domingo, 26 de fevereiro de 2012

De Pássaros e de Bicicletas

O dia não tinha amanhecido ainda e eu já estava de pé. Dormi como um anjo ou dormi como se fora um justo. Foi o trinar forte e agudo de uma sabia-gongá que me fez levantar. Fiz café e assei o queijo, juntei o presunto de peru e me sentei para fazer o que os estrangeiros chamam de desjejum. Sai para andar e o que vejo da paisagem por cá, me dá a mais absoluta certeza de que Deus existe. Só um ser superior pode criar tanta beleza em lugar tão pequenino. Estou em minha casa de Aldeia.
Enquanto o orvalho cair dos céus, molhando os automóveis estacionados e umedecendo a minha camisa, estarei certo de que há ainda alguma coisa de primitivo nos ares do mundo. Ou enquanto puder descortinar ao longe uma neblina frágil no entorno da mangueira enorme, que se ergue no terreno do vizinho ou nas encostas dos morros que vejo agora, terei esperança num futuro de bom convívio entre o homem e a natureza, por cá, nesse paraíso terrestre.


Vou caminhando, cumprindo o meu desiderato de vida, vejo pássaros em quantidade a meu redor. As sabiás cantam para que o fenômeno da reprodução se passe a contento, o mesmo se diga dos bem-te-vis e sanhaços ou o mesmo se diga de todos os outros passarinhos desse lugar. Um pássaro de maior porte, de cor marrom, assustou-se comigo e alçou voo. Será um joão moleque ou uma maria mulata? Não, não é! É uma rolinha fogo-apagou ou fogo-pagou, como chamavam os meninos da rua, nos anos de minha infância. Mas, ali adiante descortino a elegância de um Canário-da-terra, bicando grãos que emergem do capim verde, verde. Mas, esse pássaro de porte ainda maior, com o ventre branco e o dorso preto, mariscado, eu não sei o que é. Hei de procurar nas páginas do amigo Harrop, tão interessado nessas criaturinhas.


Vejo senhora pedalando a sua bicicleta, acima e abaixo, e lembro da minha antiga Monark, de pneus finos e contrapedal. Às vezes eu preferia ter outra com os pneus do tipo balão e com freios nas mãos. Menino nunca se conforma com o que tem. Mas, disse isso, para confessar que estou com vontade de comprar um veículo desse. Trazer aqui pra Aldeia e sair por ai pedalando, fazendo piruetas, repetindo outroras perdidos. Vou pensar melhor! Uma queda não será bincadeira.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Novas crenças e outros costumes

Vamos e venhamos, amigo leitor, quando escrevo sobre superstições e crenças e acrescento alguns costumes, tenho sempre em minha caixa de entrada vários e-mails, que me trazem alguns acréscimos. Isso para mim é ótimo, porque me dá panos pras mangas, de cuja frase eu sei o sentido, mas não a origem e numa volta rápida pela Internet não a encontro. O que me facilita o ato de escrever, de juntar palavras, formar frases e habilitar o texto, dando-o como pronto. Lembrei até de um certo restaurante em hospital judaico, com a inscrição: “Não junte a carne ao leite”. Por sem-vergonhice, pedi um filé a parmegiana. Ao que a jovem e simpática garçonete disse: “Não se fala nisso aqui!”.

Uma professora ilustre, de sangue judaico em suas veias e em suas convicções religiosas e filosóficas, envia algumas coisas interessantes. Mas cita outro professor, seu colega, como autor do texto. Explica que num impasse diplomático entre Portugal e Espanha, provocado pelo temível e ao mesmo tempo terrível Torquemada, o feroz inquisidor espanhol, o Rei decidiu convidar os judeus ao caís, com a promessa de uma viagem à Terra Santa. Ao mesmo tempo, convocou frades portugueses e seus vasos de água benta. Resultado, os judeus não embarcaram e foram todos batizados. Ficaram a ver navios, como hoje ficam os que se frustram em seus desejos. Esse foi o Batismo de Pé, que a tantos e contra a vontade de tantos, também, produziu cristãos e mais cristãos.

Fala, de igual forma, do grande pão-durismo mineiro – talvez de outras partes do Brasil. É que sendo os judeus, agora postos na condição de cristão-novos, obrigados a se abster de iguarias próprias de suas práticas ou de seus cardápios, costumava a família sentar-se à mesa com um detalhe. A mesa tinha gavetas em cada um dos lugares e quando se aproximavam penitentes de outros credos, trocava-se o prato rapidamente. Os pratos escondidos eram “pra inglês ver”. Isso para o povo ficou caracterizado como um terrível pão-durismo dos abastados, que cuidavam em esconder a comida do proletariado.

Com o intuito de enganar os inquisidores e outros bisbilhoteiros de ocasião, a proibição de carne de porco e seus derivados, acepipes todos proibidos aos seguidores das regras e das normas de Moisés. Para os portugueses e depois para os brasileiros, o porco era festejado, assim como o salame, o presunto e as lingüiças. Adotaram os cristãos-novos imitar o costume dos católicos, isto é, simulando esses alimentos com carne de gado, disfarçando o toucinho, de cor branca, com o pão. Dando, no entanto especial cheiro com folhas de alheira, que possuía odor forte e penetrante. Daí o Festival de Alheira, ainda hoje presente no cotidiano dessa gente que tanto preza os ancestrais.

Vestir a carapuça, toda gente sabe, que é justamente assumir a culpa, declarar-se culpado pelo erro ou pela falha. Mas, remonta o tempo da Inquisição, no qual os indiciados eram levados ao julgamento com uma túnica e mais uma enorme carapuça, semelhante, não fosse a cor preta, à dos nossos palhaços. Finalmente, médico amigo meu escreve interessante e-mail confirmando a precisão do resguardo depois de se tomar leite ou seus derivados.





quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Outras Superstições e Outras Crenças

A crônica passada – Superstições e Crenças – teve boa repercussão, porque suscitou comentários, poucos, mas suficientes para levantarem outras superstições e outras crenças. Uma dessas, de prima que assiste sob a proteção dos contrafortes da Serra da Borborema e que está começando na Internet, com o auxílio de um Ipad. Foi ela quem disse que não dorme, por dinheiro nenhum, em cama com os pés virados para a porta da rua, mesmo reconhecendo que não se faz mais velórios em casa. Disse também que copo d’água no quarto de dormir tem que esvaziar e que os sapatos devem ficar jutinhos, quase abraçados. E mais, espelho quebrado é sinal de morte na família.

Amigo meu do Cariri, paraibano também, escritor, de muito boa pena, fez novas observações. Lembrou das comidas carregadas, as quais estão proibidas para mulher menstruada. Carne de porco e camarão são alimentos perigosos a quem guarda resguardo. O que eu não sabia era do risco de tomar coalhada e antes das 24 horas regulamentares, almoçar uma buchada ou comer uma mão de vaca. Foi ele que disse que Câmara Cascudo, há muito encantado no infinito das coisas, leu o texto e deu uma bonita baforada no charuto que fumava e resmungou: “Este menino de Nilo vai longe!”. Veja só o leitor!

Outro amigo de um canto muito caro pra mim, como foi, e continua sendo, Pau Amarelo, acrescentou que a carne de peru é sabidamente reimosa. Peru, diz o povo, é bom evitar no Natal, porque cisca pra trás. Melhor o porco, que não cisca e tudo que faz é pra frente. E recomenda: para gagueira uma pancada na cabeça do penitente gago com uma colher de pau. Para terçol, soprar é remédio muito usado, mas “língua de sogra”, diz ele, também serve. Só não explica o que deve fazer a sogra com sua língua no olho doente da nora ou do genro. A cura do hábito de beber, é simples, basta fazer um chá com pena da asa de urubu, depois de pisá-la e torrá-la. Funciona também mandar ingerir o pó.

É vivendo e aprendendo!