Lembro
de logo do padre, professor de geografia, que sendo muito atencioso e muito
delicado, convocou-me à chamada oral, uma forma de tentar punir um mal feito
qualquer, uma palavra fora de hora ou uma indisciplina que ferisse o
regulamento da instituição. Convocado, fui à lambança:
-
Geraldo! Fale sobre a Alemanha.
Comecei
falando sobre Leonel Brizola, que vinha começando a se destacar nos estados do
Sul. E ele:
- Pedi
que falasse sobre a geografia da Alemanha.
- Sim!
Claro! Começo por Leonel Brizola, porque sendo do Rio Grande do Sul, nasceu em
estado no qual existem muitos alemãs e eu devo fazer uma ponte, para depois
chegar ao ponto que o senhor deseja.
E fui
por ai, até chegar a Hitler e à Segunda Guerra Mundial. Isso fez o homem
irritar-se profundamente e advertir, mais uma vez:
- A
matéria é geografia! Nota zero! Retire-se da sala e compareça à diretoria.
E
assim foi feito!
Ai
pelas 10:00 da sexta-feira era de bom alvitre se confessar. Os que confessavam
e comungavam na Missa do domingo, às 7:30 horas, eram vistos com bons olhos. E
como eu era extremamente mal visto, não era demais ajoelhar-me no confessionário.
Escolhia, pelo geral, um padre gordo, obeso, que dormia a sono solto, sentado
naquela casinha de madeira. Eu, ajoelhado, desfiava a lista de pecados que
tinha. Quando terminava, cuidava em acordá-lo e aguardar a absolvição. Vez ou
outra, porém, ele me ouvia e não cansava de repreender:
-
Outra vez! O senhor não se emenda! Vem toda semana dizer a mesma coisa! Isso é
uma pouca vergonha! O seu pai sabe disso?
Era
uns pecados bestas, coisa de adolescente despertando pra vida e para o sexo.
Mas, o tempo era outro e a rigidez comandava o espetáculo da vida. E eu nunca
me emendei!
Mas, a
história que me pediu a colega dos anos noventa é essa agora. É que no último
ano do curso, com as coisas mais liberadas, o professor de português mandou que
fizéssemos uma redação e o tema era livre, à escolha do aluno. Escrevi uma
lauda e meia de papel pautado, dando o título de “O meu enterro”. Cuidei em
oferecer ao leitor – um único leitor: o professor – os detalhes dessa
imaginária história. Mostrei que os familiares procurariam a Casa Agra e imitei
o som da buzina chegando à minha casa: “Fonfom. Fonfom. Fonfom.”. E o pior ou o melhor: eu queria todo mundo nu. E o mestre,
muito bom professor, com medo talvez dessa manifestação fúnebre em menino tão
novo, deu zero e me chamou a atenção.
-
Menino! Você tem a vida toda pela frente! Não gaste o seu tempo e a sua pena
com a morte.
E por
ai vai!
(*)
Não sei se atendi à leitora, porque a história apenas narrada, isto é escrita,
é bem diferente daquela que se tem no fiar de uma conversa. É mais fácil falar
que escrever. O leitor que desejar comente no espaço mesmo do Blog ou o faça
para o e-mail pereira.gj@gmail.com
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