Em noites assim de um domingo qualquer, em recantos bucólicos nas praças e nas ruas do Recife, os amantes ainda trocam beijos e promovem o intercâmbio dos afetos. Nada mais salutar! Pras bandas do Derby, nos domínios da Brigada, o baixinho acariciava a mulher grande e mestiça, amorenada da tez e arabizada de corpo. Mais pra frente, no Parque Amorim das tradições dos papa-figos, o homem negro, de bigode bem aparado, roubava da branca mulher o ósculo das despedidas, num abraço forte de quebrar as costelas. E, finalmente, defronte ao velho Pronto Socorro, o jovem derramava-se em carinhos pela amada amadurecida nos anos. Cumpria-se assim, num ritual dos afagos, a terminalidade do domingo, a finitude do dia santificado, dantes dedicado à guarda.
Outrora, também, nas alamedas escuras do parque 13 de Maio, na boquinha da noite, os meninos se encontravam com as namoradas, alunas tantas vezes da Escola Normal ou estudantes outras vezes do Colégio Pinto Junior. Passeava-se de mãos dadas, enlaçadas, pra lá e pra cá, andando com os pés e as fantasias nos caminhos de pedra. Depois, era a hora de sentar para fiar conversa, para saber das aulas e dos recreios, dos receios sobretudo, das indagações proibitivas dos antanhos. Juras de amor preencheram os ares do parque por anos seguidos, carregando de esperanças o imaginário de muita gente, das meninas especialmente, mas dos meninos também. Muitos amores morreram ali, na fonte das águas coloridas! Deixaram plantadas por lá, todavia, as árvores de todas as saudades, a brotarem no pistilo das flores e no mês de maio, o das noivas, as sementes das lembranças.
Em dezembro instalava-se no parque a Festa da Mocidade, encantando a todos, crianças e adolescentes, meninos e meninas, adultos barbados e babados com a beleza das mulheres de fora, vedetes do teatro de rebolado. Às sete da noite, todos os dias, com lua ou sem lua, a moçada ultrapassava os umbrais da fantasia e assumia essa vida diferente, de lazer o tempo todo. Os jogos de azar não, estavam reservados à maturidade, mas, vez ou outra, quando se distraia o soldado de plantão ali quase permanente – o Marcha-Lenta –, o pessoal arriscava um trocado. Perdia, sempre! Às nove, infalivelmente, chegavam as vedetes e o desfilar daquela mulherada exótica em direção ao teatro era um ritual dos mais acompanhados, uma liturgia da sensualidade. Em casa recomendava o pai os cuidados habituais. Tudo, menos freqüentar a peça teatral! Tinha escrito, no Jornal do Commercio mesmo, horrores contra as manifestações assim, da carne. A consciência doía, mas se assistia ao espetáculo todas as noites! A proibição do juiz de menores era debalde, pois que seu preposto, investigador do juizado, era um moleirão e a enrolada comia no centro. Uma entradinha rápida, coisa de cinco minutinhos, nada mais e a noite estava feita.
Vale a pena rever tudo isso. Tudo é válido quando o coração comanda o espetáculo!
GERALDO: Impressionante a sua maneira de escrever, regada pelo comando do coração, tornando os seus textos mais atraentes e cativantes.
ResponderExcluirO espetáculo deve, mesmo, ser mostrado aos leitores, que se "deliciam" com ele.
Crônica muito boa!!
Abços Eliana
Geraldo, Homem de Deus,
ResponderExcluirSeu romantismo me comove! Suas narrativas induzem entre-linhas maravilhosas. E a Festa da Mocidade sempre presente. Tenho inveja de não haver curtido essa curtição.
Parabéns pelo belo texto.
Girley Brazileiro
Como sempre um prazer ler estes curtos textos, são como um gole de água no deserto, um olhar, uma paisagem de palavras coloridas pelo sentimento e pintado no mar de esperança que oscila entre o norte eo sul de nuvens amarelas.
ResponderExcluirUn fuerte abrazo. Hermenegildo