terça-feira, 1 de março de 2011

Direita Volver

Eu não servi ao Exército, porque era magérrimo, tinha 1m76cm e pesava 49 quilos. O médico me pesou e disse sem pudor: “Pesa o rapaz de costas. Ele tem físico para servir na PE!”. Vi que era piada de mau gosto, mas cumpri a ordem do homem e fiquei de costas. Deu a mesma coisa, completou o enfermeiro. Claro, quase digo! Não disse! Mas quando fiquei na fila de espera aguardando o documento, um companheiro achou de gozar com o recruta que fazia a varredura: “Varre! Galinha verde!” Resultado, todos presos, imagino que por desrespeito à autoridade. Eu tive uma idéia e por mim mesmo abri no choro. O sargento indagou a razão do pranto e eu justifiquei que a minha mãe me esperava e já passava do meio-dia. Todos foram liberados.

Mas, no último ano do curso médico fomos nos apresentar outra vez. A mesma coisa, a fila e um exame de vista feito pela autoridade de plantão: um sargento enfermeiro. Chamaram meu colega de estudos e eu, que levava essas coisas na galhofa, disse: “Tás atolado!”. E o homem de bata branca e calça verde oliva, indagou quem tinha falado. Fui eu, disse de logo. E ele: “Vou lhe dar o certificado porque o senhor não serve para o Exército!”. Eu, calado feito um coco, não disse nem sim nem não. Fui embora com o documento pra casa. Um outro colega, levado a ler umas letras numa tabuleta, indagou: “Que tabuleta?”. Ali, naquela parede! E o concluinte: “Nem a parede eu vejo!”. Saiu dispensado.

Pior quando estava formado já há muitos anos e fui convidado para falar sobre Dengue. Ninguém sabia da virose por aqui, muito menos eu, senão de minhas leituras e do exemplo epidêmico recente em Cuba. Entrei no então quartel general sem sequer me apresentar, de propósito, para fazer uma pegadinha. O sargentão saiu com uma metralhadora correndo atrás de mim: “Ei! Vai pra onde?”. Eu disse que ia, mas tinha desistido, tal os gritos e tal a voracidade do gesto. Metralhadora em punho. Justifiquei que tinha sido convidado para uma palestra, mas que ele, sargento, dissesse ao general que eu tinha desistido. O homem quase cai no chão de tanta angústia. E eu segui meu caminho e falei para um auditório repleto.

O diabo é que a reunião era para oficiais superiores, explicaram, e uma tenente da Marinha tinha comparecido. O major responsável chegou junto de mim e pediu que a retirasse do recinto. Meu senhor, o meu papel aqui é apresentar a doença, cujos detalhes eu sei de leituras, o resto é com o senhor. E ele ficou entufado pra lá sem falar com a moça. Depois fui chamado a um hospital militar para ver um doente vindo da África. Entrei do mesmo jeito, sem me apresentar. O dentista de plantão como oficial de dia, veio gritando atrás de mim: “Vai pra onde? Vai pra onde?”. Não vou, foi o que disse, eu ia, mas o senhor grita tanto que desisti. Foi a mesma coisa, o homem quase se ajoelha para me pedir desculpas. E por ai vai!

Só faltou alguém dizer: “Direita volver!”.