segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Colega lisboeta

Cada vez eu fico mais admirado com o inusitado das coisas que me acontecem. Imagine o leitor que na sexta-feira passada precisei comparecer a uma agência do Banco do Brasil para comunicar que estava vivo e assim continuar a receber a minha aposentadoria regularmente. Cheguei por lá mais ou menos às 15:30 e quando recebi a ficha havia a consoante “R”. Não me surpreendi quando o moço do banco me alertou que estava errada. Eu deveria ter recebido a letra “V”. Não achei, em momento algum, que fosse alguma coisa ligada à palavra velho e não era. Mas, com isso perdi muito tempo, isto é, migrando de uma letra a outra.
Mas, interessante mesmo foi sair dali para a Praça de Casa Forte, domínios do Padre Edwaldo Gomes e ser recebido por um lavador de carros numa quase falência pessoal. Queixou-se tanto das coisas que dei a ele a importância de R$ 10,00. O homem quase cai pra trás de tanta gratidão e no final saiu-se com essa: “Deus lhe dê a vida eterna!”. Ora pau, quase digo, quem merece esse desejo, dito assim, tão francamente, é quem já morreu. Deveria ser dito por um sacerdote, diante do féretro instituído. Não sei se o penitente, sendo do entorno da moradia do cura não está habituado ao linguajar. A verdade é que sai dali meio cabreiro.
Eu estou acostumado a ouvir dos meus circunstantes: “Geraldo! Como está você? Vai bem?”. Isso de uma forma insistente, como se pudessem ouvir uma notícia ruim. Dia desses uma senhora muito distinta me abordou e fez a indagação: “Prof. Geraldo? Como vai o senhor? O senhor está bem?”. Fico pensando que alguns pensam que estou à beira da morte. Cruel isso! Talvez seja porque eu passei momentos de grande dificuldade por seis meses. Realmente, em 2005, fraturei duas vértebras torácicas e fiquei baixinho, troncho e corcunda. Mas, acordei para a vida e tenho aproveitado, da melhor forma, a segunda chance que Deus me deu.
É uma pena que seja necessário sofrer tanto para abrir os olhos! Acontece isso com muitos. Mas, foi assim! Depois do episódio, publiquei pelo menos 4 livros, passei a me ocupar com diversos estudos, sobretudo aqueles da história; da história da medicina em Pernambuco. E sobre essas questões publiquei diversos trabalhos científicos. Mas, nessa trajetória de meus horrores houve, como sempre acontece, o pitoresco, o cômico seguindo a tragédia. Veja só! Numa dessas vezes, estando eu internado e precisando fazer um eco-cardiograma, fui levado numa ambulância, a qual apenas circulou o prédio do hospital. Mas no meu juízo a trajetória tinha sido grande e eu achava que desembarcara em Lisboa. Sendo assim, disse ao médico:
- Colega lisboeta! Como me explica que tendo embarcado no Recife, nordeste do Brasil, tenha chegado tão rapidamente a Portugal? Afinal, Pedro Álvares Cabral levou meses para fazer a travessia.
E o médico, muito assustado, respondia repetindo: “Pergunte a seu médico! Pergunte a seu médico”.
Ocorrência muito pior foi aquela que sucedeu quando minha mulher chegou para dormir comigo e indagou:
- Como está você? Está com um jeito diferente?
- É! Você foi à Rede Globo, ao programa de Ana Maria Braga, lançou um livro e não me disse nada. Gostei do título, mas do conteúdo não tenho noticias. 
E ela me disse que passou a tarde toda trabalhando, mas queria saber do título, porque assim poderia escrever um livro. Não lembrei mais nunca desse título.



Entrou por uma perna de pinto, saiu por uma de pato, senhor rei mandou dizer que contasse quarto.