Desejando o leitor conhecer detalhes da sociologia da gente simples, sobretudo no que tange ao lazer, não há laboratório melhor que o Horto de Dois Irmãos aos domingos. O povo marca presença maciça no recanto ecológico, principalmente no final do mês, depois que o salário é pago e há um trocado a mais no bolso de cada um. Velhos fusquinhas, encostados a semana inteira, saem da garagem improvisada na entrada de casa, os ônibus de linha ficam cheios e outros são alugados para a finalidade quase turística de apreciar os animais e curtir um dia diferente. E lá vai a família inteira! Eu também estive por lá, cumprindo o desiderato parental, mas observando, atentamente, os detalhes todos do convívio entre os mais sacrificados na escala social. E assim passo ao leitor o que trouxe da visita.
As pessoas se preparam com esmero, como se a distração fosse uma festa, vestindo-se da melhor forma. Uma senhora, por exemplo, não dispensou as meias pretas salpicadas de pontinhos brilhantes, capazes de oferecerem proteção às pernas, mas de reflexo muito apropriado às luzes fortes das discotecas tupiniquins. É o brega, como se diz por ai! Os óculos escuros estão em moda, pelo que vi, todos trazendo a inscrição do fabricante no vidro e há vendedores ambulantes no local, com espelho e tudo, oferecendo modelos diversificados. Uma jovem bem cuidada passou um bom tempo experimentando alguns modelos de um camelô, para depois não comprar.
Vestido por vestido, francamente, fiquei lá com uma morena de formas bem desenhadas, à semelhança de um violão, a qual não suportando mais as alças, quase expõe a perfeição do corpo. Já vi isso doutra feita, em festa no Clube Português, quando a moça branca, bem parecida, rebolando numa cadeira, largou nos ares o seio piriforme. Uma negra, também, faz pouco tempo, numa sacudida de corpo, expôs uma mama por inteira. Outra, feia de chorar, não se deu conta e quando levantou lá se foi a saia pra cabeça, enrolada em dobra à altura da cintura. Interessante, da mesma forma, foram as conversas. Um homem negro fazia juras de amor a uma mulher branca, arabizada, de beiços tão grossos quanto os lábios sensuais das mulatas nacionais. Alisava a face da mulher amada, como se estivesse diante um tesouro descoberto há pouco. E estava, mesmo, porque a mulher valia aqueles afetos e aqueles afagos. E ela, caída de amores, derretida com tanto carinho, olhava o namorado com olhos pidões de aproximações ainda maiores. Quase deitam no banco do Horto. Deixei-os por lá num beijo de fazer inveja a Hollywood.
A da sogra é que foi danada! Sentada com o filho, falava da nora de uma forma absurda: “Meu filho! Carne dura se cozinha em panela de pressão!”. Imagine o leitor o drama da jovem mulher, diante de uma jararaca como essa preparando-lhe a cama. Sogra não tem meio termo: é boa ou ruim. Não existe uma sogra mais ou menos ou uma sogra boazinha. Presta ou não presta! E a esposa restou assim, condenada ao fogo da panela de pressão.
Um festa o Horto em dia de domingo. Gente de todos os tipos e de todas as raças. Dois japoneses me chamaram a atenção. Um desses levou a mulher, morena na cor, a mãe, amarela de nascimento e o cachorro, de pelo branco nacarado, que indiferente a tudo cuidava em roer os ossos que eram o lixo do piquenique improvisado. Uma mulher, amarela de berço, casada com brasileiro desgraçadamente feio, mas certamente bonito a seus olhos orientais, carregava o menino à moda de seus ancestrais e oferecia pastel com nome de sua raça.
E o macaco engraçou-se com a morena jubilosa. Fez bem!
O Blog está, novamente, circulando no períodico eletrônico "Besta Fubana", graças à ação pronta do Papa Berto I, da República Independente dos Palmares.
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