Vez ou outra me deparo com dificuldades de acesso aos lugares, às vezes por implicância minha, confesso. No passado, no tempo da ditadura militar, era comum à entrada dos quarteis o civil comum ser investigado o mais que pudesse, contanto que a segurança militar estivesse assegurada. Parece que relaxaram tanto que os batalhões têm sido assaltados. Nesses anos, mais de uma vez, fui convidado a visitar, por motivos diversos, algumas dessas unidades e costumava simular um certo descaso pelos guardas de serviço no momento. Fiz isso em algumas ocasiões! Por pura sem-vergonhice! Numa dessas, quando da ameaça de uma epidemia de Dengue – a primeira das grandes epidemias –, fui ao antigo e temido IV Exército, para uma palestra em torno da emergente virose.
Chegando ao lugar, entrei pelo acesso principal, fazendo de conta que não ouvia as advertências do sargento responsável pela guarda: “Senhor! Senhor! Vai pra onde?”. Continuava andando como se nada acontecesse atrás de mim. Foi quando o homem, armado com uma metralhadora automática, surgiu na minha frente e disse: “Alto! Vai pra onde? Pensa que pode entrar assim, sem dar satisfação a ninguém!”. Eu não pensava, eu sabia que não podia. Mas... E me voltando para a autoridade, expressei em bom português: “É, meu senhor! Eu ia, mas agora, com esse vozeirão todo do senhor, eu não vou mais!”. E pedi que me fizesse a gentileza de comunicar ao general que tendo sido barrado, não podia mais pronunciar a palestra para a qual fora convidado pelo comandante. O sargento quase se ajoelha, derramando-se em desculpas. E eu me dirigi ao auditório, onde falei a um seleto grupo de médicos militares. Como não tinha exemplos a oferecer, senão o de Cuba, fiquei com a casuística da ilha de Fidel! Pegou mal!
De outra feita, fui chamado a um determinado hospital militar. É que um soldado tinha chegado da África doente e o médico assistente gostaria de uma opinião. Depois de ter estacionado o carro com alguma dificuldade, porque o recruta responsável não quis acreditar em minhas explicações, entrei no estabelecimento. Hospital assim, funciona quase como um quartel. Estava de plantão um dentista e eu fui entrando para a sala dos médicos. Ele veio atrás de mim, com toda razão, claro, indagando em voz alta: “Vai pra onde? Vai pra onde?”. Eu ia, meu senhor, mas depois de seu carão e de sua brabeza, com essa pistola enorme na cintura, francamente, não vou mais. “Ia pra onde?”. Ia ver um doente que me pediram, ia fazer um favor, um obséquio. E o odontólogo jovem, tenente ainda, implorou que fosse, pois estavam me esperando para o diagnóstico do paciente. Era um caso de Malária! E o doente ficou bom! Anda por ai zanzando, imagino, contando lorotas.E dessa forma, em momentos distintos, aqui e ali, eu fui barrado no baile.
(*) - A derradeira crônica escrita em Madri, sob um frio de 13ºC, e a sonoridade do cantar de minha filha, entoando para o meu neto Pablo cantigas de ninar, fazendo como antes antecipara com suas bonecas. É! O agora, é mesmo a materialização do ontem! Marejei os olhos! Ah! Como a vida passa rápida! E nisso, quase sempre, não se acredita. Desejando o leitor comentar, use o espaço do Blog mesmo ou o faça para pereira.gj@gmail.com ou ainda para pereira@elogica.com.br O autor gosta dessa interação com o leitor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário