foi o que notei na hora. O quadro estava tão bonito, mas tão bonito que não cheguei a passar um olho no restante da exposição, como deveria. Coisa de menino criado com vó, embasbacado com a pintura bem cuidada e o quadro bem exposto. Trata-se de Lúcia Pedrosa, figura generosa e de fino trato, a quem conheci na noite de ontem, mas se identificaram parentescos dela com minha esposa. Um contraparentesco, na verdade. Coisas do Recife, cidade na qual se apertar todos têm afinidade parental.

Iniciativas assim, de se produzir em função de uma criação literária, nem sempre dão certo, porque o artista, como o intelectual, sente-se inibido com a encomenda. E de mais a mais, é possível que o pintor não atenda às exigências do escolhido para a empreitada. No meu caso, fosse lúcida minha mãe, diria que caiu a sopa no mel. Eu fiquei satisfeitíssimo e confesso ao leitor, chorei de emoção. Aqui por casa minha mulher, que comanda a companhia doméstica, já identificou lugar na parede para acolher o quadro, pois que por cima de tudo a autora fez a doação da obra. Dentro de 30 dias poderão os meus amigos apreciar o traço de Lúcia Pedrosa; traço, aliás, fotografado por sua filha Luciana, que faz dessa outra arte um agradável mister. E Luciana lá estava com Gabriela, o xodó da vovó. E eu deveria ter levado Pablo, el campeone, para que fosse se habituando às coisas do avô!

O que ela, a autora, pintou foi um personagem dos chamados “Pregões do Recife”, aquele que passava vendendo: “Espanador/Vasculhador/Colher de pau/Esteira d’Angola/Rapa Coco/E grelha.../Eu tenho quartinha”. E na crônica, há muitos anos publicada nas páginas do Jornal do Commercio, eu me referia a um velho amigo, companheiro dos veraneios de Pau Amarelo, ele morador de inverno a verão, que me brindou com o texto dessa forma de anunciar o que dispunha o homem em seu conjunto de vendedor ambulante, verdadeiramente ambulante. É uma pena não ter mais Silvio Costa entre nós, os que vivem ou sobrevivem, para partilhar comigo essa graça de ser assim homenageado. E nem da viúva sei mais, senão o seu prenome: Lúcia, também. O “Vassoureiro”, foi como a artista nomeou o quadro, fazendo alusão a essa personagem do passado da cidade. E ainda disse que era nostálgica como eu! Eu vinha afastando esse rótulo, mas é a verdade, nua e crua, queiram ou não queiram os juízes, como letra de conhecida música dos carnavais recifenses.

E eu me encantei com o “Vassoureiro”, porque o vi nascido de mim, também, depois de um consórcio bem cuidado com a artista.

(*) - A crônica de hoje é um quase ode à imagem que foi criada pelo imaginário de Lúcia Pedrosa, diante de uma crônica que escrevi há muitos anos, que reproduzi aqui, neste espaço virtual e que me resgata um pretérito distante, vivido e revivido. Que me resgata também a figura de um amigo, Silvio Costa, que se antecipou na viagem de volta e que me forneceu o material para o meu sonho, a minha quimera. Essa crônica é reproduzida pelo jornal virtual A Besta Fubana. Desejando o leitor, comente, aqui mesmo no Blog ou o faça para os e-mails pereira.gj@gmail.com e pereira@elogica.com.br

3 comentários:

  1. Quadro lindíssimo e homenagem muito merecida. Parabéns, pai. Uma honra isso tudo pra mim!

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  2. Geraldo,

    Compartilho com a sua alegria, pois, como escritora, tenho também essa sensibilidade aguçada em momentos semelhantes!
    Parabéns!!!!
    Eliana Pereira

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  3. Dr. Geraldo,

    Conhecer pessoalmente o autor de tão belos escritos e comprovar de sua sensibilidade também me deixou emocionada.
    Sua crônica, que tão bem expressa a sua impressão à arte de minha mãe, retrata a sua satisfação com a merecida homenagem!
    Parabéns!

    Um grande abraço,
    Luciana Pedroza

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