Dizia
meu pai que as pessoas pedem uma graça e deixam o retrato, imaginam que dessa
forma a imagem continua pedindo em nome do penitente ou da penitente. Realmente,
certa vez atendi uma figura que trouxe a fotografia de sua mãe e verbalizou:
Doutor! Como a minha mãe está impossibilitada de comparecer, eu trouxe o
retrato dela.”Eu achei aquilo ótimo e com muito jeito disse a ela que eu não
podia atender a sua genitora olhando somente a foto, não era milagre de Deus
ou dos santos. E a criatura conformo-se, levou a fotografia de volta e
providenciou a vinda da mãe. São passagens que não acontecem mais, porque o
tempo está diferente e globalizado, o que se passa na Paulista, em São Paulo,
repete-se na Encruzilhada de São João, isto é hábitos e costumes são os
mesmos nesses anos de pós-modernidade.
Agora,
depois que comecei a estudar os ex-votos, sobretudo aqueles de Igarassu, vistos
e descritos pelo Imperador Pedro II, tenho visto retratos postos nos santuários
a título de agradecimento. Isso não dispensa a tese de meu pai de que antes
mesmo da graça a imagem ficaria pedindo. Pelo contrário, reforça a
afirmativa. Mas, sendo assim – se fica para pedir – foi o caso daquele retrato ¾
que encontrei na Igreja de Santo Antônio, antes da Missa do Monsenhor Nogueira,
posto assim, junto a uma imagem qualquer que já não lembro qual. Eu confesso que
vi aquilo e tive vontade de tirar, de embolsar, para fazer uma brincadeira
qualquer por ai. Trouxe pra casa o material retirado da Igreja; material com as
bordas picotadas, como antigamente. O meu pai recomendou: “Volte com isso e
bote onde achou!”. Não voltei!
Tive
a ideia de azucrinar o juízo de namorada muito dedicada de primo ilustre – já àquela
época ilustre – e preparei um pequeno bilhete com dizeres mais ou menos assim: “Meu
querido Felisberto. Ai vai o retrato de sua ex-sogra, a quem você tanto
dedicou-se, dando-lhe inclusive o vestido da foto. Guarde essa imagem como
prova do nosso amor. Maria da Anunciação”E como havia na rua um camarada em
franco processo de transformação de católico não praticante para protestante de
hábitos diários, cuja prática incluía andar com um exemplar da Bíblia sob os
braços, mandei que entregasse ao primo diante da namorada. Foi um bafafá do cão
e quase o namoro termina, rompido pela simples foto tirada da igreja.
No fim, no fim, os Cr$5,00
do trato pagaram o serviço. Esse camarada é o mesmo que uma vez ligou para o
meu celular e disse: “É o seu amigo Valter”. Ora como ia identificar, passados
tantos anos, aquele prenome? Mas, quando verbalizou o apelido, “Coruja” não houve
mais dificuldades. E por coincidência eu estava numa igreja também.
Um texto escrito depois da lembrança de episódio ocorrido nos idos e vividos anos sessenta, quando encontrei numa igreja - Santo Antônio - um retratinho 3/4 de penitente, que segundo meu pai deixara a foto pedindo a graça de seus desejos. Os leitores que desejarem comentem no espaço mesmo do Blog ou o façam para os e-mails pereira@elogica.com.br ou ainda pereira.gj@gmail.com A crônica tem sido reproduzida pelo Jornal A Besta Fubana.
Um texto escrito depois da lembrança de episódio ocorrido nos idos e vividos anos sessenta, quando encontrei numa igreja - Santo Antônio - um retratinho 3/4 de penitente, que segundo meu pai deixara a foto pedindo a graça de seus desejos. Os leitores que desejarem comentem no espaço mesmo do Blog ou o façam para os e-mails pereira@elogica.com.br ou ainda pereira.gj@gmail.com A crônica tem sido reproduzida pelo Jornal A Besta Fubana.
Geraldo,
ResponderExcluirNilo Pereira contava e encantava a todos com suas histórias. De conhecimento muito abrangente, todos que conversavam com ele passavam a admirá-lo de forma extremamente significativa.
Conhecia o fato. Você, espirituoso e inteligente, soube fazer uma brincadeira que coincide com o pitoresco de seus dias. Sorri muito..
A propósito, onde encontrar o seu novo Livro?
Abços, Eliana