segunda-feira, 21 de maio de 2007

Águas de Aldeia

A velocidade do tempo agora é diferente, as horas voam e os dias correm. A semana começa e termina numa rapidez impressionante. Levanto da cama, faço uma refeição ligeira e sigo às pressas para a hidroginástica, mergulho na piscina e exercito o corpo em manobras que interessam à musculatura toda. Volto para casa e me arrumo, saio outra vez, trabalho aqui e ali, lugares com salários e outros gratuitos e voluntários. Depois do almoço, o descanso, à tarde as horas de estudo, das leituras e das escritas. Assim, acabo de ter uma pesquisa publicada e enviei outra para uma revista. A participação no Conselho Estadual de Cultura estimula a dedicação à história da medicina e devo me voltar para escrever um livro sobre o médico de Nassau. Mas isso leva tempo. Que agitação! Um vaivém! Um ramerrame! Uma danação, diria o matuto se assim vivesse!

Surpreendi-me fazendo essas reflexões quando os feriados passaram e as minhas filhas com os meus genros se foram, levando a alegria das convivências parentais. Mal o sábado emergiu decretando o feriadão, já a terça-feira amanhecia trazendo a certeza das vésperas do retorno às atividades laborais. Olhei para cada uma e três filmes se sucederam no meu imaginário, do nascimento aos dias de hoje, da primeira e da segunda, ambas casadas, da terceira também, próxima como está dessa adoção da vida a dois, para cumprir o desiderato bíblico: “Crescei e multiplicai.” Tenho certeza que fiz como o condor: empurrei a cada uma para o primeiro vôo. Uma se vai para Madri, a segunda para o Ceará e a caçula para as Alagoas, parece. Ninguém imagina o que será de um filho aos dez anos de idade! E é isso mesmo! Mas há de se ter coragem para sacudir o filhote e fazê-lo voar!

Estou de volta à sacralidade do condomínio Bosque das Águas de Aldeia, onde agora posso reunir com mais conforto a família inteira. Aqui ouço o trinar madrugador do canário-da-terra, com direito ao corruchiar dos amores externando paixões. Canários abarrancados, como dizia ao mestre Francisco Brennand dia desses, mestre das artes e admirador da beleza dos pássaros. Sento no alpendre de casa e vejo a ventania estimulando o balanço sincrônico das folhas, assisto o saltitar do sabiá-gongá e o cantar melodioso da sabiá-branca. Por cá estão outros também, gente do porte de um Aldo Paes Barreto, que pontifica nos comentários sobre economia ou está um Paulo Caldas, da Bagaço e da Rua dos Arcos, cronista quase bissexto. A cada um posso encontrar, domingo sim e domingo não, na galinha à cabidela que um outro Paulo vem servir.
Vez ou outra coincide avistar na estrada Geraldo Freire na caminhada diária. De nada serve buzinar. Paulo Jardel, raramente o vejo, comprando frutas certa vez ou em sua casa numa visita, quando pude admirar uma coleção de quadros de pintores de Pernambuco. Coleção muito parecida à que deixou meu pai na sala de casa. Mas, sentado à ceia sempre está Alfredo, que faz o seu comércio na Ceasa e curte a paz dos anjos por aqui. Há pouco me comunicou, quase oficialmente, as negociações de Paulo Caldas para trazer Jessier Quirino a esses bosques paridos das intimidades hídricas. Renato Pina anda pra lá e pra cá, mas continua pegado com os começos da Faculdade de Medicina. Gilliat Falbo faz meses não o vejo por cá e Mozart – reitor –, de igual forma. Toda essa gente está em meus entornos a cada final de semana. Até Vizeu vai chegando por aqui! Que seja bem-vindo!

No fim do dia que o trabalhador deveria comemorar, a televisão mostrou os estragos da chuva e o computador expôs novas denúncias de roubo e de fraude. Voltei à realidade das coisas. Nada mudou! Nada muda!
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