Eu não
tinha feito ainda 70 anos de idade, como recentemente aconteceu (4 de outubro)
e só agora estou refletindo sobre essa nova condição etária. Quando era mais
novo, confesso, nunca parei para pensar na minha sétima década de vida, nunca. O
ser humano não pensa nisso, vai vivendo, vai vivendo e quando menos espera a
idade avança ou a idade chega. Nos anos da infância não havia tempo para
imaginar esse futuro tão distante. As brincadeiras e os deveres ocupavam as
horas todas. E na juventude também não, porque o ofício tomava conta dos dias,
era um vaivém danado e a cabeça tinha que se dedicar à família, aos estudos de atualização
e aos caprichos das injúrias orgânicas.
Ontem
voltava para casa com minha mulher e conversávamos sobre as mudanças todas do
mundo. Tudo mudou, disse ela, referindo-se ao que vimos de transformação nesse
mundo de meu Deus. Saíamos de uma padaria, onde tínhamos feito um lanche, a
título de ceia. Isso não havia no Recife do antes e hoje está disseminado, com
casas especializadas espalhadas pelos bairros residenciais e também nas
cercanias do comércio. E os bancos? Deixaram a condição anterior de
estabelecimentos personalizados para se tornarem comunitários. Hoje, as máquinas
assumiram as funções dos antigos bancários, que estão resumidos nos interiores
das agências a consultores e captadores financeiros.
Foi ela
quem lembrou outra mudança nos hábitos e nos costumes da cidade: o tipo de
moradia. Agora, mora-se em apartamentos, conjuntos habitacionais que juntam de
uma só vez, quase cinquenta famílias. Mas, não existe mais quintal ou não se
brinca nas ruas, como sucedia outrora. Até a geração de minhas filhas isso era
possível, porém o tempo e a violência mudaram esse comportamento. Não se pode
mais! E o extraordinário desenvolvimento da técnica, em todos os sentidos. Eu,
por exemplo, fui operado da coluna pelas mãos maviosas do Dr. Geraldo Sá
Carneiro – o Dr. Geraldinho – e duas hastes de titânio foram postas em minhas
costas e eu estou andando e bulindo da melhor forma. Hei de comemorar os 10
anos de operado a 4 de maio!
É! A
expectativa de vida aumentou! Gente como eu já poderia ter morrido, se a
técnica não tivesse alcançado o ponto que alcançou. Os exames estão cada vez
mais sofisticados; as tomografias e as ressonâncias têm acesso a tudo e mais um
pouco. A Tomografia por Emissão de Pósitrons (o Pet Scan) revolucionou a
oncologia e hoje se pode muito bem, não apenas diagnosticar, como também fazer
o estadiamento do tumor. Os meus cadernos do último ano de medicina não servem
mais pra nada, estão defasados, desatualizados. Nada se aplica mais!
Imagine o leitor como ficará um doente do estômago hoje, depois da invenção
da endoscopia. Não fará mais a radiografia do órgão, uma seriografia, como se
dizia antes. E ninguém terá mais o trabalho de identificar uma úlcera a partir
da imagem de uma chama de vela. Nem vela se usa mais! E os stents cardíacos, que permitem uma sobrevida que não se tinha no passado, mesmo com as pontes?
Geraldo: Aí está por você bem explanado. A gente ia vivendo sem pensar que as idades avançavam....E o tempo corria e corre para todos. Você sempre foi vitorioso, até na cirurgia em tempo de tantos e quantos avanços da Medicina. Eu estou em minha SOBREVIDA. Nunca havia pensado nesta sinistra palavra, já comemorando 4 anos no próximo dia 22 de novembro. Vamos que vamos.......quem sabe a Medicina avance mais ainda e o tempo de vida se prolongue. Escreveu muito bem. Abafei pensamentos e enfrentei a realidade... Bjss
ResponderExcluirMeu caro acadêmico Geraldo,
ResponderExcluirbem disse Manoel Bandeira, em seu Evocações do Recife, ao referir-se à casa de seu avô: "...tudo ali parecia impregnado de eternidade". Mas, apenas, parecia. Para a criança, o tempo é o momento vivido. Somente ao nos aproximarmos do destino inexorável dos vivos, percebemos que ele caminha junto conosco. Mas esqueça isso. Continue vivendo sua vida vitoriosa. Ela tem sido profícua. Sou seu colega da equipe 70. Meu fraterno abraço. Silvio A. Costa (nova forma de me identificar)