Essa é
uma história que me foi contada por Margarida, figura habituada a percorrer
lugares assombrados do Recife velho; casas de subúrbio que no mês de agosto
canalizam o vento, fazendo aquele ruído característico, que assusta o passante.
Ela não, nem se incomoda, tanto faz como tanto fez, costuma dizer, diante de
barulhos assim, suspeitos. Trabalhando em hospital, nem liga para o que se
comenta nos corredores, que a perna cabeluda passa correndo ou que um fantasma
gemedor incomoda a noite dos que dormem. Ela própria gosta de andar às escuras
naqueles becos infestados por almas penadas, que verbalizam o sofrimento dessa
forma: “me ajude!/me ajude!”. O que ela ainda não aprendeu, é como ajudar essa
gente que vaga nas noites sem luar.
É dela
o alerta de sempre: o que assusta são os vivos. Os vivos que se escondem e
espreitam o semelhante para fazer o mal. Ou os vivos que se aproveitam das
caladas da noite e se imiscuem no leito conjugal de vizinhos; de vizinhos ou de
parentes e cumprem o desiderato do adultério. Foi ela quem me contou o caso do
rapaz que bem casado com uma mulher de bom recorte, viu a sua felicidade se
esvair pelo ralo, graças a amizade dela com um jovem parente do interior. É que
o menino dizia à prima da cidade, que vez ou outra ia por lá, que tinha medo da
noite e assim trocava de rede e ficavam os dois em abraços nunca furtivos
naquele leito do pecado. E ainda hoje pecam por esse mundo de Deus pai. Não
houve forma de perdoá-los, porque a paixão os tomou de tal forma que tiveram
filhos e netos.
Um
irmão de uma colega dela, desconfiado que estava sendo traído, voltou mais
cedo do trabalho de propósito, às três da madrugada, pois trabalhava de
vigilante. Foi tateando no escuro - a luz dele estava cortada - e sentou-se na
cama, em cima do amante da mulher. Foi uma carreira da peste. O homem nu, agarrado na roupa,
correndo pelo meio da favela e a mulher gritando: “José, José, deixa
Carlin! Qué que tem? Que besteira!”. No outro dia, ele procurou a irmã,
amiga de Margarida e foi dizendo : “Aquela cachorra, butô gaia nêu. Eu vou é me matar no canal do cavouco.”
Ele mergulhou mesmo, mas a água tava no joelho. O que ele conseguiu foi pegar
uma micose. Coitado do rapaz, ficou se coçando e assim permanece.
KKKKK Geraldo, hoje você foi demais... parabéns contador de causos!
ResponderExcluirGirley Brazileiro