quarta-feira, 9 de abril de 2014

O despertar precoce

Quem dorme mal, como eu, passa por maus momentos. Depois de mais uma noite de insônia, não há como resistir a um sono durante o dia. Sendo assim, é praxe dizer a secretária de assuntos domésticos que não acorde e informe ao interlocutor de ocasião, que por acaso ligar, que não estou: “Saiu e não levou o celular!”. Isso quase não adianta, porque ela não diz e adianta que estou dormindo. Às vezes nem estou, porque não é fácil pegar no sono a qualquer momento do dia. E o pior, quando a pessoa volta a ligar, ainda faz uma referência irônica: “Vida boa! Dormindo pela manhã!”. O meu pai, portador, também, de uma insônia brutal, não suportava essa informação de que dormia em plena manhã.
Desde os meus 15 anos de idade que não sei direito o que é sono. Já fiz de tudo, inventei meizinhas e tomei remédios, uns fortes e outros fracos e nada. O que eu tenho é a insônia do despertar precoce, levanto da cama, chova ou faça sol, com os albores da manhã. Coisa de 5 ou 6 horas saio do quarto e vou tomar café. Ouço, quando estou em Aldeia, a sabiá cantando e ai me jogo do leito conjugal e desperto. É tiro e queda! No Recife, há um pássaro que canta com os primeiros raios de sol, não sei, exatamente, a espécie ou o detalhe. E olhe que conheço bem as aves nativas. Esse pássaro que canta ao raiar do dia aqui na Tamarineira, sequer desconfio do nome. Mas, é isso mesmo! 
De uns anos pra cá desisti do aparente humor que cerca o insone e o faz crer que despertar e se postar diante do computador, escrevendo ou não, há de aproveitar melhor o tempo perdido. Não levanto mais de forma alguma, prefiro rolar na cama, pra lá e pra cá, até descortinar os primeiros sinais de que a madrugada vai se esvaindo. Até já comprei um colchão desses largos que não se abalam com os movimentos do cônjuge insone. E vou levando a vida assim, uma noite consigo dormir melhor e na outra vejo o dia raiar. Que inveja dos que dormem. Conheço gente que a mulher chega a dizer: “Esse ai! É deitar na cama e adormecer! Só levanta no outro dia pela manhã!”. Benza Deus, digo sempre com os meus botões. 
Na verdade – já disse isso por aqui –, sou de família insone. A minha avó paterna não dormia hora nenhuma. Tomava um remédio da época, que se dizia ser muito bom, mas nunca conseguiu bons resultados com essa droga; muito pior que os hipnóticos de hoje. Foi essa avó que tomava injeções enviadas da Suíça, da clínica de Dra. Aslan. Nunca esqueci isso, porque vinham acondicionadas em caixinhas de madeira que eram verdadeiros bibelôs. Uma tia, filha dessa avó, também não dormia. Dava até pena vê-la pelo meio da casa caçando o sono. A mesma coisa: insônia do despertar precoce. 
Na Internet existem Blogs dedicados à insônia e relatos de grandes e notáveis insones. José Wilker um desses, que se especializou em assistir pregações religiosas e canais de vendas nas diversas redes de televisão, tanto é que tinha uma quantidade grande de tralhas compradas dessa forma, em seus períodos noturnos.
 
Agora mesmo estou lombado, depois de ter visto o sol raiar mais uma vez. Mas, a esperança é a de dormir na próxima noite. É sempre assim! Noite sim e noite não!