quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Acontecimentos inusitados – podem contar comigo

Tenho recebido umas mensagens telefônicas estranhas. São torpedos que chegam dirigidos sempre a mulheres, com prenomes diferentes. Convocam a senhora ou senhorita a ligar urgente para um determinado número 0800, dizendo tratar-se de “assunto de seu interesse”. Já tentei ligar para o telefone recomendado, mas não atende de forma alguma. Não sei, verdadeiramente, de que se trata. Só sei que são ligações, quase sempre, originadas em outros estados, senão em cidades de Pernambuco com DDD diferente do Recife.
Dia desses, porém, estava cortando cabelo com Edson, ali no começo da rua da Hora, esperando a vez de fazer o pé com Sônia, que é excelente pedicura, quando toca o telefone. Deu-se, então o seguinte diálogo, mais ou menos recuperado aqui, graças a minha ainda conservada memória:  
- Boa tarde senhor!
- Boa tarde!
- A senhora Rebeca está?
- Infelizmente, tenho que lhe dá a triste notícia da morte de Rebeca.
- Não me diga uma coisa dessas!
- É! Faleceu!
- O senhor é o que dela?
- Eu sou o amante dela!
- Por favor tem algum número de telefone de familiar ou de amigo para me fornecer.
- Sinto muito, prezado, mas todos ficaram com raiva de mim e eu não o posso ajudar. Era muito ligado a ela, mas somente a ela. Aliás, era uma mulher extraordinária, na mesa e na cama. Não podia ter morrido.
E o meu interlocutor de ocasião desligou, sem mais delongas.
Fiz logo dessa forma, para ver se me deixam em paz, porque não é brinquedo ficar recebendo recado por outra pessoa.
Mas, por outra pessoa, de quando em vez recebo alguma coisa. Eu sou assim, o que é diferente parece me atrair. Uma manhã, ia saindo para o Pilates, quando o telefone de casa toca. Voltei e atendi. O camarada foi curto e grosso: “Sequestrei seu filho!”. E ai mandou que outro fizesse uma voz infantil, chorando. Não tenho filho homem, apenas três meninas. Esse foi o azar do camarada. Ai perguntei: “É o Armandinho?”. Dei esse prenome para homenagear o meu amigo Armando, professor da UFPE e diretor da COVEST. Quando ele me confirmou que era, abri o verbo e disse poucas e boas. O desgraçado, mesmo depois de ser chamado de tudo no mundo e mais um pouco, me disse em troco desaforos mil. Desliguei e fui embora.
Outra vez, fui fazer uma compra e a loja não liberou: “O senhor está com o nome sujo no SPC!”. Pedi que ela visse de que se tratava e com muita dificuldade conseguiu a explicação: fizera uma compra grande na Bahia e não pagara. Nas Casas Bahia, precisamente, da qual minha mãe tinha tanta raiva de ver os comerciais, quando ainda não havia filial da loja por aqui. Foi justamente o caso, não havia loja no Recife. Hoje já existe! Liguei pra lá e disse: “Minha senhora, eu nunca entrei nas Casas Bahia, não sei como são e ignoro o que vendem. Moro no Recife e a única relação que posso fazer de alguma aproximação é o fato de minha mãe não gostar de ver na TV os anúncios do magazine, quando por cá não existe sequer uma loja.” E a penitente me explicou que alguém fez a compra em meu nome, usando o meu CPF. Mas, foi atenciosa e dispensou os pagamentos, claro.
 
 
 

2 comentários:

  1. Meu caro Acadêmico Geraldo,

    Não sei se você leu no meu livro "em andamento", cuja contracapa é de sua lavra, a história "Perseguição". De qualquer das formas, coloco aqui um resumo dela, posto ser pertinente à sua humorística crônica e, quem sabe, faça rir a alguns do seus leitores.


    Perseguição

    Dona Itamar mora em Garanhuns e é mãe da minha querida Lígia Beltrão, que me contou esta história.

    A mãe começou a receber telefonemas da LBV pedindo “contribuição”, essas coisas de sempre. Como ninguém aguenta mais tanto telefonema pedindo ou oferecendo coisas, Dona Itamar começou a ficar agoniada do juízo com a insistência.

    Deu um bocado de “fora” e terminou tendo que dizer uns desaforos. Mas nada, nada, deles desistirem. Tirou o telefone do gancho, perdeu ligações de amigos e parentes, mas, quando menos esperava, lá vinha: “Boa-tarde, aqui é da LBV”. “Um inferno!”, reclamava ela quando ligava pra filha.

    Uma vez, ela resolveu vir ao Recife passar uns dias com Lígia. Veio, chegou, aquela alegria de ver netos e bisnetos, banho de piscina, tudo uma maravilha.

    Maravilha até que, poucos dias depois, logo ao acordar, passou junto ao telefone justo quando ele piava uma ligação. Pegou o fone e disse o “alô” que era preciso. Do outro lado da linha, meu caro amigo leitor, veio a voz: “Bom-dia, aqui é da LBV...”.

    “Não é possível, como você me encontrou aqui, tá me perseguindo, é?! Isso é um inferno na minha vida, dane-se”, desabafou Dona Itamar...

    Penso que implantaram um chip nela.

    Silvio Costa, o da UFPE.

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  2. Caro Geraldo,
    Muito gozado esse 'Colega Lisboeta'! É também um exemplo de atitude para muitos de nós, seus leitores. Receba um abraço.

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