Os médicos se encontravam no saguão do hotel nos intervalos das sessões. Naquela manhã, conversa vai e conversa vem, apareceu na recepção o Ludovico enlouquecido. Os olhos esbugalhados e os cabelos em pé sinalizavam que as coisas não iam bem. Foi o Malheiros quem se antecipou ao grupo e indagou de logo: “Mas, o que houve Ludovico?”. E ele quase não consegue se explicar. Disse logo que estava assim, atarantado, mais pela esposa que por ele mesmo; esposa a quem devia respeito e que em seu entender tinha sido vilipendiada pelos funcionários do estabelecimento. O silêncio que interrompera com o nada das coisas o ato de fiar conversa, fez o Pimenta levantar-se do lugar e com a calma que inspira os psiquiatras, sobretudo ele, descendente como é de barões ou de viscondes, aplacar a quase fúria o enlouquecido cidadão. O Pimenta aproximou-se e fez o Ludovico falar:
- Fala homem! Diz o que houve?
- Fala homem! Diz o que houve?
- É que esperei quatro horas pela chave de meu quarto. Fui ao shopping aqui perto e andei pelas avenidas, vi chegar o meio-dia e almocei em restaurante árabe. Até que afinal recebi o cartão magnético para chegar aos meus aposentos. Subi com a patroa e abri a porta do cômodo a mim reservado. Mas, o quarto estava ocupado e eu tomei um dos maiores sustos de minha vida.
Quando interrompeu, novamente, a sua descrição, o Macieira tomou a palavra e disse que se explicasse de uma vez. Enfim, o que acontecera? O que vira? Que susto fora esse que levara? O homem estava de tal forma abalado que o queixo tremia, como tremem os que estão sob o frio intenso dos invernos boreais ou dos invernos austrais. Mas, decidiu-se por falar, depois que tomara um copo d’água bem gelada, um café quente e recebera de presente do recepcionista encabulado uma dose de bom whisky. Sentaram Ludovico numa poltrona confortável e decretaram: fala homem de Deus! E o homem falou! Não sem antes ouvir o Malheiros: "Não há mais jeito! Sendo assim, o jeito é falar!". E a voz do interlocutor se fez ouvir!
Quando teve o cartão magnético liberado – não há mais chaves em hotéis de várias estrelas – subiu, tranquilamente, com a mulher, com toda a felicidade do mundo, até porque estavam completando 26 anos de casados e aquilo lá seria uma lua de mel a mais em suas vidas. Abriu a porta com o cuidado dos amantes em flor e qual não foi a sua surpresa, quando descortinou na cama o casal em pleno congresso conjugal. Foi um Deus nos acuda, disse de logo, o homem levantou-se brabo e reclamou da invasão de privacidade. A mulher ficou aparvalhada, sem jeito e sem gestos, com a fisionomia de quem não estava acreditando no que via. Tinha a cara de quem comeu e não gostou, a fisionomia de profunda decepção diante da privação a que se submeteu.
Quando teve o cartão magnético liberado – não há mais chaves em hotéis de várias estrelas – subiu, tranquilamente, com a mulher, com toda a felicidade do mundo, até porque estavam completando 26 anos de casados e aquilo lá seria uma lua de mel a mais em suas vidas. Abriu a porta com o cuidado dos amantes em flor e qual não foi a sua surpresa, quando descortinou na cama o casal em pleno congresso conjugal. Foi um Deus nos acuda, disse de logo, o homem levantou-se brabo e reclamou da invasão de privacidade. A mulher ficou aparvalhada, sem jeito e sem gestos, com a fisionomia de quem não estava acreditando no que via. Tinha a cara de quem comeu e não gostou, a fisionomia de profunda decepção diante da privação a que se submeteu.
Passados os minutos do impacto assim relatado, o Pimenta, como bom psiquiatra que é, indagou em voz pausada: “E você, colega, que impressão teve da ilustre dama a quem viu desnuda? Era bonita, bem feita e bem parecida? Ou se tratava de um troço desprezível?”. O Macieira acercou-se do grupo e complementou: “Já que você passou por esse vexame todo, aproveite o que ficou de bom, de gostoso e de belo! Afinal, valia a pena a mulher ou não?”. E o Ludovico, já sob os influxos da bebida que estava sorvendo a goles rápidos, acedeu em fazer uma descrição. Mas, faça com riqueza de detalhes, aduziu o Macieira, dentre todos o mais afoito. E o penitente começou a descrever a cena:
- Estava o casal sobre a cama, abraçados, em movimentos seguidos e cadenciados, como se ele fosse um cavaleiro a cavalgar uma potranca manga-larga. Quando saiu de sua posição congressual e quase veio à porta em trajes similares àqueles com os quais chegou ao mundo, deixou a companheira deitada, estatelada, vivendo a perplexidade da hora. Ai deu pra ver como era a penitente, como se apresentava a suplicante. Era figura feminina do tipo arabizada, mulher de seios pequenos, firmes, ao que parecia, de ancas largas. Chamava a atenção do observador, disse o velho Ludovico, cansado já de tanta guerra, a parte superior das coxas, grossas e sobrantes. Afinal, diga-se de pronto, a parte sobrante nada mais é que o culote. A Foi o que ficou, completou, o homem da inusitada visão.
E quando não se esperava mais nada, o casal flagrado em pleno congresso sexual passou pela recepção, não precisou pagar, porque os que são assim notados e dessa forma vistos estão dispensados do vil metal.
E por conta do episodio, conversaram às gargalhadas, a noite inteirinha, o irreverente Macieira, o pacato Pimenta e o tranqüilo Malheiros. Dava inveja ouvir as risadas do Malheiros, matreiro como era nas coisas do mundo.
(*) - Um relato de caso verdadeiro, visto e comentado em recente evento médico, sendo substituídos, como cabia, os nomes e evitado o lugar. Mas, um fato real, com os detalhes que o texto comunica. Comente no espaço mesmo do Blog ou o faça pelos e-mails: pereira@elogica.com.br ou pereira.gj@gmail.com O autor agradece.
Geraldo: realmente muito inusitado o fato...mas,são coisas que podem acontecer e que, na melhor das hipóteses, é tirar proveito da visão do "espetáculo" e dar boas gargalhadas.
ResponderExcluirNum Congresso, com tantos participantes, dá para animar as conversas. E por que não?
Abços Eliana