A Academia de Artes e Letras de Pernambuco, a cujo sodalício pertenço por generosidade de sua gente, publica todos os meses um mais do que interessante Informativo, veiculando notícias e sobretudo excertos de palestras e artigos dos consócios. O mestre Carlos Ferraz cuida de tudo, da organização geral à seleção das matérias, da redação dos informes à digitação. Confesso que recebo o periódico com muito gosto! É a forma que tenho de participar da Casa, haja vista a minha dificuldade em compatiblizar os horários das reuniões com os meus, preenchidos, agora, por tantos afazeres, nesses prazeres de meu labor! Particularmente, venho sendo honrado com a transcrição de parte das minhas crônicas, publicadas, sempre, no JC. Agradou-me, em tudo, a veiculação de um discurso de Jamerson Ferreira Lima, que fala da Lenda da Alamôa, contada em Fernando de Noronha, retratando a paixão ardente de um certo varão, de cujo ciúme nasceu o ódio e de cujo ódio materializou-se o crime. A mulher, lindíssima, como refere o médico e escritor, loura e por certo, de cabelos longos e viçosos, dança na praia em noites de tempestade, desnuda, inteiramente, reacendendo a chama dos amores perdidos, injustamente!
E é no altar dos rochedos que a musa aparece! Emerge dos mares, para, novamente, dançar e encantar os homens de boa vontade, sob o som dos trovões e a claridade dos relâmpagos, como se o sacrifício da morte pudesse ser repetido assim, tantas vezes, ao rugido dos ventos, quando a chuva engrossa o tempo e a negritude encobre os céus. Mas, volta, na verdade, como diz o autor, para rever o amante preso, como ficou, na Ilha, chorando o pranto dos arrependidos, derramando as lágrimas de todos os remorsos, que marcam as rupturas mais do que definitivas, irreparáveis. E um outro de Pernambuco, Ferreyra dos Santos, cantou a “Alamôa” em versos do perdão: “... Alamôa/Alamôa/Sai dos olhos/Do pobre pecador/Tu que és mulher/Tem pena do homem/Que o crime dele/É crime de amor”. E muitos naquela ilha, que do Atlântico é a esmeralda, têm visto, em noites de temporal, a figura feminina bailando nos ares, de cabelos doirados, esvoaçantes, buscando nas areias cálidas o gesto, que seja, de entendimento, afinal. A reconciliação impossível, pois, do fantasma, condenado à diluição no etéreo das coisas, com o amante reduzido à condição de traste humano, arrastando, nos pedregulhos do lugar, fragmentos de vida.
E é no altar dos rochedos que a musa aparece! Emerge dos mares, para, novamente, dançar e encantar os homens de boa vontade, sob o som dos trovões e a claridade dos relâmpagos, como se o sacrifício da morte pudesse ser repetido assim, tantas vezes, ao rugido dos ventos, quando a chuva engrossa o tempo e a negritude encobre os céus. Mas, volta, na verdade, como diz o autor, para rever o amante preso, como ficou, na Ilha, chorando o pranto dos arrependidos, derramando as lágrimas de todos os remorsos, que marcam as rupturas mais do que definitivas, irreparáveis. E um outro de Pernambuco, Ferreyra dos Santos, cantou a “Alamôa” em versos do perdão: “... Alamôa/Alamôa/Sai dos olhos/Do pobre pecador/Tu que és mulher/Tem pena do homem/Que o crime dele/É crime de amor”. E muitos naquela ilha, que do Atlântico é a esmeralda, têm visto, em noites de temporal, a figura feminina bailando nos ares, de cabelos doirados, esvoaçantes, buscando nas areias cálidas o gesto, que seja, de entendimento, afinal. A reconciliação impossível, pois, do fantasma, condenado à diluição no etéreo das coisas, com o amante reduzido à condição de traste humano, arrastando, nos pedregulhos do lugar, fragmentos de vida.
Ali mesmo, na Ilha de Fernando de Noronha, outros amores impossíveis nasceram e não floresceram. Feneceram, então! Um desses, o da loira vinda das distâncias sulinas, trazendo na genética o traço europeu - Uma Alamôa também! -, com o nativo amorenado, cafuzo de origem, metade negro e metade índio. Os gestos finos da mulher, de unhas aparadas e ainda pintadas, faziam o contraponto com a forma embrutecida, quase, do ilhéu. E quando o comandante da aeronave, estacionada, já, no pátio, avisou da impossibilidade em levar toda gente, os olhos do nativo brilharam de felicidade e a moça, ao telefone, comunicou à família o adiamento inesperado, mesmo que desejado. Na Praia do Este, sob o sol poente, depois, perdidamente se amaram! Mas, ao primeiro sinal do dia, a despedida, outra vez, aflorou, separando, agora, para todo o sempre, aqueles amantes de efêmeros amores. O avião tomou posição na pista, rolou em velocidade elevada e alçou, finalmente, o vôo e nos ares da arquipélago foi promovendo a metamorfose de uma realidade assim, sentida e muito curtida, transformando tudo em lembranças, apenas, em saudades paridas de sonhos vividos. Devaneios, então, a preencherem vazios!
E outras “Alamôas” existem, muitas, infelizmente, condenadas à perpetuidade da dimensão do eterno! Muitas, também, vivendo as dores das chagas d’alma, que é uma forma de matar o espírito, preservando a matéria. Pra todas, os versos, ainda, do poeta: “...De vento no açoite/Uma sombra de gente/Se põe a dançar/Alamôa/Alamôa/Foi homem que pecou...”. Que os homens não pequem assim, com a morte e o maltrato das musas do tempo! Só as flores podem açoitar da amada a face!
E a Jamerson Ferreira Lima, novo acadêmico de todas as olindas, esta crônica.
(*) Crônica escrita e novamente publicada em homenagem a Jamerson Ferreira Lima, médico e escritor, nutrólogo e humanista, há pouco encantado para o infinito das coisas. Mas, oferecida, também, aos que fazem a Toyolex, a da av. Agamenon Magalhães: Felipe, Ítalo, Adriana e todos os demais. Gente que tão bem me atendeu e que teve a inusitada paciência de ouvir as minhas histórias, nunca as minhas estórias.
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