domingo, 20 de novembro de 2011

Barbeiros, Sapateiros e Amoladores

O Suplemento dominical do Jornal do Commercio, do Recife, que circula com o nome de Arrecifes, publicou recentemente (20/11/11) interessante matéria da jornalista Luisa Ferreira, intitulada “Herois da Resistência”. Trata de antigos profissionais, comumente encontrados na cidade, até pelo menos os anos 70, pouco mais ou pouco menos, a depender do bairro e das necessidades do cliente. Eram barbeiros, sapateiros, amoladores, lavadeiras, alfaiates e relojoeiros; todos ou quase todos desaparecidos das ruas desta cidade dos rios e das pontes. E é mesmo!
Do barbeiro que comparecia, religiosamente, em casa para cortar o cabelo de meu pai e vez ou outra o meu, lembro muitíssimo bem. Não me ocorre lembrar o seu prenome. Deve ter morrido, porque na esteira do tempo já se vão mais de cinquenta anos. Fazia primeiro o cabelo do velho e em seguida o meu. Como todo barbeiro que se preza, tinha uma prosa magnífica e fiava conversa o tempo todo. Era, funcionário registrado e reconhecido da Galeria Brasil, que se chamara Galeria Ítalo-Brasileira, atacada a pedradas nos anos de guerra.
Depois, passei a cortar cabelo com profissional ancorado na avenida João de  Barros, de nome Hilário, que também fiava conversa da hora de meu sentar na cadeira à  de levantar. Muitos anos depois, já mudado para começos da rua da Hora, me pediu: “Doutor! Preciso fazer uma consulta ao oculista. Estou ficando cego.” Consegui e orientei a criatura a ligar e dizer que era o meu barbeiro. Foi quando comunicou a mudança de sua titulação: “Não sou o seu barbeiro. Sou o seu cabeleireiro.
Era uma figura interessante, porque sendo mulherengo, terminou apaixonando-se pela nora, sendo retribuído por isso, pelo que se amasiou com a penitente. Não sem contar com uma encrenca do cão de seu filho. E é ela quem cuida do homem hoje e de sua visão prejudicada. Agora, em seu lugar, ficou Edson, jovem e competente, que gosta de repetir o que me dizia Hilário sempre que terminava sua missão: “Mais jovem!”. É uma ilusão essa juventude fora de hora! Sônia, sua irmã, me corta as unhas do pé. Marcou comigo o aniversário de 50 anos de um fungo no dedão e se dispõe a preparar os acepipes da festa. Já pensou!
Os sapateiros se foram mesmo e não apenas trocaram o nome da profissão, como os barbeiros. Lembro em minha rua de infância de um desses, Miguel de prenome, que corria de hábito atrás de mim, quando eu saia em disparada, fugindo de casa. Até o dia que explicou a minha mãe: “Senhora! Eu sou sapateiro! Não estou aqui para correr atrás de seu filho!”. Tinha um pouco de sapateiro e um pouco de engraxate. Não vejo mais um nem outro! Só raramente e em certos lugares.
A lavadeira cedeu, mesmo, o lugar à máquina de lavar roupas, hoje computadorizada, a ponto de dispor de várias velocidades mais, de movimentos diferenciados. Não se tem mais em casa o quaradouro, que de madeira ou de cimento, servia também a certos encontros furtivos com as domésticas de casa. Lembranças desses amores periféricos, contados em pormenores ao cura da paróquia ou em detalhes ao jesuíta interessado nesses pecados da carne. Lembranças também de Marinete, mulher barroca, das admirações de meu avô.
Tinha o alfaiate: seu Guerra. Homem pacífico e satisfeito, figura da paz. Como tinha, também, amoladores e relojoeiros, cujos prenomes não lembro. Além do Vassoureiro, nome agora do quadro que recebi de presente da artista plástica Lúcia Pedrosa, pintado à inspiração de uma crônica minha: Os pregões do Recife. Exposto por um mês na Academia Pernambucana de Letras, sob o título geral de: "Pintando a Palavra". Pintores que fizeram criações artísticas baseados na obra de cada um dos acadêmcios.

(*) - Comente no espaço mesmo do Blog ou o faça para os e-mails: pereira.gj@gmail.com ou ainda  Fiz tudo para ilustrar melhor, mas o computador negou-se. Quando a máquina se nega, meu camarada, não há como fazer diferente.pereira@elogica.com.br