Esse negócio de fazer 70 anos é uma coisa meio
diferente. Primeiro, porque o baque físico é notório e o penitente vai se
sustentando a duras penas, pra não cair de vez. Eu mesmo faço Pilates duas
vezes por semana e tome alongamento pra lá e pra cá. Faço aqui perto, no
chamado ETC, uma espécie de shopping
de bairro, mas um conjunto de lojas e de escritórios bem arrumado e bem
disposto. Chego cedo, ai pelas 8 horas ou quase isso e tenho acesso à vaga de velho.
Além da cara e da coragem, um documento grande com a palavra IDOSO me assegura
o direito. Vejam só! Claro que ando de esteira elétrica todos os dias, chova ou
faça sol e vez ou outra vou ao parque da Jaqueira, onde circulo com
desenvoltura, ainda.
Só esqueci – aos 70 se esquece de tudo ou de quase
tudo – de ir ao banco dizer que estou vivo, um compromisso que garante a
aposentadoria a cada mês. Pelo geral, tenho comparecido aqui em Casa Amarela e
quando o caixa me chama, com direito a ficha de idoso, comunico que vim dizer
que estou vivo e bulindo. E assim vou recebendo o trocado a cada fim de mês ou
começo do mesmo período. Mas, tem essa vantagem, a de não ter mais pudor com a
idade, pois que antes, quando começaram a me convocar para essas prioridades do
tempo, eu ficava meio brabo, negando os cabelos brancos. O meu bisavô e o meu
avô paternos morreram aos 55 anos, pelo que já passei há muito dessa maldição.
A verdade é que a última crônica, a da idade,
mereceu muitos comentários, alguns (poucos) no espaço mesmo do Blog e a maioria
em mensagens de e-mails, como cabe ser com a modernidade das coisas. Uma irmã
que sempre comenta as minhas crônicas, Maria Eliana, disse:
Geraldo: Aí está por você bem explanado. A gente ia vivendo sem pensar
que as idades avançavam....E o tempo corria e corre para todos. Você sempre foi
vitorioso, até na cirurgia em tempo de tantos e quantos avanços da Medicina. Eu
estou em minha SOBREVIDA. Nunca havia pensado nesta sinistra palavra, já
comemorando 4 anos no próximo dia 22 de novembro. Vamos que vamos.......quem
sabe a Medicina avance mais ainda e o tempo de vida se prolongue. Escreveu
muito bem. Abafei pensamentos e enfrentei a realidade... Bjss
É isso
ai! Não sei se desejo prolongar o meu tempo neste mundo de Deus. Depende de meu
estado, físico e psicológico, daqui a 10 anos. Será? Ninguém pode dizer se vai
viver mais esses anos todos! Ainda tenho muito a fazer, essa é que é a grande
verdade. Cada vez mais aparecem informações para que eu escreva e publique. Bom
que tenho onde divulgar os meus artigos. Agora mesmo escrevo um ensaio sobre o
meu bisavô, Vicente Ignácio Pereira, que foi médico no Rio Grande do Norte e
escreveu um trabalho sobre Cólera. Pois esse ensaio terminou chegando em minhas
mãos. Foi minha mãe quem guardou! E eu escrevo sobre isso!
O meu
colega de Universidade e vizinho de praia, onde fiávamos conversa e ríamos às
bandeiras despregadas, figura que também comenta com frequência as minhas
crônicas e que mudou agora a forma de se identificar, comentou:
Bem disse Manoel Bandeira, em seu Evocações do Recife, ao referir-se à
casa de seu avô: "...tudo ali parecia impregnado de eternidade". Mas,
apenas, parecia. Para a criança, o tempo é o momento vivido. Somente ao nos
aproximarmos do destino inexorável dos vivos, percebemos que ele caminha junto
conosco. Mas esqueça isso. Continue vivendo sua vida vitoriosa. Ela tem sido
profícua. Sou seu colega da equipe 70. Meu fraterno abraço. Silvio A. Costa
(nova forma de me identificar)
Eu também tinha grande ligação com o meu avô, mas não
tinha essa veia de Bandeira, para cantar em verso o que sentia em sua casa da rua
Montevidéu, 77, de cuja agonia demolitória fui testemunha. Derrubam as casas e
ninguém indaga se há quem tenha lembranças guardadas naquelas paredes. E eu não
a fotografei!
Não há o que se queixar de 70 anos tão bem vividos como os seus! Problemas existem, claro. Mas quando colocamos tudo na balança, vem o resultado: vitórias, amizades e muito amor.
ResponderExcluirMuita saúde, meu pai. Muitos e muitos anos de sorrisos.
Geraldo:
ResponderExcluirDeveras interessante o seu texto do blog. Deve ser mesmo um tanto diferente esse negócio de fazer setenta anos.....Ainda não passei por esta experiência. Ainda assim, já sinto o peso de muitos sonhos e de muito a realizar em contrapartida ao tempo que me resta. Sei lá quanto... Você descreve tudo com tanta espirituosidade que o leitor se deixa ficar embevecido, com os mais variados temas. Pelo menos, ameniza e suaviza o tempo chegado e o que "o penitente sustenta a duras penas. Sorri de montão.
Amo comentar as suas postagens. Você coloca hoje um dos meus comentários, que eu escrevi com toda a sinceridade d'alma. Gostei, gostei muito.
Vamos avançando no tempo. Com sofreguidão ou não, acho que toda a mudança de década mexe com o indivíduo. Parabéns pela nova idade e pelo que escreveu!!!!!!!!!!!! bjs, Eliana
Meu caro acadêmico Geraldo,
ResponderExcluiré isso aí, companheiro da "Equipe 70" . Ainda estamos jogando um bolão. O jogo não acabou, tem muito gramado pela frente. Velho é o mundo, assim mesmo não parou de rodar até hoje. Simbora, amigo! Silvio A. Costa