Estou aguardando a hora chegar, para ir almoçar fora, no Restaurante Talude e lembrei de uma certa ocasião em que fiz uma refeição assim, na aludida casa de pasto, como já se usou chamar. Não sou muito de sair de casa para degustar um filé ou um camarão, um churrasco ou um sushi; uma lagosta talvez, porque me apetece. Sou mais do sono depois do almoço, da sesta, como chamam os espanhois, que fecham tudo, até que descansem após o repasto. Mas, o convite é nobre, porque parte de gente de muito boa estirpe, gente fina no dizer cotidiano.
Lembrei que era Vice-Reitor e estava em paz comigo mesmo no Gabinete, pensando no dia a dia das coisas, quando recebo o recado do Reitor, queria falar um assunto urgente. O relógio marcava, aproximadamente, 11 horas da manhã e a missão que se apresentava era simples: almoçar com um casal de cubanos, ele ex-Reitor de uma universidade da ilha de Fidel. Disse que podia ir – por dentro não pensava isso, mas guerra é guerra –, o que não podia era pagar, pois que embora o meu contracheque trouxesse um item relativo à ajuda de custo, recebia apenas CR$ 40,00, que não daria para quase nada.
Essa ajuda de custo, pelo que me disseram, seria para arcar com despesas dessa natureza ou para assumir a compra de roupa, usava paletó e gravata. Por certo que daria para comprar uma gravata brega lá pras bandas do Mercado das Pulgas, em Paris ou em Londres. Isso partindo do principio que a moeda americana estava em nível de igualdade com o Real. Bons tempos, aqueles! Imagine o leitor custear 3 almoços! Os dois para o casal e mais um para mim, que não sou de ferro. Bom, peguei o casal no lugar marcado e fomos em direção ao restaurante, escolhido apenas pela proximidade da Universidade.
Ia pensando no caminho: “Esse Reitor, cubano como é, não há de saber detalhes dos whiskys disponíveis no Brasil. A marca boa e a marca ruim!”. E com essa esperança seguimos em frente. Ao sentarmos para o almoço, em mesa bem localizada e com agradável paisagem, fiz a oferta: “Desejam algum aperitivo antes do pedido?”. A resposta foi uma surpresa pra mim: “Sim! Uma dose de whisky Johnnie Walker, rótulo preto!”. Caramba! Quase digo! E de uma dose passou-se a quatro, enquanto eu e a senhora tomávamos refrigerante. Afinal, eu estava trabalhando!
O mais interessante foi o final, quando ofereci uma sobremesa qualquer, à escolha do casal, porque àquela altura eu já estava me dando por vencido e a senhora disse: “Eu não bebi! Ele tomou quatro doses! Posso pedir quatro sorvetes?”. Homem de Deus, nunca vi isso: uma pessoa pedir de uma só vez quatro sorvetes. Disse com os meus botões! Vieram um a um e ela degustou a todos. Durante a conversação e depois da segunda dose, o homem queixou-se, disse que só tinha um carro, mesmo assim um modelo russo, feio e ruim. A filha pelo geral precisava do automóvel e ele se virava como podia, de ônibus ou a pé, contando os postes, diriam os meus amigos de infância.
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