Dia desses, depois de um bucólico amanhecer por aqui, em minha casa de Aldeia, apareceu um sagüi buliçoso, saltando de galho em galho, à procura de um naco, que fosse, de uma fruta qualquer. Aproximou-se e se achegou, viu gente no alpendre e correu, voltou para a mangueira de onde veio. E outro dia, numa manhã quente de começo de ano, evaporados uns salpicos do que poderia ter sido uma chuva do caju, o joão–moleque pousou novamente, preto, da cor do piche, brilhante feito luz, todo encerado, luzidio, polido a óleo, como parecia. Mas não vi a fêmea, a maria–mulata, toda marrom, que ouve do macho o canto meloso dos desejos e das vontades. Nada pode se comparar, no entanto, à guriatã que escolhia, a seu modo, um lugar para se aninhar. Bela, bela! O peito amarelo como o ouro, contrastando com a escuridão do dorso. Tomara que ache um recanto qualquer e possa construir o seu lugar.
Mas, tem doído n’alma assistir à derrubada das matas, são toras e mais toras de madeira expostas nas porteiras das fazendas, aguardando o caminhão que chega para recolher o que sobrou da insensatez humana. E esses bichinhos todos, que sobrevivem nas árvores, hão de se entregar também à imprudência dos insanos. A cobertura vegetal está se esvaindo, então, malgrado o Ibama e malgrado a Cipoma. Os reservatórios d’água vão se exaurindo e as fontes fenecendo à força dessas investidas, em tudo, especulativas, porque buscam lotear os espaços e ocupá-los com mais e mais condomínios. Não se duvida do aconchego do lugar, antes o contrário, exalta-se a calmaria e a paz que preside o canto, mas há um limite pra tudo nessa vida. E há quem esteja interessado em defender a conservação do ambiente, à semelhança de Luiz Helvécio, vereador atuante no Recife e nas cercanias, forasteiro como eu nos domínios de Aldeia.
Os duendes da mata não resolvem mais a questão, falta fôlego para tanta coisa de uma só vez. A Comadre Fulozinha – ou Comadre Florzinha –, o Caipora e o Curupira, donos supremos da intimidade florestal, protetores do verde das plantas e do colorido dos bichos, renderam-se ao despropósito humano. Não têm mais forças para uma reação, para uma surra bem dada no caçador desvairado ou no lenhador, que impiedoso macula da paisagem a beleza e afugenta os bichos. De que serve mais a crença de Zezinho, lá de Chã de Cruz ou a fé de Margarida Hercílio, das distâncias de Pedra Branca, na Paraíba? Nem Zé Miúdo, que naquelas terras era amigo da Comadre, dá mais conta desse recado, o de reparar os danos às matas e aos bichos. Até ele, cujo irmão levou uma surra com rama de urtiga e acordou depois tomado pelo sangue–novo da pureza dos que moram em lugares assim, da crença e da fé, ficou impotente com tantas investidas.
Fulozinha, a cabocla menina, nos seus sete anos de idade, amorenada feito uma índia, de cabelos longos a lhe cobrirem o corpo desnudo; cabelos com os quais se veste e com os quais surra o penitente que não lhe respeita as ordens. Ou Florzinha, na mesma faixa de idade, loura feito um alemão, fazendo o amigo de Zezinho se perder na intimidade, úmida e escura, da mata quase virgem. Ou a Comadre que se aborrece com a atitude de João Alexandre das histórias de Margarida, tece uma trança na crina do cavalo com o nome de Alazão, porque o dono lhe cortou as “esquilingas”. E o animal, daí por diante, amoquecou, fraquejou, adoeceu pelo desprezo do espírito das matas. Deixou de sair, como fazia todas as noites, esquipando pela rodagem, levando no lombo o duende dos bosques. Essa gente que maltrata a natureza e escarnece do meio ambiente, deu pimenta à Comadre e há de amargar o castigo dos condenados pelos anjos dos céus.
Mas, tem doído n’alma assistir à derrubada das matas, são toras e mais toras de madeira expostas nas porteiras das fazendas, aguardando o caminhão que chega para recolher o que sobrou da insensatez humana. E esses bichinhos todos, que sobrevivem nas árvores, hão de se entregar também à imprudência dos insanos. A cobertura vegetal está se esvaindo, então, malgrado o Ibama e malgrado a Cipoma. Os reservatórios d’água vão se exaurindo e as fontes fenecendo à força dessas investidas, em tudo, especulativas, porque buscam lotear os espaços e ocupá-los com mais e mais condomínios. Não se duvida do aconchego do lugar, antes o contrário, exalta-se a calmaria e a paz que preside o canto, mas há um limite pra tudo nessa vida. E há quem esteja interessado em defender a conservação do ambiente, à semelhança de Luiz Helvécio, vereador atuante no Recife e nas cercanias, forasteiro como eu nos domínios de Aldeia.
Os duendes da mata não resolvem mais a questão, falta fôlego para tanta coisa de uma só vez. A Comadre Fulozinha – ou Comadre Florzinha –, o Caipora e o Curupira, donos supremos da intimidade florestal, protetores do verde das plantas e do colorido dos bichos, renderam-se ao despropósito humano. Não têm mais forças para uma reação, para uma surra bem dada no caçador desvairado ou no lenhador, que impiedoso macula da paisagem a beleza e afugenta os bichos. De que serve mais a crença de Zezinho, lá de Chã de Cruz ou a fé de Margarida Hercílio, das distâncias de Pedra Branca, na Paraíba? Nem Zé Miúdo, que naquelas terras era amigo da Comadre, dá mais conta desse recado, o de reparar os danos às matas e aos bichos. Até ele, cujo irmão levou uma surra com rama de urtiga e acordou depois tomado pelo sangue–novo da pureza dos que moram em lugares assim, da crença e da fé, ficou impotente com tantas investidas.
Fulozinha, a cabocla menina, nos seus sete anos de idade, amorenada feito uma índia, de cabelos longos a lhe cobrirem o corpo desnudo; cabelos com os quais se veste e com os quais surra o penitente que não lhe respeita as ordens. Ou Florzinha, na mesma faixa de idade, loura feito um alemão, fazendo o amigo de Zezinho se perder na intimidade, úmida e escura, da mata quase virgem. Ou a Comadre que se aborrece com a atitude de João Alexandre das histórias de Margarida, tece uma trança na crina do cavalo com o nome de Alazão, porque o dono lhe cortou as “esquilingas”. E o animal, daí por diante, amoquecou, fraquejou, adoeceu pelo desprezo do espírito das matas. Deixou de sair, como fazia todas as noites, esquipando pela rodagem, levando no lombo o duende dos bosques. Essa gente que maltrata a natureza e escarnece do meio ambiente, deu pimenta à Comadre e há de amargar o castigo dos condenados pelos anjos dos céus.
Nem Ascenso Ferreira, que cantou a caipora e se encantou com o pai da mata – “Ali mora o pai da mata/Ali é a casa das caiporas...” –, com o seu vozeirão e seu enorme chapéu, daria jeito ao desnudar das terras pernambucanas e à matança da bicharada toda. Nem Gilberto Freyre, que escreveu Nordeste, antecipando conceitos da ecologia ou Vasconcelos Sobrinho, que tanto lutou em prol do ambiente, resolveriam o impasse.
O grande problema é que as pessoas não têm mais a crença de Zé Miúdo e a fé de Margarida. Derrubam e matam impiedosamente.
(*) – Uma crônica nascida dos meus interesses em estudar a lenda da Comadre Fulozinha, o papel da Caipora e do Cupira, em defesa das matas e das florestas.
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