sábado, 24 de outubro de 2009

Pedra na Cruz

Há umas coisas que acontecem comigo que eu me surpreenderia muito mais se assim não fosse, francamente. Já estou habituado ao inusitado em minhas idas e vindas aos lugares. O que for diferente, pode acreditar o leitor, foi comigo que sucedeu. Disso não se iluda! Pois é! Fui o ano passado acertar alguns detalhes numa empresa de telefonia móvel e o atencioso atendente, depois que me deu a prioridade da idade, indagou: “O senhor viaja muito, não é?”. Fiquei surpreso e respondi no ato: “Não! Viajo como fazem todos os mortais, vez ou outra!”. Explicou-me, então, que encontrara no sistema – tudo agora é no sistema – duas contas minhas, sendo uma no Paraná e outra mais em São Paulo, ambas consideradas pela companhia e por certo que pelo sistema também, inadimplentes. Ora, meu caro amigo, quase disse, só tenho um telefone celular no Recife e olhe lá, por muito favor, porque me viciei nisso e é prático! Fiz uma carta e resolvi a pendência. Tinham falsificado a minha identidade e o meu CPF. Só me livrarei disso com o número único, imagino!
Noutra ocasião, quase realizo uma compra a prazo, mas a moça que me atendeu, muito reservadamente, cochichou em meu ouvido: “O seu nome está no SPC!”. Ora, minha querida, não devo a ninguém neste mundo de Deus, sequer tenho o costume de me utilizar do crédito, senão raramente. Com a mesma gentileza forneceu a origem de meu débito, dando a cidade e o estado. Em Salvador, na Bahia, alguém com documentos em meu nome, com o meu CPF e mais outros números assemelhados, fez a feira numa loja de móveis. Comprou a sala de jantar e as poltronas do estar, a geladeira e o fogão, a máquina de lavar e tudo o mais que se pode usar em casa. Com a telefonista da aludida casa comercial disse de minha surpresa, limitando-se ela a me solicitar explicações por escrito, passadas por Fax. Ora, eu não tenho esse mágico aparelho da modernidade, que tanta admiração causou a meu pai, em seus derradeiros momentos, porém a pequeno custo passei a missiva na agência dos correios e o caso foi resolvido.
Hoje, em outra empresa de telefonia móvel, comecei a negociar um moden com a denominação de 3G. Um recurso novo no acesso, uma forma de abandonar velhas formas de ingresso na Internet, cujos inícios passavam pela forma discada de navegar na grande rede. Na hora de cumprir com a retribuição pecuniária, fui novamente informado de que tinha naquela empresa nada mais nada menos que quatro linhas, sendo duas canceladas e mais duas pendentes e inadimplentes. Ora pau, por pouco não disse, vou terminar entrando no livro dos recordes com tanta fraude em meu nome. Indaguei a uns e a outros como explicar essas falsificações, essa má fé consubstanciada. Explicaram-me que com frequência nos hotéis copiam os documentos e dessa forma passam a atuar, livremente, no comércio e nos serviços. Veja só o leitor! Não sou de muita viagem e tampouco de muitas acomodações assim, na chamada rede hoteleira, mas devo ter sido sorteado nessa coisa dos horrores.
Talvez, não custe a quem me lê com tanta paciência, procurar se eu não atirei uma pedra na cruz? Encontrando o petardo, não esqueça de me alertar para o fato.




(*) – Uma crônica irônica com os meus desassossegos nos negócios, nas compras sobretudo. Com satisfação ofereço o texto ao nobre casal que em Aldeia, tantas vezes, nos tem feito companhia: Fátima e Roustaing. Ele orientador nessas questões do 3G, mas sobretudo um perito policial capaz de elucidar tanta coisa errada em meu nome. Comente o leitor, por favor e obséquio, no espaço mesmo do Blog ou para os e-mails: pereira@elogica.com.br ou pereira.gj@gmail.com

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Uma Sociologia do Parque

Nos outroras da vida, confirme o leitor se quiser, o lema era outro, bem distinto das atualidades correntes. Saúde e gordura, dizia-se o tempo todo, associando-se, então, a higidez com a adiposidade. Quanto mais dobras se tivesse, melhor seria! Até a mulher dos antanhos caprichava nas celulites e noutros qualificativos resultantes dos excessos alimentares, exibindo as formas nas enormidades do corpo. Tres delas que conheci, irmãs de sangue, receberam da irreverente rapaziada, hoje prateando as têmporas, o apelido coletivo de albacoras, tal o volume que ostentavam, observadas individualmente. Eram, todavia, disputadas pela gente do bairro e admiradas com olhos pidões pelos meninos impúberes, naquele desfilar, de idas e de vindas ao parque ou à Festa da Mocidade. Amigo meu, muitas vezes citado por cá, sonhava com elas em grandes mergulhos nos oceanos das paixões irresistíveis!
Hoje não, há um culto ao corpo e a malhação tomou conta dos jovens, dos amadurecidos no carbureto dos anos e dos incluidos, agora, na chamada terceira idade, às vezes até terceirizados, pra usar o linguajar da pós-modernidade. Nos ambientes abertos, pra tanto preparados, anda-se, loucamente, corre-se ou pratica-se a ginástica das perdas de calóricos e bem degustados manjares. No Parque da Jaqueira, por exemplo, há um batalhão de pessoas caminhado pela pista de Cooper, no sentido anti-horário, a maioria, como se estivessem, também, contestanto o passado e do jeito que segue o relógio, poucos, rigorosos com os princípios e os tempos, imagina-se. Faz gosto reparar nos trajes e prestar atenção às conversas ou entender sentimentos expostos, naquele ponto verde que se insere na selva de pedra do Recife.
Descubro que sou, na verdade, o mais desengonçado dos andarilhos, pois que a bermuda e a camisa, como as meias e os tênis, nada têm em comum, não combinam, enfim, diferente do companheiro - sem alusão a partido político - apressado, à minha frente. Todos, então, vestem-se a caráter nesses dias de inverno emergente, ostentando grifes e marcas que não conheço. As senhoras, pior, capricham no visual e são no Parque, ao que parece, representantes, as mais elegantes, da finura provinciana. Dia desses, galega oxigenada, embora bonita, usava uma blusa marrom claro e uma bermuda da mesma cor, escura, porém, fazendo o gênero tom sobre tom. A loira de preto passa-me um rabo-de-olho, de soslaio. Não ligo! Considera-me um intruso, com certeza, posto, assim, no seio da elite. Como estava usando camisa com inscrição muito apropriada à reação - “Nào adianta me seqüestrar. Sou professor.”-, presente, aliás, de meu ilustre amigo Edir Carneiro Leão, que vem se especializando em convívios, desprezo o imaginário e sigo a seta, contando metros e quilômetros.
A mulher, quase ariana, que anda com o marido e os filhos, tem um quadril enorme, à moda das cadeiras, como se dizia dantes, em alusão às partes femininas protundentes, mas não inteiramente pudendas. Por certo, traz nas veias sangue d’África! A outra, na contramão, tem os cones lácteos balouçantes e extremamente volumosos, como se fossem grandes bolas prestes a vencerem a resistência da intimidade da centenária peça: o “soutien”. O barbudo cinqüentão anda de mãos dadas com moça de morenidade “Gilberteana” à mostra, a tirar pelas pernas que exibe e pela cintura pélvica que movimenta, na casa dos vinte. À saída, não resiste ao coco, mas atende o marido e se resguarda no carro, esperando a água e a polpa, abrigada de possíveis flechadas de cupidos ocasionais. Não sabe o colega de pista o trabalho que dá sustentar ligação assim, de muitos anos contados na diferença dos conjuges. Vai ter que freqüentar as discotecas todas da vida e rebolar o corpo cansado, já, no merengue da esquina. E com esse ciume todo, piorou! Quietinha no automóvel sorveu o líquido mágico, pediu uma laranja e sumiu, como todos os outros do parque, por um dia, apenas. Depois da caminhada, a parada obrigatória no estabelecimento do “Baixinho”, uma carroça, na verdade, com laranjas mimo e exemplares do fruto com o sobrenome de outro, a pêra. Ele e a mulher atendem à clientela com presteza, descascando e cortando, recebendo o Real e fazendo projetos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Voo da Águia

Essa tarde quase não dormi. Pensei que teria um sono reparador, mais longo que o habitual dos meus dias, mas não tive. Você vai embora! De vez! É perto! Mas é longe! Assisti, na verdade, madornando na cama, a um filme muito longo, o de toda a sua vida a meu lado, desde aquele dia do primeiro choro, em Casa Amarela, onde, aliás, por coincidência, mora agora. Fui ao barbeiro e contei a história. Uma filha se fora, casara na Espanha de todas as monarquias e outra se ia agora, para Fortaleza, um perto, distante.

O rapaz, novo, muito novo, solteiro e sem filhos, querendo aliviar, indagou: “O senhor conhece a vida da águia?” Ele mesmo deu a resposta: “O pássaro segura o filhote pelo bico, voa para o alto de um penhasco e dali larga o bichinho! Se ele alçar voo vai embora, em busca de outras terras! Se não consegue, a mãe novamente o segura pelo bico!”. E complementando finalizou o seu falar: “Dr. Geraldo! Nós criamos os filhos para o mundo! É sempre assim!”. Suaviza, mitiga, mas não consola!

Lembrei do dia em que você nasceu, da hora do parto e de seu choro fraquinho de quem não tinha completado o tempo da barriga. Nascera para facilitar as férias do médico, numa sexta-feira, depois das 8 horas da manhã. Que horror! Tive saudades da hora em que lhe vi pela vez primeira, tão frágil e tão dependente. Fui com você para a incubadora, fiquei do lado de fora olhando, olhando, com vontade de entrar e lhe pegar, de lhe tocar, enfim, para confirmar se tudo estava certinho, direitinho. Tive dúvidas diante da debilidade de seu pranto. Chamei outras pessoas, outros médicos e outros “eus”, contanto que constatasse que tudo estava bem, você normal, direitinha em seu cantinho. Depois, a icterícia da prematuridade, uma lâmpada fluorescente forte e você novamente certinha.

Os anos se passaram e junto com suas irmãs, brincando tantas vezes e brigando outras tantas, faziam da casa uma alegria só, uma algazarra, um vaivem de gente; gente que entrava e gente que saia. Gente que cresceu e se tornou grande, adulta ou gente que se foi, encantada no infinito das coisas. O colégio pela manhã, o balé e o inglês de todas as tardes, eu acima e eu abaixo, uma aqui e outra acolá. Meninas sentadas e acomodadas no banco de trás, meninas brincando e meninas brigando. Era a vida, o Radier, o Nóbrega e a Faculdade. A rua das Pernambucanas com o Studio de Danças e aqui, bem pertinho de casa agora, numa esquina, as aulas de línguas. Que beleza! "Eu era feliz/E não sabia", diz o poeta musicando a voz.

Mas, é hora de voar, de se soltar do bico da grande águia e bater asas mundo afora. Ver outras e novas paragens, construir um ninho que será um novo ninho e repetir o ciclo da vida, fazendo girar a grande roda do carrossel da existência. Nesse carrossel uns chegam e são acolhidos, outros caem e são desprezados. É chegado o momento de um novo acolher das coisas. O seu marido vai porque é competente e competência é a moeda do tempo futuro, da modernidade e da globalização. Siga os passos dele e assista o seu progresso. Cada um dos êxitos dele há de ser, também, um êxito seu e nosso, particularmente. Quando quiser e quando puder volte, venha rever o ninho antigo. Por cá estão os dois responsáveis por sua emergência neste mundo de Deus. Teremos sempre uma palavra, um gesto, um afeto ou um afago.

A casa é sua! E a casa é dele!




Seu Pai

(*) - Revendo os meus alfarrábios agora virtuais, encontrei esta crônica escrita com o coração e guardada com a força da alma. Estava assim, arquivada, faz uns três anos, se pouco, e eu a forjei na tarde que antecedia a partida de minha filha Patrícia para o Ceará. Agora, bem adaptada a Fortaleza, em paz com o marido, Cláudio de prenome e vivendo a tranquilidade da hora, decidi publicar. O faço com a certeza de que por cá, por casa, para ser mais explícito, fizemos certo, largamos a jovem águia no desfiladeiro da vida e a vimos voar, planar sobre as montanhas da existência. Desejando comentar, utilize-se do espaço do Blog ou escreva para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Histórias da Vovozinha

A minha avó tinha um biótipo apropriado à prática da condição de mãe duas vezes. Era gorda – enorme de gorda –, com os cabelos grandes, mas tão grandes que exigiam duas empregadas para serem penteados e era portadora de catarata, cuja cirurgia, ao tempo, não se fazia como hoje, de forma simples e corriqueira. Mas era uma pessoa ótima, dispensando-me um tratamento especial, chamando-me, como me chamava, de Geraldinho. Veja só o leitor! Sentava horas seguidas a contar histórias; histórias que trazia de seu tempo no interior do Rio Grande do Norte, na cidade do Ceará – Mirim. Vez ou outra misturava as fábulas e as lendas com a realidade nua e crua da seca de 77. Esse foi um período de muito sofrimento no Nordeste. Era um horror ouvir essa conversa de tanto padecer, anos depois!
Tinha predileção especial pelo relato fabular de um certo drama familiar, da morte de uma mãe e o terror da madrasta que assumira essa posição parental. A filha, de tanto ser maltratada e perseguida por ela, termina enterrada no jardim, de onde canta: "Jardineiro de meu pai /Não me corte os meus cabelos,/ Minha mãe me penteou, minha madrasta me enterrou, /Pelos figos da figueira que o passarinho bicou. /Xô passarinho, xô passarinho, da figueira de meu pai.". E o jardineiro ouvindo essa toada convocou o pai da criatura e assim tiraram a moça, salvando-lhe a vida. E a madrasta ruim foi mandada embora. Encontrei a história por inteira na Internet, mostrando que a rede virtual é muito mais do que se pensa.
O quase conto de minha infância perdeu o sentido no mundo atual. A madrasta não é mais, como fora, substituta da mãe desaparecida para sempre. Agora, os casais se separam com uma frequência inusitada, razão para se ter outras formas de parcerias conjugais. A família mudou, há novas mães e novos pais, filhos e enteados. Sendo assim, por vezes a constelação parental cresce, fica enorme, com mulher e ex-mulher, marido e ex-marido, filhos de um e filhos de outro. Todos num grande convívio. Tudo isso sem falar de avós e avôs. E a figura má, odienta, da madrasta desapareceu no tempo e no espaço. Já nem acho mais graça nas cerimônias de casamento, porque penso, no mais das vezes, que de pouco serve a benção do sacerdote, os acepipes da recepção, igualmente, de nada adiantam, o destino é o mesmo: separam-se. Não há mais a família de saltimbancos de Picasso.
Uma outra história do fabulário em geral, é aquela da formiga e da cigarra. A primeira guardando o que podia para os dias de falta, para o inverno, sobretudo e a outra sem se incomodar com o porvir das coisas, cantando e se deleitando com a melodia. Até que a carência alimentar se instala e a precavida formiga tem que atender aos reclamos da desesperada cigarra. A narrativa tinha a valia de lembrar à criançada a importância da economia. Por isso recebi de minha mãe um cofre de metal polido com a inscrição: “A economia é a base da prosperidade”. Não consegui ser rico – não desejo isso -, mas tenho sido ao longo da vida contido com os meus recursos financeiros, parcos sempre. Nego-me a gastar por consumo apenas, sou daqueles que calculam o benefício de um bem.
Bom! Entrou por uma perna de pinto, saiu por uma perna de pato, senhor rei mandou dizer que contasse cinco.
(*) - Crônica de uma semana que vai findando e contabilizando atividades mil; atividades de lançamento de meu livro e atividades do centenário de meu pai. Estou, verdadeiramente, em pandarecos. Acordei antes das galinhas e antes que o galo anunciasse a finitude da madrugada ou o nascer do sol. Vou, como disse o poeta, "Danado pra Catende/Com vontade de chegar..." Isto é, para Aldeia. O texto vai oferecido a minha prima Luciana, avó e contadora de histórias infantis. Comente no espaço do Blog ou para pereira@elogica.com.br ou ainda para pereira.gj@gmail.com

domingo, 4 de outubro de 2009

Pássaro Triste

Era um homem de meia idade, todo vestido de branco, parecia um médico, até o sapato tinha a mesma cor, a da camisa e a da calça, chegou no boxe do queijo e pediu: “Um queijo de coalho com sal, velho e curtido”. O vendedor e imagino que dono do estabelecimento comercial, respondeu sem mais delongas: “Só tenho queijo novo”. Ficou resmungando dois ou três minutos: “Cada qual com sua mania”. Ora, comprasse o produto ainda novo, levasse pra casa e deixasse ao sol, assim curtiria o queijo e comeria a seu gosto, complementou, na ranzinzice de seu gênio. Mas, não fui ao mercado público para chafurdar a vida alheia, tinha ido – isso sim! – comprar a cabidela do almoço e trouxe pra casa um frango grande, pesado e com aparência de macio, que alimentou a família inteira. Pedi uma galinha caipira, da qual gosto que me enrosco, mas não havia. Tinha uma matriz, enorme e dura. Uma ave com jeito de mulher, tal a aparência ou tal a feminilidade.
Aprecio o ambiente do mercado e vez ou outra tomo por lá um café da manhã, a titulo de desjejum, no qual vem a macaxeira cozida, fumaçando e a carne boi cozida. Pode-se escolher, à vontade do freguês, a charque ou a carne de sol, o cuscuz ou o cará. Sentado à mesa compreendo um pouco do tudo que se passa por ali. O papel do vagabundo que se levanta logo cedo do banco da praça e lava a boca na torneira de uso comum, toma os primeiros goles d’água e vai degustar a lapada inicial do dia, a aguardente pura, da qual tira a parte do santo, como se santo bebesse. No banco do balcão do restaurante, tosco e rude, conta o que pôde amealhar no ontem dos tempos e pede um café, também, até onde pode com suas economias de um cotidiano ameaçado. Volta à praça e vai preencher com o nada das coisas a sua manhã e a sua tarde, pra novamente deitar-se no banco de madeira dura.
Alguns conhecidos e muitos desconhecidos fazem a feira das verduras e das frutas, o sábado tem essa cara. A do tomate e a da cenoura, a do chuchu e a do maxixe, a do jerimum e a do quiabo. O feijão verde debulhado na hora serve de complemento à galinha de cabidela, a manga adorna o prato e faz a festa, o suco e o degustar solene da polpa que mancha de amarelo a boca do penitente e deixa tingidas as mãos e as unhas. Para terminar tudo, só um doce de goiaba em barra, desses crocantes, bem açucarados; doce de goiaba em barra com farinha do pote, branquinha, branquinha. Tudo isso me agrada porque desde muito cedo ia à feira de Santo Amaro das Salinas com a minha mãe, voltando com o homem do balaio, cognominado pelo meu pai de “Pássaro Triste”, pelo semblante inocente e amargo da criatura. Eu andava barraca por barraca, apreciando de um tudo e parava naquela dos carrinhos de madeira, admirando o artesanato que tanto me encantava.
Nunca mais encontrei uma feira assim, com aquela barraca de miudezas, na qual se via dependurado o rapa-coco e a grelha, o vasculhador e o espanador. Em cujas prateleiras estavam bem acondicionados carrinhos de madeira bem cuidados, caminhões acabados com o flandre dos contornos e até ônibus, sopas à época que transportavam gente e bicho, bicho e gente.
(*) - Crônica de meu domingo em paz, do dia de meu aniversário (4 de outubro), com poucos telefonemas e muitos abraços. O texto vai oferecido a Paulo Jardel, a Ricardo Moreira e a João Trindade, bons amigos de meus dias: irmãos/camaradas.