Cada vez
eu fico mais admirado com o inusitado das coisas que me acontecem. Imagine o
leitor que na sexta-feira passada precisei comparecer a uma agência do Banco do
Brasil para comunicar que estava vivo e assim continuar a receber a minha
aposentadoria regularmente. Cheguei por lá mais ou menos às 15:30 e quando
recebi a ficha havia a consoante “R”. Não me surpreendi quando o moço do banco
me alertou que estava errada. Eu deveria ter recebido a letra “V”. Não achei,
em momento algum, que fosse alguma coisa ligada à palavra velho e não era. Mas,
com isso perdi muito tempo, isto é, migrando de uma letra a outra.
Mas,
interessante mesmo foi sair dali para a Praça de Casa Forte, domínios do Padre
Edwaldo Gomes e ser recebido por um lavador de carros numa quase falência
pessoal. Queixou-se tanto das coisas que dei a ele a importância de R$ 10,00. O
homem quase cai pra trás de tanta gratidão e no final saiu-se com essa: “Deus
lhe dê a vida eterna!”. Ora pau, quase digo, quem merece esse desejo, dito
assim, tão francamente, é quem já morreu. Deveria ser dito por um sacerdote,
diante do féretro instituído. Não sei se o penitente, sendo do entorno da
moradia do cura não está habituado ao linguajar. A verdade é que sai dali meio
cabreiro.
Eu estou
acostumado a ouvir dos meus circunstantes: “Geraldo! Como está você? Vai bem?”.
Isso de uma forma insistente, como se pudessem ouvir uma notícia ruim. Dia
desses uma senhora muito distinta me abordou e fez a indagação: “Prof. Geraldo?
Como vai o senhor? O senhor está bem?”. Fico pensando que alguns pensam que
estou à beira da morte. Cruel isso! Talvez seja porque eu passei momentos de
grande dificuldade por seis meses. Realmente, em 2005, fraturei duas vértebras
torácicas e fiquei baixinho, troncho e corcunda. Mas, acordei para a vida e
tenho aproveitado, da melhor forma, a segunda chance que Deus me deu.
É uma
pena que seja necessário sofrer tanto para abrir os olhos! Acontece isso com muitos. Mas,
foi assim! Depois do episódio, publiquei pelo menos 4 livros, passei a me
ocupar com diversos estudos, sobretudo aqueles da história; da história da
medicina em Pernambuco. E sobre essas questões publiquei diversos trabalhos
científicos. Mas, nessa trajetória de meus horrores houve, como sempre
acontece, o pitoresco, o cômico seguindo a tragédia. Veja só! Numa dessas
vezes, estando eu internado e precisando fazer um eco-cardiograma, fui levado
numa ambulância, a qual apenas circulou o prédio do hospital. Mas no meu juízo a
trajetória tinha sido grande e eu achava que desembarcara em Lisboa. Sendo assim,
disse ao médico:
- Colega
lisboeta! Como me explica que tendo embarcado no Recife, nordeste do Brasil, tenha
chegado tão rapidamente a Portugal? Afinal, Pedro Álvares Cabral levou meses
para fazer a travessia.
E o
médico, muito assustado, respondia repetindo: “Pergunte a seu médico! Pergunte a seu médico”.
Ocorrência muito pior foi aquela que sucedeu quando minha mulher chegou para dormir comigo e indagou:
- Como está você? Está com um jeito diferente?
- É! Você foi à Rede Globo, ao programa de Ana Maria Braga, lançou um livro e não me disse nada. Gostei do título, mas do conteúdo não tenho noticias.
E ela me disse que passou a tarde toda trabalhando, mas queria saber do título, porque assim poderia escrever um livro. Não lembrei mais nunca desse título.
Entrou por uma perna de pinto, saiu por uma de pato, senhor rei mandou dizer que contasse quarto.
- É! Você foi à Rede Globo, ao programa de Ana Maria Braga, lançou um livro e não me disse nada. Gostei do título, mas do conteúdo não tenho noticias.
E ela me disse que passou a tarde toda trabalhando, mas queria saber do título, porque assim poderia escrever um livro. Não lembrei mais nunca desse título.
Entrou por uma perna de pinto, saiu por uma de pato, senhor rei mandou dizer que contasse quarto.
Caro colega, estou rindo até agora!
ResponderExcluirGermano.
Geraldo,
ResponderExcluirRi à beça, mas a vida quase sempre segue esse compasso do inusitado.
Em alguns trechos, fui cúmplice de sua história. Também aproveito mais, agora, depois que o infarto me levou às vias de morte, completando esse evento tres anos no próximo dia 21 deste mês.
Também sou indagada em muitas ocasiões se estou bem, querendo ouvir o que não mais está na ordem do dia. Quando me perguntam : está melhor? respondo como dizia papai: melhor de que? Papai tinha as melhores das respostas...
Vivendo e aprendendo novos caminhos, como este que sigo depois deste trágico episódio.
Ainda publico o meu livro em breve. O trabalho, Ouvidoria, me levanta e me eleva todos os dias. Deus seja louvado!
Eliana
Caro acadêmico Geraldo:
ResponderExcluirHoje, necessariamente, eu tinha que ler essa crônica. Fez-me rir, como há muito não fazia. Pobre criatura, aquele guardador de carros, só queria desejar que nunca morresse. Bom isso. Alguém que não quer nos perder, mesmo que seja por dez reais...
Seu sofrimento, foi recompensado pelo crescimento espiritual, que nos concede determinadas passagens da vida. O merecimento da felicidade, você conquistou agora, vivendo essa vida intensamente, como os abençoados por Deus. Que tenha vida longuíssima, para que nos faça aprender, crescer e rir, com suas maravilhosas crônicas. Um abraço.
Lígia Beltrão