O pai da criança orgulhava-se muito de sua mãe no dia do parto, dizendo que ela vestiu-se com um avental branco e esperou pelo nascimento, tendo a oportunidade de pegar nos braços o neto que aportava nesse mundo de Deus. E com essa avó o menino conviveu muitos anos de sua vida. Tinha 16 anos de idade quando ela se foi. A criança costumava dizer que fora criado com vó e que dessa criação, complementava, só pode dar um menino abestalhado ou um doido e que ele optara pela segunda condição e assim foi o resto da vida. Diziam os mais velhos que o menino fora amamentado no blackout, isto é na escuridão do tempo, porque para que o Recife não fosse bombardeado apagavam-se as luzes todas da cidade. Daí, complementam alguns a admiração do menino pelos seios femininos, pingentes do amor, como ainda hoje chama.
O genitor trabalhava no bairro portuário, em jornal que circulava ao tempo, com o nome de Folha da Manhã, só chegando em casa altas horas da noite. Aliás era comum que os jornalistas de batente voltassem assim tarde da noite, numa época sem Internet e sem outros recursos da modernidade. Era um homem de boa conversa e contava e recontava os fatos do dia. Um desses repito agora. Dizia que era mais de meia-noite e a zona do baixo meretrício fervilhava de gente, quando um padre passou, com sua batina preta, devidamente paramentado para atender a uma mulher que se ultimava numa pensão alegre. Passou, viu o amigo que caminhava de volta à casa e nada disse, simplesmente cumpriu o seu dever.
E o menino era eu. Hoje é o meu aniversário!