quinta-feira, 5 de julho de 2012

Um passeio cultural

Fui ao Leste europeu e fiz um cruzeiro pelo Báltico. Voltei com a geografia do lugar consolidada em minha cabeça e com informações históricas novas. Mas, não trouxe na bagagem aquele sentimento de que a minha cidade é a pior do mundo. São lugares diferentes, lá com muitos séculos e cá com menos de quinhentos anos e injunções sociais variadas. O Recife há de crescer assim!

Vi rodovias ótimas e um esforço permanente de manutenção. Caminhões parados refaziam o pavimento, com uma sinalização perfeita. As moradias das áreas rurais dignas, de alvenaria, contando com chaminés que deixavam sair a fumaça das lareiras. Havia frio no Velho Mundo. Casinhas com a coberta em duas águas e a saída do bueiro, verdadeiros cartões postais. Veículos de último modelo nessas povoações.

A organização urbana é surpreendente, cidades limpas e povo educado, calçadas sem buracos, permitindo o circular da gente idosa. Bondes que trafegam por toda urbe, dispondo de razoável conforto. Vi um congestionamento ou outro, mas de proporções mínimas, dispensáveis. Sem falar na circulação de pessoas pedalando, simplesmente. Na Dinamarca, por exemplo, a guia mostrou o parlamento e o lugar em que estavam as bicicletas dos deputados. Até a Rainha ou seu Consorte são vistos assim, pelas ruas, na condição peculiar e temporária de ciclistas.

Praga, que está no centro da Europa, atrai gente do continente todo, é belíssima. É de tal forma antiga, que há uma referência ao desentendimento entre o príncipe Venceslau e seu irmão Boleslau, imagine o leitor, no ano 935. Um passeio no rio Vitava mostra a cidade debruçada n’água, com um casario gótico. Casas quase hídricas, com portas e janelas que se limitam com a correnteza e permitem à gente da cidade admirar o bucólico da noite, com o sol ainda de pé. Lanchas e barcos ancorados diante das residências, enquanto outros navegam, rio acima e rio abaixo, numa curtição possível da vida.

Somente em São Petersburgo é que notei certa aspereza no trato com o turista. Talvez um resquício do sistema comunista. Um refrigerante no parque da cidade ou um café mais adiante não foram servidos com gosto, com a delicadeza que se esperava. Mas, a beleza e a grandeza do Hermitage superou qualquer rispidez. Ainda há por lá gente morando em apartamentos coletivos, razão talvez para uma certa indisposição de espírito.

(*) - Uma crônica publicada hoje (5 de junho de 2012) no Jornal do Commercio do Recife. Um texto sobre algumas de minhas experiências no Leste Europeu e outras vivências no mar Báltico. Lugares que nunca imaginei que iria. Artigo reproduzido, de hábito, no Jornal Besta Fubana.

3 comentários:

  1. Sienpre pensei que o viajar abre a mente, dá perspectiva e faz melhorar teu meio mais próximo. O viajar deveria ser um exercício recomendado pelos médicos e financiado pelo Estado. Um abraço Geraldo. Hermenegildo

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  2. Geraldo,pergunto e respondo: como chegaremos aos patamares europeus? resposta: educação, mas educação "lato sensu" como pregava o Mestre Paulo Freire, que terminou preso pela ditadura por causa disso. Povo educado (informado) sabe cobrar, porque cobrar e, também, contestar!isso tudo não interessa ao poder. O boi, se soubesse a força que tem, seria bem mais difícil levá-lo à morte no matadouro. "Mutatis mutandi", um povo informado tem consciência da sua força e não é facil de ser manobrado, de se deixar engabelar. Aí, "nossos reis passarão a andar de bicicleta". Um abraço do seu discípulo Silvio Costa, o da UFPE.

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  3. Geraldo,

    Enquanto não vou in loco, vou viajando com você em mares nunca dantes navegados por mim. Verdadeiro banho de civilização. Compartilho com você a sua alegria e o seu ver de perto tudo que quis ver.
    A crônica nos embala e quase nos faz ter ido junto.....

    PARABÉNS!!!!
    Eliana

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