sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mais Picaresco que Pitoresco

Eu noto que a temática em torno do telefone agrada e estimula a resposta, senão no mesmo diapasão, em diferentes tônicas da abordagem. Por isso, vou contar por cá duas histórias dos meus diletos leitores. Não sem antes dizer de uma certa ligação que recebi em sábado pela manhã, estando eu na varanda do apartamento tomando um fresco, como se dizia no outrora do tempo. Atendi o celular sem atentar para o número que chamava e o diálogo teve início. O meu interlocutor dizia que eu tinha sido indicado para receber uma medalha de honra ao mérito e ele me telefonava para discutir detalhes da entrega. Confesso ao amigo leitor que, de começo, fiquei lisonjeado, cheguei a dizer que não merecia tanto, coisas da modéstia, falsa modéstica de quem se julga merecedor dos encômios todos. Veja só o leitor!

Mas, chamou a atenção o fato de que o homem indagava seguidamente: “Como o senhor deseja receber?”. Achei que a organização que me distinguira, é que deveria decidir sobre a entrega. Chamou ainda mais a atenção ouvir desse figurante inesperado o seguinte: “Quer que vá levar em sua casa?”. Ora, foi demais! Receber uma medalha em casa? Mesmo sendo, como era, uma associação de bairro, não seria da formalidade protocolar, imagino, fazer essa outorga a domicílio. Concordei com a entrega, marcando-a para a quarta-feira, porque teria tempo de pensar e refletir sobre as coisas daí por diante. O número ficou registrado pelo celular e quase ao meio-dia resolvi telefonar, para saber de onde falava aquele misterioso figurante de meu sábado. Liguei, atendeu uma outra pessoa. E eu, com a inocência dos curiosos: “De onde fala?”. E a resposta: “Olhe, meu senhor! Eu ia passando, vi o orelhão tocando aqui na avenida Conde da Boa Vista e atendi!”. Muito bem, quase digo! Não precisa explicar mais nada.

O homem na quarta-feira chegou ao prédio, falou com o porteiro e eu recebi o aviso de sua presença. Mandei que aguardasse no hall e desci. Sentei com ele em sofá bem posto à entrada de meu edifício e indaguei as razões da escolha. O penitente, vestido a caráter, de paletó e gravata – eu de bermuda –, teceu os maiores elogios que já ouvira, alguns dos quais nunca me foram ditos, como aquele: “...prestou inestimáveis serviços a Pernambuco!”. Eu até que prestei mesmo, mas inestimáveis, francamente, não! Nessa cerimônia quase doméstica me deu um diploma, um relógio Mido falsificado e finalmente a bendita medalha, de pé, como se estivesse num palco. Ao final, abriu um livro de ouro e me pediu que o assinasse. Passei uma vista d’olhos e só encontrei gente grande, fazendo doações entre R$ 500,00 e R$ 1.000,00. Fui precavido e disse: “Sou assalariado e não poderei lhe doar mais que R$ 50,00. Ele ai arranjou uma brecha entre dois nomes, no meio do livro, acolhendo a minha assinatura e embolsando o dinheiro. Ainda pediu duas indicações e eu decidi preservar os amigos, a ninguém recomendei.

Mas o tema, já disse antes, chama a atenção e desperta o interesse do leitor. Como aquele, velho amigo, que me escreveu e disse das lembranças que tivera de seu pai, um afinador de pianos, com quem viajava para visitas às cidades do interior, nas quais existiam instrumentos assim, muito apropriados ao estudo de mocinhas em flor. E era por lá, numa dessas cidades interioranas, a já progressiva Nazaré da Mata, berço de Mauro Mota, que o genitor, ao final da labuta, se utilizava de um velho equipamento telefônico com uma manivela. Admirava-se o então menino com as vezes em que o pai movimentava o veio, para depois falar e pedir um carro de aluguel. E em cinco minutos o veículo chegava, numa prontidão que os nossos taxis não conseguem alcançar. E o trote de que fala o meu ilustre amigo, escritor e editor, que tendo ligado para a Casa Dako, onde vendiam fogões de inox e foi direto ao assunto: “Penico de barro enferruja?”. Ouviu todos os impropérios do mundo”! Era assim mesmo!

E por fim, uma leitora que pediu para citar o seu nome: Juliana Moroni! É que a figura esteve morando na China, onde, aliás, o meu Blog foi bloqueado, por utilizar-se de palavras inadequadas, chulas, cuidava em ligar pra minha casa pelo computador, usando um programa com o nome de Skype. Às vezes – só às vezes – enchia um pouco o saco, falando das coisas lá do Oriente e eu nunca descuidei: “Juliana! Vá pra China!”. Mas Foi, justamente, ela quem me comunicou o bloqueio e o leitor pode conferir, há 25 acessos daquele país agora em franco desenvolvimento. Era ela quem visitava o espaço, até que um dia escrevi a crônica “Bunda em Japonês” e os homens do governo ignoraram a minha intenção em contar o picaresco, mais do que o apenas pitoresco.
(*) - É o telefone ainda, neste espaço virtual, fazendo o sucesso que a comunicação permite ou que o diálogo deixa passar. Comentários são sempre bem-vindos. Escreva no espaço mesmo do Blog ou use os e-mails: pereira@elogica.com.br ou pereira.gj@gmail.com