Acordei muito cedo, com o relógio marcando 3:20 horas. Mas comigo é assim mesmo, sou de me recolher com as galinhas quase e de me levantar antes que o galo cante. Essas expressões caíram em desuso, porque a globalização da economia e a mundialização da informação fizeram desaparecer os galinheiros das moradias. Outrora, casa que se desse a respeito não dispensava uma cerca no fundo do quintal e o concurso de penosas poedeiras, trazidas da feira do bairro, para abastecer de ovos a família e garantir o almoço domingueiro. Galinha ao molho pardo se dizia ou apenas guisada, à moda dos nossos avós. Hoje não, nos apartamentos da classe média não cabem mais essas antigas dependências e mais do que isso, o dia reservado ao culto é também a ocasião para se fazer a refeição fora de casa. Não há mais quem faça o almoço ou o jantar!
Mas, acordei assim, tão cedo e me sentei na cama, porque tinha visto na parede uma luz frágil, que parecia caminhar sobre a peça de alvenaria do quarto. Pensei que estava com uma alucinação em curso. Passei as mãos nos olhos, abri as pálpebras e confirmei. Era isso mesmo! A luzinha muito fraquinha se deslocava acima e abaixo no meu quarto de dormir. Acendi uma luz mais forte, a do telefone celular, que também se presta à essa função auxiliar, isto é, a iluminação para melhor esclarecer uma aparição como essa, não identificada. Era somente um vaga-lume e eu estava em Aldeia, onde ainda aparecem esses insetos luminosos. Lembrei de minha avó paterna, que nos tempos de boa visão me mostrava esses bichinhos no Recife, onde já houve um passado diferente dos dias que correm.
Hoje não, a cidade está preenchida por prédios e mais prédios, verdadeira selva de pedra e não se tem mais nada que possa lembrar o outrora dos anos. Quando era menino, bem menino, numa abertura que havia no piso do terraço de casa, se escondiam caranguejos que escapavam da panela e cágados aparecidos ninguém sabia de onde. Tanajuras em revoadas das núpcias caiam de pesadas e eram selecionadas para uma fritura nas caçarolas da cozinha, contando sempre com a parceria das domésticas, que eram, quase sempre, mulheres tangidas da bagaceira pela monotonia de um vegetal só: a cana-de-açúcar. Tempos em que o mascate passava em carro puxado a cavalo e que o amendoim era vendido em balaios às costas. Sobre isso, sobre os velhos pregões, Fred Monteiro, que escreve no Jornal Besta Fubana, tem texto e cantoria de muito boa qualidade.
É dele a alusão ao “gringo da prestação”, que vendia de um tudo, inclusive as antigas sianinhas, um nome que sempre me pareceu delicado e feminino; feminino no sentido da meiguice que caracteriza a mulher. E os cartões de botões de todas as cores e de todos os tamanhos? Não estou lembrado de “Mané do Palito”, mas tenho na cabeça exatamente a figura de “Chá Preto com Pente”. Vale à pena o leitor conferir a música de Fred, intitulada: “Mascate das Lembranças“. Passo aqui o link da cantoria: http://www.luizberto.com/mascate-das-lembrancas-fred-monteiro/mascate-das-lembrancas
OBS: Por oportuno, explico que os comentários ao último texto, os quais ultrapassaram as minhas expectativas, ficaram retidos no espaço do Blog; espaço digo ao qual somente o administrador (autor) tem acesso, razão para não tê-los publicado de logo. É interessante, porque escrevi aquelas linhas achando que não ia ter muita conexão pássaros e bicicletas, mas vejo que foi o contrário: teve. Gostaram!
Geraldo, meu caro amigo, você desta vez emocionou um velho "mascate de lembranças". Pois assim como na minha música, também no meu blog e no Jornal da Besta Fubana, é só o que gosto de fazer.. Revirar meu baú e mascatear os bons momentos vividos. Agradeço de coração a sua lembrança e a generosidade da sua citação e da divulgação do link no seu blog. E esclareço, por fim, quem era o "MAné do Palito".. Um vendedor de palitos "Monroe", que deambulava pela Boa Vista, com passagem obrigatória pela Rua da Matriz, Praça Maciel Pinheiro e Rua da Imperatriz. Fazia ponto, nos anos 60 nessas ruas. Tinha uma voz esganiçada e falava num megafone velho, que aumentava mais ainda o seu timbre esquisito. Contava "novidades", no estilo de "Chá Preto" e de vez em quando levava uns "muxicões" dos incomodados, geralmente lojistas ou comerciários da redondeza. às vezes fazia "ponto" na Leiteria Vestal, esquina da Imperatriz com a Rua do Hospício. E no seu megafone, berrava alto e bom som..exatamente assim: " Mané, que é que tu tá fazendo"? e ele próprio respondia: "Tou vendendo palito".. E em seguida: "Que palito é esse, Mané?".. a resposta: "É Monroe!"...(pronunciava monrrói", mesmo... E o desfecho: "Isso é lá profissão, Mané? Isso é vida de corno!".. E seguia, solitário pela Imperatriz, a contar suas "novidades" e vender os seus palitos.
ResponderExcluirPois não é que esse comentário terminou virando uma crônica, Geraldo?.. quer saber? vou publicá-lo assim mesmo lá nos blogs.. Mas você já leu por antecipação..hehehe Um abração !
Geraldo,
ResponderExcluirCom tantas e quantas atribuições, ainda arranjo um tempinho para ler o seu blog, pois além de bom, ele me deixa longe dos estresses e constitui uma aprendizagem. Acredito também que Recordar é viver e isto me faz bem.
Parabéns por mais uma postagem.
Sei bem o quanto o escritor se gratifica com esses reconhecimentos...eu que o diga.
Eliana