Fotografia amarelada essa, de mais
de trinta anos pra trás! Cena da existência que o tempo cuidou em desbotar,
apagando os sentimentos, as vivências e as convivências! Lembro, muito
vagamente, dessa visita ao horto, dos passeios por ali, pelas alamedas de Dois
Irmãos, eu e alguns dos meus companheiros dos verdes anos, fazendo uma
exploração do zoológico, numa manhã de sábado ou de domingo!
Onde estarão os amigos do retrato, meus colegas na rua em que morava?
Um deles não consigo, sequer, identificar, os outros, porém, são de nome e sobrenome,
em tudo, bem lembrados! Raramente os vejo, no dia a dia dos meus caminhos,
inteiramente diversos das estradas desses velhos conhecidos! Não sei,
entretanto, como os encararia agora, se perdi ou se não perdi a intimidade do
antes, pois, como disse Luiz Fernando Veríssimo: “Com o passar do tempo a gente
perde a igualdade que tinha na infância e na juventude.” E é isso mesmo! Mudam
os convívios e a proximidade se vai!
Anos e mais anos contados em conversas que foram fiadas na beirada das calçadas! Histórias e estórias, tantas vezes, contadas e recontadas sobre as experiências dos começos, planos de vida nascidos assim, numa roda qualquer! Idas e vindas ao cinema nas noites de domingo, comentários sobre o filme, com enredo ou sem enredo que agradasse. Dramas de amor expostos na tela em roteiros compartilhados, sempre, por adolescentes em flor, jovens que pratearam, agora, os cabelos e vergaram o corpo ao peso do tempo vivido. Jogos de botão em torneios vespertinos, antecipando outros, os de futebol, com o time da rua bem arrumado e bem calçado, perdendo inúmeras vezes, mas sustentando o espírito desportivo o tempo todo. Outros torneios, noturnos esses, de dominó ou de baralho, com a canastra presidindo os interesses nunca pecuniários da meninada. E às dezenove horas, em ponto, o compromisso da novela: “Jerônimo - O Herói do Sertão”. Lúdicos personagens das noites de menino!
Anos e mais anos contados em conversas que foram fiadas na beirada das calçadas! Histórias e estórias, tantas vezes, contadas e recontadas sobre as experiências dos começos, planos de vida nascidos assim, numa roda qualquer! Idas e vindas ao cinema nas noites de domingo, comentários sobre o filme, com enredo ou sem enredo que agradasse. Dramas de amor expostos na tela em roteiros compartilhados, sempre, por adolescentes em flor, jovens que pratearam, agora, os cabelos e vergaram o corpo ao peso do tempo vivido. Jogos de botão em torneios vespertinos, antecipando outros, os de futebol, com o time da rua bem arrumado e bem calçado, perdendo inúmeras vezes, mas sustentando o espírito desportivo o tempo todo. Outros torneios, noturnos esses, de dominó ou de baralho, com a canastra presidindo os interesses nunca pecuniários da meninada. E às dezenove horas, em ponto, o compromisso da novela: “Jerônimo - O Herói do Sertão”. Lúdicos personagens das noites de menino!
Passeios de bicicleta em torno do
quarteirão, voltas e mais voltas, contanto que a aproximação vencesse a
resistência da moça e o namoro pudesse começar ou recomeçar. Sete vezes rompido
e sete vezes renovado, o amor dos inícios perdeu-se nas brumas do tempo ou dissolveu-se,
simplesmente! Outros passeios e outros amores feneceram, também, na idade dos
sonhos e dos devaneios, levando os afetos e impedindo os afagos. De mãos dadas
pelas ruas, escondidos de pai e de mãe, com a cumplicidade dos amigos e das
amigas, cumpria-se o preceito religioso e se pagava os pecados, depois,
visitava-se o centro urbano da cidade, tão diferente dos dias de hoje, pra
assistir um filme qualquer. Na face, certa vez, duas lágrimas rolaram lentas,
diante do encantamento com a poesia e a música: “Por que não páras relógio/Não
me faças padecer/...” E essas rupturas mataram as intimidades, do mesmo jeito!
Ninguém pode mais se encontrar e exercitar os sentimentos, por mais intensos
que tenham sido!
De tudo isso sobraram os retratos,
poucos! Fotografias de uma época tão distante já, de amizades e de proximidades
que não existem mais, de intimidades agora perdidas, completamente, de novos
estranhos restritos aos cumprimentos formais, somente! Encontros casuais, efêmeros,
sobretudo, nos quais a , quase, indiferença do gesto qualifica o momento. E o
observador, que de longe acompanhasse tudo isso, jamais imaginaria os vínculos
do pretérito, laços de tanta fraternidade que se romperam à força dos anos! Ando
pelas ruas do bairro, o mesmo em que morei dantes, sem notar a presença dos
companheiros, dos antigos colegas ou dos velhos amigos. Faço uma retrospectiva
daquelas convivências e sei de alguns encantados, já, no infinito das coisas,
gente que ao pó retornou, cumprindo o desiderato da vida: “E ao pó voltarás!”.
Eis a metamorfose do tudo e a
compreensão do nada!
(*) - Um texto descoberto nos alfarrábios, agora virtuais, em discos e mais discos, vistos e revistos, à cata de outros textos para comporem mais um livro nessa minha trajetória do inteiramente literário. A minha gratidão aos que escreveram e me renderam a solidariedade dos sentimentos, dos pêsames pelo falecimento de minha mãe, de quem hei de me lembrar por anos e anos. O leitor que se agradar da crônica não hesite, comente no espaço mesmo do Blog ou o faça para pereira.gj@gmail.com
Belíssimo texto, caro Geraldo. Quem de nós, simples mortais, não guarda na gaveta dos tempos, lembranças assim, melosas, chorosas, saudosas... Também alegres e presentes em nossas vidas diárias.
ResponderExcluirEssas, que convivem conosco no dia a dia, nos fazem seguir adiante na estrada da vida. Nos dão o alento do encontro e de nos fazermos história no dia a dia das vivências.
Os que ficaram, na gaveta fechada do tempo, nos fazem relembrar que a vida, é um contar de histórias sem fim.
Felizes são, os que têm histórias para lembrarem, sentindo saudades. Sinal de que foram especiais e que, mesmo amarelecidas nas folhas do tempo, nunca se apagarão dos nossos corações.
Felizes somos nós, que aprendemos a amar a vida e tudo o que dela faz parte. Revisitar nossa gaveta de quando em vez, é ter certeza dessa felicidade.
Um abraço e obrigada por nos presentear com tão belo e saudoso texto.
Lígia Beltrão
Lígia
ResponderExcluirSinceramente, o seu comentário me emocionou. Como você escreve bem e expressa bem as suas ideias. Realmente, a gaveta dos tempos, como você mesma diz, guarda lembranças infindáveis; gavetas abarrotadas de recordações d'alma.
Geraldo Pereira
Meu caro Acadêmico Geraldo, sempre uma alegria ler seus escritos. Basta a palavra "retrato" para me remeter ao meu bairro,à minha Rua Arnaldo Bastos, número 90, na Madalena, e me ver "tirando 'retrato'" com uma Kodak, última palavra em máquina fotográfica... Dia desses, fui lá, mas não soube escrever:
ResponderExcluir"Ando pelas ruas do bairro, o mesmo em que morei dantes, sem notar a presença dos companheiros, dos antigos colegas ou dos velhos amigos", infelizmente.
Também, não soube escrever o que minha querida poetisa Lígia Beltrão, escreveu:
Felizes são, os que têm histórias para lembrarem, sentindo saudades. Sinal de que foram especiais e que, mesmo amarelecidas nas folhas do tempo, nunca se apagarão dos nossos corações.
Receba meu abraço fraterno, Silvio Costa, o da UFPE.
Dr. Geraldo, seu belíssimo texto nos faz remexer na caixinha de lembranças no fundo da gaveta e também naquela que está guardada num cantinho especial da nossa memória.
ResponderExcluirUm abraço fraterno.
Lúcia Pedrosa.