domingo, 7 de agosto de 2011

Cavalo velho, capim novo

Se o leitor benevolente gostou da crônica anterior – A Fala do Trono –, há também gostar do que vi de pitoresco em minha viagem ou o que passei de pitoresco durante minha estadia na Cidade Maravilhosa.  É claro que não me admirei com o detector de metal, que em meu embarque disparou e não houve jeito de parar. Essas coisas assim, diferentes, acontecem sempre comigo. O equipamento só deixou de apitar quando tirei o cinturão, manobra que habitualmente só faço no banheiro ou no quarto, trancado em ambos os casos. Mas, no avião notei que um certo casal estava muito animado, a mulher sobretudo, muito falante e carinhosa, alisando o rosto do parceiro por nada. Resolvi passear no corredor da aeronave, para cumprir desiderato médico, e constatei que a penitente era uma amante bem mais nova que o homem, começando o relacionamento e muito feliz por isso. Estavam, portanto, em lua de mel.
Aliás, sobre isso, isto é sobre mulheres e homens, pude constatar um número grande de casais cujas parceiras eram bem mais novas. É que por força do dever conjugal, compareci a vários Shoppings e ficava sentado nos corredores, enquanto a patroa fazia o reconhecimento das vitrines. Realizava assim o que amigo meu denominou de “Observação participante”, quer dizer uma investigação antropológica quando o observador está na cena propriamente. Não é brinquedo o número de parceiros masculinos bem mais velhos que as esposas! Menina de seus 22 anos com velhos de 60 e mais anos de idade. Difícil entender esses casamentos, senão pelo metal, que é vil sempre. Defendem, por certo, a tese do cavalo velho, capim novo.
O mais engraçado, porém, é que tendo ficado em hotel de trânsito militar, a convite de coronel amigo meu, lugar no qual fui extremamente bem tratado, não sabiam bem se me consideravam civil ou se davam tratamento militar. Na dúvida, em certa manhã o recepcionista dirigiu-se ao porteiro dizendo: “Chama um taxi ai para o coronel!”. E ao chegar o veículo o aludido porteiro me convocou assim: “Coronel! Por favor!”. Muito pior foi quando disse ao motorista de um taxi em Copacabana pra onde ia e o homem desejando me dizer alguma coisa que já não lembro: “Coronel! Isto é, Brigadeiro e se justificou dizendo que é melhor errar pra mais, que chamar por patente inferior!”. É isso mesmo, quase digo! No refeitório ou no rancho um senhor muito atencioso levantou-se de seu lugar e disse: “Está lembrado de mim? Fomos contemporâneos na academia!”. Não sou militar, disse-lhe, apertando-lhe a mão em retribuição a tanta atenção. À saída já, depois de ter feito o pagamento, o rapaz da recepção precisou completar uma informação e ai trocou tudo e me chamou assim: "Comandante! Por favor!". Comandante, como aquele amigo meu, que tinha uma tropa de três soldados e eu não resistindo, disse-lhe: "Você é um comandante muito vagabundo!".
Com essa história lembrei de flanelinha das proximidades do Parque da Jaqueira, onde costumo caminhar. Só me tratava por coronel. Ora pau, pensei comigo mesmo, quem inventou que eu sou coronel? Um belo dia, chamei-o de parte e disse: “Olhe, você está me tratando por coronel e os meus subordinados ouviram. Como sou general eles se zangaram!”. E o homem trocou o tratamento. Ai aproveitei para completar o meu trote e à pergunta de onde morava, se perto ou longe, expliquei: “General não mora, acampa!”. E noutra ocasião, à chegada de minha mulher que vinha de uma caminhada, antes de mim, na Jaqueira também, completei a zombaria: “Essa é a major. A conheci no Haiti e estamos juntos desde então!”. Estou me preparando para informá-lo que fui promovido a marechal. Eu sei que não existe mais, porém ele não sabe disso e de outras coisas.

É isso mesmo, na dúvida pró réu, melhor chamar pela patente maior que pela inferior!

(*) Esta é uma crônica que relata apenas o pitoresco em minha viagem ao Rio. Passagens minhas e passagens alheias, coisas de quem sai do Recife e vai ver, com outros olhos, a Cidade Maravilhosa. O leitor que desejar pode comentar o texto aqui mesmo, neste espaço ou escrever para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com O Blog é publicado também no jornal da Besta Fubana.