No
Recife está tudo mudado, chove agora todos os dias e o aguaceiro tem hora pra
chegar; chove pela manhã logo cedo e chove à noite, no momento do sono se
apresentar. Se apresentar para os outros, porque pra mim, se houver
apresentação, pode esperar a madrugada que eu desperto. É a insônia do despertar
precoce, cujo incômodo impede, muitas vezes, do dia correr bonito, sem cochilo
e sem madorna. Se assim não for, com toda certeza perco a manhã e perco a
tarde. Não dá pra escrever e leitura nem pensar. Isso é ruim, tanto porque
tenho muito o que rabiscar na virtualidade das coisas e tenho muito o que ler,
com as obrigações que assumi. Valei-me Senhor! Dia desses até, briguei comigo
mesmo e me mandei à sesta à força, sob o argumento de que sou um homem
aposentado.
Antigamente,
quando chovia fora de hora, como vem acontecendo ultimamente, minha mãe
alertava: “É a chuva do caju!”. Isto é, a precipitação pluviométrica que vinha
para facilitar a floração do cajueiro e daí por diante a gênese da castanha e
da polpa. Mas, era coisa rara, uma aguada aqui e outra ali. O sol presidia o
espetáculo dos dias e a praia era convidativa. Toró mesmo era a partir de maio.
Em junho e em julho. Nesses meses é que aconteciam as cheias e eu fui um
militante desses períodos, com assento na defesa civil de Pernambuco, que tinha
o nome próprio de CODECIPE. Nem sei mais como se chama
Aí,
na cheia de 1975, me mandaram passar a noite no Palácio do Governo. Fiquei lá
fiando conversa a madrugada inteira, até que um engenheiro veio falar comigo: “Ei,
você ai que fala muito. Você pode me ajudar nesse caso? É que há dois soldados
guardando o leite, um deles não dispensa uma lata quando passa pelo depósito.
O que faço?”. E eu, do alto de minha prosopopeia, disse: “Coloque um tomando
conta do outro, enquanto um segue para a direita o outro volta pela a
esquerda.”. E assim foi! Não desapareceu mais nada! Foi um santo remédio.
Quando o dia estava pra amanhecer, um camarada chegou e me comunicou: “Você vai
pra Limoeiro de helicóptero. Ordem do Governador.”. Pois diga a ele que eu não
vou de jeito nenhum, porque não confio nessas gerigonças velhas que há por ai. E
não fui!
Mas,
há uma revista médica do século XIX, na qual há um estudo das temperaturas e
das precipitações no Recife, sem falar na umidade e em outros dados
interessantes. Escrevi sobre isso, citando inclusive que em 1943, o ano do
estudo, em nenhum dos dias do ano a temperatura passou do 30°C e habitualmente
o calor da cidade tem apontado números semelhantes a esse ou quase isso. Agora
não, porque o tempo é da Primavera e as ocorrências do Inverno.
Pior
tem sido em SP, onde está morando uma filha, um genro e um neto: não há água
nem pra se lavar! Estou atento por aqui a essas injunções da natureza na terra
da garoa, mesmo sabendo das rusgas com o Nordeste do Brasil. Mas isso é coisa
antiga, vem desde o tempo das grandes valsas e eu, morando por lá nos anos
setenta, lembro quando indagavam: "Pelas ruas do Nordeste anda cobra?" E a
resposta: "Anda, claro, mas só morde paulista.". É isso ai! Um médico anestesista do Rio Grande do Sul, convidado a vir ao Recife, para fazer uma conferência, disse: "Não vou a essa terra de merda!". Não venha! Melhor assim!
(*) Um texto bem humorado escrito sobre chuvas e cheias, mudanças edáficas e outras mudanças, como essas de agora, as do aquecimento global.
Geraldo: você se supera neste bom humor. São histórias tão interessantes e hilárias que encantam o leitor, de toda a maneira. Este texto, atualizado e remanescente de dias que se foram, deixando lembranças, está muito bom. Gosto muito de ler, principalmente o que você escreve e se me apresenta em dias , bem dias meus
ResponderExcluir. Aprendo, rio e entro no contexto como se tivesse vivendo e revivendo. Bjs,
Eliana: www.blogdepereira.blogspot.com