Pela manhã, no horário das 10 horas, há um programa de péssima qualidade sendo exibido; programa de baixaria, da revelação do segredo de muitos e da ciência por outros desses sigilos. Às vezes eu o assisto! Vou anotando essas confidências, com a intenção mesmo de juntando-as escrever uma crônica, como faço agora. Muita gente vai ali para dizer a um amigo ou uma amiga certas intimidades que o outro ou a outra ainda não sabia. Muito frequentemente amigos se revelam e dizem horrores aos antigos confidentes. Ou os filhos decidem expor essas confissões aos pais, sobretudo às mães, deixando-as em caldos.
Dia desses, ouvi uma filha voltar-se para a genitora e dizer que não a sustentaria mais e que a traria para morar consigo, desde que ela lhe servisse como empregada doméstica. A pobre da mulher quase cai de susto e disse que não se disporia a tanto, mesmo que para isso precisasse morar debaixo da ponte. Coitada! É comum o noivo que vai ao auditório para acabar o vínculo que tinha com a moça, depois de ter gasto o dinheiro todo que a penitente vinha economizando. Em certa ocasião, vi um irmão que resolveu informar à irmã que ele passaria a investir os seus recursos poupados. Mas, investir numa criação de baratas, para serem usadas por laboratórios. Ora pau! Já muita gente investindo dinheiro, mas em baratas foi a primeira vez.
Uma jovem, há pouco largada pelo marido, ajoelhou-se no palco, dizendo que daria tudo para ser a “outra”. Tive até pena dessa suplicante, tal a forma melosa com que pedia. Mas, o outro cônjuge fez cara de mercador e não a quis mais. É isso ai! Outra vez, uma jovem esposa contou que fora visitar a melhor de suas amigas, mas como o marido era ciumento ao extremo – tinha ciúme até das roupas... -, escondeu-se no guarda-roupa quando ele chegou e quando apareceu em casa de madrugada, mentiu ao marido e contou que estava fazendo serão no escritório. Essa pobre quase vai ao desespero, com o consorte se queixando de suas mentiras. É isso mesmo! Às vezes, melhor nem dizer nada!
Mas, a mais interessante mesmo foi aquela de uma vizinha que chamou a sua amiga, da casa ao lado, para notificar sobre as saídas de seu marido e os destinos dessas escapadelas. É que ele fazia visitas furtivas à moradora de frente e sabia justamente se podia ou se não podia comparecer a esse encargo quase cívico de sua vida. Guiava-se pela cor da calcinha que estivesse estendida, se verde, com toda certeza iria ao encontro dessa criatura, se vermelho, que não se arriscasse, porque o marido de casa não saíra. Mas, na eventualidade do amarelo, que esperasse a decisão do titular: ou saía e a cor era trocada para o verde ou se fosse o vermelho a ocupar a corda de estender roupa do terraço, nem pensar em subir. Essa turma tem jeito pra tudo!
Lembrei de parente meu que marcou com uma mulher bonitona passar com ela o fim de semana. Era a sua vizinha de frente. Chegando em casa disse à esposa que ia a São Paulo na sexta-feira, a negócio. A companheira, não sei porque cargas d’água, disse que o levaria ao aeroporto, pelo que se deu o diálogo a seguir:
- Não se preocupe! Deixo o carro na garagem e me resolvo. Quando retornar tomo o automóvel e volto a nosso convívio.
- Não, de forma alguma!
- Não, de forma alguma!
Não adiantou e a consorte foi com ele ao pretenso embarque. Ele, não teve dúvidas, comprou ali mesmo uma passagem de avião e embarcou decidido. Durante o voo procurou o comandante da aeronave e explicou o ocorrido, pretendendo descer no caminho.
- Me deixe descer em Salvador!
- Não é possível o passageiro descer antes de seu destino final, explicou o capitão. Mas, diante da importância de sua justificativa, considerando o serviço que há de prestar à causa masculina, permito-lhe a exceção. E ele desceu!
Entrou por uma perna de pinto, saiu por uma de pato e o senhor rei mandou dizer que contasse quatro.
Geraldo: Penso, às vezes, que é necessário tomar conhecimento de tudo . Assistir da baixaria aos melhores programas elitizados.....
ResponderExcluirVocê fez um texto um tanto diferente, leve , mas com nuances que fogem do nosso dia a dia. Se bem entendi, a história de querer ser a outra foi bem interessante. Sei lá se ela tinha razão: é bom ser amada, mesmo sendo a outra?
Bjs, Eliana
Meu caro acadêmico Geraldo
ResponderExcluirA mídia vai em busca das misérias humanas para se fartar no vil metal. E o povo gosta, o patrocinador vende e a vida continua. A calcinha me fez lembrar a mitologia grega. Egeu deu cabo à existência por conta da cor da bandeira içada no barco em que seu filho, Teseu, retornava de Creta onde matara o minotauro. Mutatis mutandis imagino o que poderia ocorrer na eventual troca da cor da calcinha. Talvez, uma tragédia suficiente para vender muito eletrodoméstico na mão de um Cardinot da vida, ou melhor, da televisão. Parabéns por mais uma das suas deliciosas crônicas. Silvio A. Costa.
Caro Geraldo:
ResponderExcluirMuito interessante a sua crônica, quando nos conta de maneira única, o que se passa nos nossos dias. As calcinhas servindo de "bandeirolas" de aviso para o
vizinho é inteligente. No mais, há jeito pra tudo na vida, já podemos ver... Até ter um piloto de avião compactuando com a safadeza... Enfim, é o que temos por esse mundão afora. Adorei ler e aprender ainda mais com quem sabe contar as histórias dos dias. Obrigada. Parabéns por seu texto maravilhoso!
Um abraço,
Lígia Beltrão