Com minha mãe. Depois de 2005. |
Minha mãe está quase morta, morre
todos os dias, um pouco mais ou um pouco menos. No leito derradeiro cumpre o sacrifício
da finitude. Morta, mas viva! Viva em todos os sentidos; viva porque
existe em meu coração e viva por tudo que fez nos dias de sua existência. Mas, nessas
comemorações do Dia das Mães, em que pese os interesses do comércio, ela não acompanhará
os festejos, sequer sabe mais dessas coisas. E eu não posso ligar para saber de
seu presente e não ouvirei a resposta de sempre: “Um corte de fazenda azul, de
puro algodão!”. E lá ia eu comprar! Nem sempre era fácil encontrar, mas conseguia
levar no dia aprazado um pacote em papel de luxo.
Tudo passa nessa vida, essa é que é a
grande verdade das coisas. Não existe mais a mãe de meus anos de menino; a mãe preocupada
com uma febre passageira ou inquieta com a tosse de cachorro, como costumava
chamar. Sequer existe o menino! Vai desaparecendo a mãe das horas incertas, das
palavras ditas em momentos de tantas angústias. Não há mais em mim a decisão diária
de pegar o telefone e ligar para ela a cada amanhecer, para indagar sobre as
novidades e ouvir a resposta: “Sem novidades, meu filho!”. Ninguém me chama
mais de meu filho. Estou caminhando para a completude da orfandade!
É assim mesmo, hei de passar o domingo
dedicado às mães em companhia de minhas filhas; de minhas filhas e de minha
mulher. Cada uma, a seu modo, também com esses predicados maternos. Há um
motivo, porém de grande alegria entre nós, é que acaba de chegar Júlia Maria,
uma desejada neta, parida das entranhas abençoadas de minha filha Patrícia.
Foram anos seguidos numa espera que às vezes impacientava. Inseminações e
outros procedimentos da modernidade, até que a natureza decidiu-se e deixou que
viesse ao mundo a beleza que tem sido Júlia. Filha natural de Patrícia, a mãe que
é minha filha e Cláudio, o pai que é um
dos meus queridos genros.
Fico refletindo nesses meninos que são
meus netos, Pablo, ao mesmo tempo espanhol e brasileiro e agora Júlia, que é
Maria. Deus permita que cresçam e se desenvolvam dentro daquilo que esperam
seus pais, fazendo votos de que sejam muitíssimo felizes. Tão felizes quanto
suas mães, minhas filhas, com o nascimento e o correr dos anos em que
despertam para o grande banquete da vida. Deus os proteja!
Três gerações: a avó, a filha e o neto. |
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