Passei
um tempo de minha vida – dez anos se muito – dando consultoria a um laboratório
farmacêutico. Dava aulas ao que eles chamavam força de trabalho (os
propagandistas), tirava as dúvidas surgidas durante as visitas e uma vez ou
outra tinha que promover reuniões com colegas médicos sobre um produto novo, um
lançamento a ser realizado. Mas, o que interessa dizer é que o meu chefe em São
Paulo, um jovem cirurgião vascular, morreu, acometido por uma morte súbita. Entrou
o novo chefe, um camarada moleirão, medroso, cheio de nó pelas costas, como
diria meu pai.
Pouco
depois dessa mudança, fui eleito e nomeado Diretor do Centro de Ciências da
Saúde (CCS), da UFPE. O CCS reunia todos os cursos da área de saúde, incluindo
o de medicina, de cujo programa eu participava. O novato notou que eu estava
tendo alguma dificuldade em cumprir com os compromissos, mas não tinha ainda
desistido do lugar de Consultor. Era um ganho a mais no salário, recebido em
banco próspero no Recife, dos primeiros a implantar a figura do caixa eletrônico,
hoje tão comum. Ótima a sistemática, porque parava o carro na Agamenon
Magalhães e sacava o dinheiro do final de semana ou o necessário à gasolina.
Certo
dia, em meu Gabinete de Diretor recebo um telefonema do novato, mais ou menos
nesses termos:
- Geraldo? Tudo bem com você? Estou
lhe telefonando para dizer que o seu novo cargo de Diretor, por certo lhe trará
dificuldades para cuidar dos interesses da Companhia.
- Claro! Já estava esperando a sua
ligação.
- Veja, eu vou combinar por aqui, com
o jurídico, como fazer a sua indenização e depois lhe telefono. Gostaria, no
entanto, de lhe pedir que esse seu desligamento fosse mantido em segredo, porque
sei de suas amizades no Recife e não quero que haja prejuízo para a empresa.
É interessante, pois a Companhia está
sempre em primeiro lugar e a criatura vem em segundo, quando muito. De toda
forma, procurei um advogado especializado em Direito do Trabalho e ele me disse
que pedisse R$ 15.000, 00, para receber mais ou menos R$ 10.000, 00. Não preciso
dizer que a quantia nos anos noventa, logo depois da reforma monetária, era um
bom pagamento para os dez anos de empresa. Guardei o segredo e continuei a
vida, mas o danado do Chefe cortou o meu pró-labore do mês, antes de qualquer
acerto. Fui ao caixa eletrônico e não encontrei nada. Vivia-se a primeira das
eleições de Lula e eu bolei um trote; um trote a ser deixado na secretária
eletrônica do novo Chefe.
Liguei pra ele na hora do almoço e
ouvi a mensagem: “Deixe o seu recado:”
- Feliciano você me pediu para não dizer
nada a ninguém e você mesmo disse. Ligaram-me de uma revista de grande
circulação (dei nome aos bois), pedindo uma explicação sobre a minha saída.
Respondi que ligassem à tarde, depois das 15 horas.
Nunca uma pessoa me retornou tão prontamente,
quanto aquele efêmero figurante de minha vida. Louco, verdadeiramente louco. Disse-lhe
que como ele já rompera com o pacto e como eu não recebera o pró-labore, diria
tudo. O homem quase chora com a confusão que se instalou e disse que era tudo
culpa “desse PT que deseja o poder a todo custo.”. Disse para não se preocupar,
mas continuar a guardar o segredo, porque da parte dele o pacto estava de pé e
o meu dinheiro seria depositado.
E assim foi feito! Quando voltei pra
casa, depois de uma tarde de trabalho, o saldo apontou o depósito e eu passei o
final de semana com o último pró-labore na conta.
A questão tem uma longa conversa.
ResponderExcluirSempre a mesma música com a mesma letra. Eu sei, eu sofri o mesmo duas vezes. Abraço. Hermnegildo.