Há coisas que acontecem comigo que o diabo duvida de costas, em noite de sexta-feira treze! São ligações telefônicas erradas, recebidas ou discadas ou são anotações de agenda trocadas na minha cabeça. Foi assim que compareci ao casamento de amiga minha, marcado para um dezenove qualquer do ano, sete dias antes e nada ou quase nada encontrei na igreja. Indaguei do flanelinha em bom português se havia por ali um enlace matrimonial e o menino, ávido pelo trocado que não chegou a receber, de pronto confirmou. Não perguntei pelo nome da noiva, porque quem toma conta de carro ignora esses detalhes, faz o seu papel no teatro da vida e nada mais. Entrei e havia pouca gente no templo, pessoas concentradas no meio dos bancos, em torno de um bebê. Era um batizado, na verdade e eu dei com os burros n’água!
Pior com o velório! É que morreu um homônimo de uma pessoa que conheço há muitos anos, da qual me afastei pelas circunstâncias do existir e não tive dúvidas, vesti o paletó, apertei a gravata e parti em direção ao cemitério considerado também um parque e que de parque nada tem. Identifiquei o lugar no qual se fazia o ritual da finitude e cumprimentei a todos. Não havia um conhecido que fosse! Notei uma certa estranheza, como se estivesse completamente fora do contexto e estava. Olhei para o homem largado à própria sorte e observei que usara bigode em vida, característica ausente no meu ilustre amigo. Do celular, mesmo, contei à minha dedicada secretária o impasse. Ouvi a recomendação necessária: “Volte! Ele nunca usou bigode!” Para a família, restou a perplexidade. Afinal, eu nunca tinha visto o pobre do defunto!
Mas, durante uma reunião em Olinda, no convento do Carmo, tocou o telefone. Nunca atendo esse equipamento quando me ocupo. A oportunidade, porém, de ir à janela e dali apreciar o mar, para mim foi uma tentação irresistível. O interlocutor, então, se apresentou: “É Valter!” Há quem pense no prenome como uma identificação definitiva, como se fosse o único no mundo com aquela nomeação. Fiz um esforço de memória, associando a voz com o nome, mas foi debalde. E ele: “Você não está me reconhecendo?” Respondi com todo cuidado: “Estou começando a reconhecer! Aos poucos saberei de quem se trata!” Ai, complementou: “Sobrinho do finado Wilson!” Piorou tudo, inibiu todas as minhas associações! Desesperado, entretanto, explicou: “É Coruja!” “Bom! Coruja eu conheço!” E o diálogo prosseguiu! Tinha morado em minha rua nos tempos de menino e virou pastor, como tantos por ai!
De outra feita, pedi à telefonista que ligasse para amigo meu que dirige instituição importante e que havia me pedido fosse resolvida uma questão de seu interesse, para continuar o trabalho que vinha fazendo. Dei como indicação o prenome e mais o cargo que exerce. A moça, muito solícita aliás, fez a conexão e passou a ligação. Como tinha resolvido tudo, disse, de logo: “Fique tranqüilo! Vamos continuar juntos nessa luta pelo social! Pela gente simples e pela educação!” Ouvi de meu interlocutor de ocasião uma exclamação que estranhei, francamente: “Por que você fez isso? Eu não lhe pedi! Eu não preciso disso! Vivo aqui de meu negócio e não me meto com nada que esteja na esfera do social!” Perdão, quase peço, pois que era da iniciativa privada e não tinha a menor relação com aquilo que lhe transmitia por telefone!
Uma vez, numa sexta-feira de Carnaval – já vai longe –, recebi telefonema de uma certa criatura que procurava pelo namorado, indagando: “André está?” Ora, não existe André por aqui e ninguém com namorada, mas não perdi a oportunidade: “Está no bar da esquina, completamente embriagado!” E ela: “Eu não acredito nisso não! Ele prometeu que iria comigo ao Galo!” E eu: “Você é a quinta pessoa que liga! Ele prometeu a mais quatro!” Não hesitou em responder: “Vou matá-lo!” Não o matou, certamente!
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Achei genial sua resposta em relação ao telefonema pra esse André! Rapaz, eu vou começar a falar essas coisas também!
ResponderExcluirPróxima vez que um dos candidatos a namorado de minha irmã ligar, vou aperriar!