Na praia de Cumbuco, proximidades de Fortaleza, reuniram-se jovens executivos e suas famílias. Eu me acrescentei ao grupo, embora estivesse fora da idade média presente ao recinto. Havia cerveja bem gelada e acepipes variados; havia sobretudo o que conversar, nesse agradável exercício de jogar o papo pela janela. Ao fundo, um pássaro bonito, de penugem reluzente, ensaiava um trinar diferente, saudando o domingo que ia passando. Em certo momento, puxaram um assunto mais que interessante. Eu gostei que me enrosquei de conversar sobre seu Lunga.
Toda gente sabe que seu Lunga é o mais irreverente ser humano do Brasil, o mais impaciente e o mais abusado senhor dessas terras que Cabral descobriu. É o homem do tolerância zero. Contaram o que o diabo duvida em sexta-feira da paixão à noite. O personagem é um comerciante de ferro velho, de bugigangas sobretudo. Dizem que ele estava na loja, quando chegou um freguês interessado numa porca. O dono do comércio mandou que ele procurasse numa enorme caixa, repleta desses acessórios que se ligam aos parafusos da vida. Não houve jeito! Não achou! Ele foi lá, meteu a mão na ferragem e tirou a porca, dizendo: “Olha aqui!”. O penitente respondeu de logo: “Ótimo! Me dê por favor!". Seu Lunga não se fez de rogado e jogando o porca de volta na caixa, decretou: “Procure direito que você acha!”.
Contaram que Lunga estava tirando goteiras, defeitos das telhas de sua casa, um curioso passou e perguntou: “Tá tirando as goteiras seu Lunga?”. Ele respondeu: “Tô não! Tô é fazendo!”. E ai saiu feito louco a quebrar as telhas. Outra vez, dando uma surra em um dos seus filhos, quando ainda pequeno, o menino gritava: “Tá bom pai! Tá bom pai! Pelo amor de Deus! Tá bom!”. Lunga responde: “Tá bom? Que legal! Pois quando tiver ruim, diga que eu paro.". No seu comércio de sucata, ele também vende outros produtos, dependendo da ocasião. Uma vez tinha uma saca de arroz e um romeiro perguntou: “Seu Lunga como tá o arroz?”. E ele: “Tá cru, miserável!”. Outro romeiro parou pra comprar uns ovos que estavam expostos. Pegava cada ovo e balançava perto do ouvido, um a um, quando ia pelos 6 ou 7 ovos, Lunga disse: “Pare! Pare! Pare! Chocalho tem é no mercado! Pode sair!".
Dizem que numa madrugada, a mulher de Lunga teve um mal-estar, e gemendo ela acordou o marido:
- Lunguinha, Lunguinha, ta me dando uma coisa aqui...
- Então receba!
- Mas Lunga, é uma coisa ruim...
- Então devolva!.
- Tem veneno pra rato?
- Tem! Vai levar?
Seu Lunga resolve andar um pouco e sai com seu chapéu grande e antigo. Durante sua caminhada resolve coçar a cabeça sem tirar o chapéu, então uma conhecida dele pergunta:
Seu Lunga responde na bucha:
-E a senhorita tira a calcinha pra coçar o tabaco?
O Seu Lunga consegue um emprego de motorista de ônibus. No primeiro dia de trabalho, já no final do dia, ele para o ônibus em um ponto. E uma mulher pergunta:
- Motorista esse ônibus vai para a praia?
E o Seu Lunga responde:
- Se você conseguir um biquíni que dê nele.
(*) - O detentor dessas histórias todas é Silvio Costa Andrade, engenheiro de mão cheia e genro de seu Borba, uma figura, em tudo muito diferente do personagem, mas uma pessoa do tipo "gente fina", nascido e criado no verde do canavial de Itambé, cidade do Areópago e da primeira loja maçônica das Américas (será?). O leitor tendo gostado, comente no espaço mesmo do Blog ou faça para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com Se gostarem, ainda tenho mais e hei de contar por cá.
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