Noite de
Natal, natal dos idos de sessenta, Natal dos meus dias de adolescência, Natal
dos meus sonhos de rapaz!
Era a Festa da
Mocidade, no Parque 13 de Maio, o lugar de passear, de andar pra lá e pra cá,
palmilhando alameda por alameda, caminho por caminho, em busca de um coração
solitário. Uns já chegavam abraçados, protegendo longos cabelos de uma
adolescente em flor, conversando frases de menino e fantasiando coisas de
adulto.
Depois, quando
os ponteirinhos do relógio começavam a se unir, para juntos cantarem o
nascimento do Cristo, já estávamos todos - rapazes, moças e até gente grande -
reunidos para a Missa do Galo. Os casais de namorados continuavam enlaçados e o
véu branco espraiava-se na negritude dos fios quase de seda, que chegavam à
cintura, mostrando a toda gente a pureza virginal da mulher amada.
Deixadas as
moças em casa, trocávamos o sagrado da noite pelo profano, outra vez, da festa.
Aí, já tarde, de madrugada, terminávamos assistindo o Pastoril do Velho Faceta
ou às revistas de Colé e Walter Pinto. Mulheres pra lá de bonitas, as coxas grossas das pastoras povoavam o devaneio onírico dos dias seguintes e os corpos
esculturais de algumas vedetes preenchiam o cotidiano de outros sonhos. Aí, surgiam as que atiravam livremente e não
tinham, como não teve Mirtes, que mostrar a aliança de casada ou o compromisso
do noivado. Umas, mais levadas, lançavam-se ao primeiro olhar e outras
aparentavam o pudor feminino dos tempos passados, o pudor que exige a conquista
e que pede o carinho e o afago, antes do carnal contacto.
Os dias se
foram rápidos, passaram velozes, como se representassem gotas d’água fluindo
catarata abaixo. Desapareceu a Festa da Mocidade e também,
morreu Mirtes. De Noêmia nem sei mais e com as meninas perdi o contacto. Os
amigos da juventude se foram, cada qual pra seu lado. Vejo-os, ocasionalmente,
passam ligeiro e acenam, somente acenam, porque não há mais como parar na
noite de Natal. Ficaram as reminiscências, reminiscências que renascem,
ressurgem no que se escreve, quando uma palavra, um nome, faz o pensamento
voltar, regredir quarenta anos no tempo, como se possível fosse atrasar o mesmo
reloginho, milhares de vezes, fazendo os ponteiros se tocarem na hora
do nascer do Cristo, há duas vintenas de anos atrás. E como não há meio de
retornar no tempo, escrevo, só escrevo, para externar o sentimento próprio.
(*) Um artigo antigo, guardado em meus alfarrábios virtuais, que atualizo e saudo o Natal que vai chegando, desejando a todos que os sinos da noite mágica continuem dobrando, alertando os irmãos em Cristo para o pecado do ódio e do desprezo. Desejando o leitor comentar, use o espaço mesmo do Blog ou o faça para pereira.gj@gmail.com ou ainda para pereira@elogica.com.br
Meu Caro Geraldo, era o Natal do queijo do reino,das fatias douradas. Do perú cevado com pirão de farinha no quintal das mangas-espada. A missa do galo e, depois, a ceia familiar. Havia a lembrança do aniversariante comemorado. Hoje o aniversariante - por incrível que possa parecer - fica murcho num canto, esquecido. À pergunta, diria a adolescente: "que aniversariante? Ah! me liguei, aquele da novela das oito, que tá aparecento no Natal da Globo!"
ResponderExcluirEnfim, Natal sem o "bububú no bobobó" da Festa da Mocidade.
Um Natal com muita luz, saúde e paz pra você e pra toda sua família. Silvio Costa, o da UFPE.